Capítulo 20 - Aonde está você, agora?

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Felipe

- Beth, não me esconda nada - eu encarei a amiga da minha ex-esposa - e você está me devendo essa - joguei, a lembrando que havia pedido a administração do hospital que não a demitisse pelos fatos ocorridos.

Elizabeth instalou os soros com minha medicação e se sentou ao lado do meu leito.

- Laysa está em uma clínica de recuperação.

- É o que? - eu a interrompi.

- Eu te peço que não se altere ou então, eu não vou poder dizer nada - Beth ameaçou - a sua família deixou bem claro para não o estressar durante a sua recuperação.

Eu respirei fundo e pedi para que ela continuasse.

A enfermeira voltou as suas cores normais depois da face corada e me contou que Laysa estava ficando perturbada com tudo o que lhe andava acontecendo recentemente e não estava cuidando dela mesma, guardando sua atenção exclusiva para cuidar de mim.

E como ela também precisava de cuidados por causa de sua recuperação de tudo que havia sofrido pelas mãos de Adriane, foi preciso pedir ao irmão dela, o Jonathan, uma autorização para que a família Ferraz viesse a interná-la em uma clínica particular até que ela ficasse bem.

- Mas, por que não a deixaram aqui no hospital? - questionei-a diante da dúvida.

- Laysa também não aceitava a sua condição mental porque ela já estava surtando, dizendo que o via fora do seu leito em outros espaços do hospital e afirmava que estaria dialogando com você, enquanto estava em coma - Beth me encarou com os olhos arregalados - ela, de sua ajudante, havia se tornado uma ameaça a sua vida e a vida dela.

Eu engoli em seco e me doía só de pensar o quanto Laysa estaria sofrendo.

Elizabeth se entristeceu ao ver minha reação, diante das notícias do meu amor.

- Olha, Felipe. Catarina esteve com ela essa semana e reparou que Laysa já estava estranhando as visões que estava tendo e até percebeu que o funcionário da clínica não era você cuidando dela. Quem sabe pode ser sinal de melhora? - Beth pareceu estar convicta do que dizia.

- Eu precisava vê-la, quem sabe assim ela voltaria a si - eu disse com a voz fraca.

Elizabeth suspirou e saindo de perto de Felipe, falou que a parte dela já havia sido feita.

🍁

Na mesma tarde daquele cansativo dia de internação, eu comecei a brincar com a aliança que Laysa havia colocado em meu dedo anelar e até imaginava o que ela dizia quando o fez.

Naquele momento o meu amor precisaria da minha ajuda e eu fiquei ainda mais ansioso para me recuperar e sair do hospital o quanto antes para resgatá-la.

Eu sou muito grato ao meu tratamento no hospital, porém não vejo a hora de receber alta. O Dr. Guilherme, Gustavo, Rafael e até mesmo Beth não me deixavam faltar nada.

Eu me esforçava o máximo que poderia para que as sequelas do acidente fossem as menores possíveis.

Após alguns treinamentos com o fisioterapeuta Thiago e com muita dificuldade consegui me levantar, colocando-me sobre meus pés com apoio, depois de meses deitado naquele leito de UTI.

- Você já está ótimo, irmão - Felipe apareceu em uma de minhas cessões para assistir minha reabilitação.

Eu sorri quando ele disse que já poderíamos voltar para o nosso futebol e em seguida disse que contaria para todos da família, o que havia presenciado naquela tarde. Nós nos emocionamos com tamanha vitória.

Vez ou outra, meu olhar ficava perdido e pensava no que houve de fato no dia do meu acidente. Eu me lembrava de olhar para o pequeno embrulho no banco carona do carro, porque eu não via a hora de entregá-lo a Laysa.

Quando me voltei para minha frente na direção do carro, eu vi uma carreta atravessada na pista, mas pelo que disseram, foi minha sorte ter saído daquela rodovia, caso contrário teria morrido como as outras vítimas envolvidas no mesmo acidante.

Thiago me deixou descansar pelo esforço que eu havia feito e deitado novamente em meu leito, não deixei de pensar em Laysa e me perguntava se ela estaria bem naquele momento.

No horário de visitas vieram muitos rostos conhecidos e muito me alegrei ao rever Catarina.

Abracei a minha secretária e pelos anos de trabalho, já a considerava minha amiga.

- Que bom te ver tão bem-disposto, doutor - ela disse com um sorriso.

Eu agradeci e falamos um pouco de nossas vidas. E depois foi inevitável que não falássemos sobre o caso de Laysa. Como amiga bem próxima, Catarina me deu os detalhes do estado de saúde atual do meu amor.

- Ela te ama muito e só tinha a intenção de ajudar, mas para isso ela estava se matando - Catarina disse depois de respirar fundo.

- Eu preciso muito falar com ela - eu quase que implorava.

Catarina ficou sem jeito de dizer, mas depois revelou que o irmão de Laysa viera da Holanda para levá-la com ele.

Eu me senti ainda mais incapaz pôr não conseguir que ao menos tivesse quem tanto amo ao meu lado.

- O que posso fazer é dar um celular para Laysa e assim vocês conversam antes dela ir embora - Catarina disse ao me ver desanimado.

Eu fiquei chateado com a informação, mas apesar de tudo, eu queria também o melhor para Laysa.

Laysa

Eu me sentia triste naquela manhã. Nem mesmo o jardim da clínica bem arborizado com sons de pássaros e a fonte de água me faziam animar. Sentia que algo faltava em mim, a parte que doía, mas ainda sim eu a queria para me completar.

- Minha irmã, vim assim que pude - olhei de forma lenta e procurei pela voz que me chamava vindo do lado da clínica - como você está?

- Jonathan! - Eu me levantei na velocidade que conseguia e chorei enquanto o abraçava.

Meu irmão passou as mãos em meus cabelos os ajeitando e disse que deixou seus afazeres e família na Holanda e veio ao Brasil para me buscar.

- Eu não sei, meu irmão. Ando tão confusa...

- Não é um pedido, é uma ordem. Eu vou cuidar de você - ele disse não me deixando pensar - arrume suas coisas, hoje à noite já partimos.

E no mais, meus pensamentos quando não confusos, estavam lentos. Nem mesmo Felipe eu já não sabia se ele era real quando aparecia de repente com sua conversa fácil e sorriso envolvente.

Aquele lugar bonito e de pessoas estranhas começaram a me dar mais medo do que seguir para outro país com o meu irmão e recomeçar a minha vida, até porque aquele lugar não era o meu lar e eu nem me lembrava como teria chegado ali.

Os medicamentos me faziam ficar perdida e às vezes me pegava desconecta do mundo.

Então, minha esperança estava em meu irmão, minha única família e que me estendeu a mão naquele momento difícil.

"Eu sentia medo, pavor, receio.

Não existia o porquê de me julgar, os pensamentos estavam desconexos, os traumas me eram profundos.

Eu me sentia perdida e precisava me encontrar, mas não estava sendo uma tarefa fácil.

As barreiras criadas pela minha própria mente se transformam em monstros que a todo momento queriam me destruir.

Eu precisava de ajuda, eu confesso.

Eu perdi o controle de tudo e precisava me estabilizar.

O amor verdadeiro é paciente, é aquele que tudo sofre, tudo crê.

Espere por mim, meu amor.

Temos tempo, temos vida".

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