No Tempo Certo

Capítulo 29 - Tudo ficaria bem

O senhor de cabelos grisalhos atrás da mesa de vidro, analisava o meu currículo, mas ficou curioso em saber de minha breve passagem pelo mesmo hospital há quase dois anos atrás. Segundo ele, havia informações sobre como eu havia sido uma boa profissional na instituição, porém depois de um certo tempo haviam me afastado com problemas psicológicos.

Eu já ia agradecer por receber mais um "não" diante de um pedido de emprego, quando o Doutor Jorge me revelou ser o tio de Felipe, dizendo se lembrar de alguns fatos que ocorreram entre seu sobrinho e eu, na época em trabalhávamos juntos no hospital.

– Sônia fala muito bem de você até hoje – Jorge me surpreendeu – ela insiste na ideia de que Felipe deveria ter ficado com você.

Eu sorri meio sem jeito e fiquei com o coração mais esperançoso ao ouvi-lo.

– Eu também sinto falta dela, fizemos uma boa amizade, mesmo em tempos difíceis – eu disse o que realmente sentia pela minha quase sogra.

Jorge pensou um pouco e depois perguntou se algo do passado ainda me afetava ao ponto de prejudicar na minha dedicação ao trabalho.

– De forma nenhuma – eu menti – saí do país justamente para investir em minha profissão e não deixar que nada mais me prejudicasse profissionalmente – eu tentei me mostrar positiva.

Jorge revelou que de todas as candidatas do processo seletivo, a única que ele pediu para conversar em particular, havia sido eu, segundo ele por questões de afeto, dizendo até que eu sou bastante lembrada por todos da família por causa da minha dedicação quando Felipe mais precisou de ajuda. Eu fiquei emocionada e agradecida pelo reconhecimento deles.

Jorge esperou que eu enxugasse as minhas lágrimas e apertou minha mão dizendo que não conhecia pessoa mais qualificada para o cargo de enfermeira chefe do que eu entre todas as candidatas. A vaga a princípio era de enfermeira para posto de enfermagem, porém ele já estava decidido previamente que eu ocuparia o cargo de chefia das unidades de enfermagem do hospital.

Eu me recompus diante do médico diretor e passei a impressão de confiança ao me despedir dele. Mas, quando eu cheguei na rua, pulava e gritava parecendo que havia ganhado na loteria.

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Os dias se passaram e minha estreia novamente no mesmo hospital de antes, foi tranquila e o trabalho me trouxe muitas responsabilidades, além de distração para eu esquecer a frustração que teria sido a minha vida mais recente.

Toda a parte clínica relacionados aos pacientes era endereçada a mim e eu também teria que resolver questões relacionadas a equipe de enfermagem.

Eu estava tão empenhada em trabalhar que se acaso Felipe passasse por mim pelos corredores do hospital, talvez eu nem o tivesse notado. Com exceção da vez que me chamaram em um dia de folga para cobrir uma enfermeira da noite na UTI Coronária.

Eu estava distraída colocando em dia alguns relatórios, quando Felipe chegou e ficou parado diante da divisão de vidro dos setores, me encarando. Ele olhava sem disfarçar para meus cabelos curtos, o que me fez receber uma descarga elétrica no coração.