Nunca em minha vida, eu pensei que uma única decisão se tornaria quase que uma tragédia, não querendo ser dramática e já sendo. Na verdade, em minha vida já se bastavam as tempestades, dramas e lástimas pelo o que foi e não seria mais, nunca mais, eu presumia.
Eu precisava convencer a minha cabeça de que não estava louca, precisava dizer para mim mesmo que nada mais era como antes, precisava convencer o meu coração para não mais amar, como eu ainda amava.
Falar por falar se tornava fácil, quando o difícil seria se colocar no meu lugar e vivenciar a situação. Estaria tudo bem em minha vida, se eu ainda não precisasse dele o tempo todo. E não havia nada que me convencesse do contrário.
Quanto mais o tempo se passava, mais difícil seria a ideia de ter que esquecer a melhor parte da minha vida, uma história do amor que sempre desejei e que por pouco tempo foi verdadeiramente minha. E aquela obsessão estava tomando conta de mim. Eu não conseguia esquecer e então precisava focar meus sentimentos do "eu ser mais importante" e aquele "eu" deveria ser amado como tal por mim mesma, antes mesmo de amar a outrem.
A terapeuta Camila deixou-me relaxar diante dela e falar todas minhas angústias dos últimos meses em que tive a bendita ideia de voltar para o Brasil e para minha história de amor que ficou sendo somente minha até então.
Felipe mudou muito e sou muito infeliz por não o ter ao meu lado, me dói a ideia de que ele tem por Lígia o menor carinho que seja e ser fiel a ela, por mais que isso soe estranho vindo dele. "As pessoas mudam", eu quase que bati na minha terapeuta por dizer essa frase. Porém, ela estava certa, chegou o momento de pensar em mim e então as demais coisas que almejo virão com o tempo.
Semana passada eu quis morrer ao interromper uma viagem amorosa de Felipe e namorada para perguntar por Expectra. Ele para meu desespero, agiu naturalmente do outro lado da linha telefônica e disse que quando eu quisesse poderia buscar pela gatinha. Ao fundo a voz de Lígia dizendo alguma coisa qualquer, fez com que meu coração apertasse e mais que depressa me despedi, desligando o aparelho celular. O restante do dia acabou para mim e exagerei na medicação para dormir, então fiquei por quase dois dias desaparecida, se é que alguém realmente notasse minha falta.
Catarina me indicou a Camila para eu fazer terapia e desde então tenho tentado me reerguer.
As minhas economias que guardei da Holanda já estavam terminando e eu seria agora oficialmente a desempregada e quebrada na praça. Ou voltava a pensar em mim, ou estaria fadada ao fracasso em todos sentidos, não teria mais opções.
Eu acessava meu notebook e tentava mais uma vez um encontro no site de relacionamento, não poderia me "dar o luxo" de não ter companhia no casamento de Catarina e Ricardo.
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Eu batia a pequena colher estalando um som seco na xícara de louça que em seguida levei a boca o café expresso e sem sabor como as palavras que saíam da boca de Alfredo. Ele é um pouco mais jovem que eu, alto, moreno, de sorriso fácil e se esforçava para me agradar.
Eu fiquei constrangida com o momento "não estou interessada" da minha parte e pedi licença para o rapaz que me concedeu alguns instantes para ir ao banheiro.
Eu lavei meu rosto diante do espelho e não me importava mais a maquiagem, não me importava aquele encontro, não me importava mais nada naquele lugar. E por mais que eu insistisse comigo mesma, Alfredo não me atraía nem um pouco.
E ao voltar para mesa do restaurante, mais uma vez eu procurei ser sincera para a decepção do rapaz diante de sua noite frustrante em minha companhia.
Eu também fui embora decepcionada e fui dirigindo até um bar, não muito distante do meu apartamento. Eu me sentei sozinha e não me importei que chamasse a atenção de alguns rapazes entre amigos mais adiante no local.
– Eu posso ser seu amigo agora, caso precise – o barman disse ao se aproximar com a quarta dose de uma bebida forte que eu pedi.
Olhei para o rapaz com uma cara que com certeza estava horrível e com os cabelos cobrindo os olhos, não fazendo questão de responder o atendente.
– Deixe a moça em paz, Léo – uma voz surgiu de trás de mim – e me vê uma cerveja.
O rapaz de nome Jefferson se sentou ao meu lado e falava alto tentando chamar minha atenção. Eu só queria ficar sozinha no meu momento, porém as piadinhas sem graça do rapaz acabaram chamando minha atenção para ele depois de um certo tempo.
Aos poucos a intimidade com o moreno já não tinha as barreiras do início da noite, então dançamos, cantamos no karaokê, rimos juntos, choramos também juntos minhas mágoas e eu não poderia ter encontrado ao acaso tão melhor companhia. Quem diria e em um bar?
Jefferson me levou para sua casa de classe média alta e me contou boa parte de sua vida enquanto dirigia o meu carro. (O carro dele ficou com o Léo do bar, seu amigo)
O lugar é lindo por detrás do gigante portão de aço e o jardim frente a casa estava iluminado pelos pequenos portes que se via em torno dos caminhos calçados de pedra. Jefferson sorria e aparentava muito feliz por eu estar ali com ele.
Ele é estudante de direito nos anos finais do curso, ainda morava com os pais que por algum motivo não estavam em casa e excelente chefe de cozinha que preparou um prato rápido e saboroso para nós dois nos deliciarmos.
– Eu gostei muito de conhecê-la – Jefferson disse após tomar mais um pouco de vinho da taça e me encarar de forma mais provocante.
– Eu que agradeço por ter me ajudado a sair dessa tristeza – eu respondi sorrindo.
Jefferson parecia interessado em passar para outro patamar o nosso encontro casual, porém agia sem pressa, não me pressionando, o que o fez ficar ainda mais incrível como pessoa.
Ele tomou minha mão e me conduziu até seu quarto. Eu ainda estava um pouco nervosa apesar do vinho, ele percebeu pelo o beijo e tratou de me deixar relaxada novamente ao me indicar para que assistíssemos um filme juntos.
Nós escoramos na cabeceira da cama em cima de travesseiros muito macios. E trocamos alguns beijos no decorrer do filme.
Jefferson tirou sua camisa deixando amostra uma fênix tatuada no tronco debaixo de seu braço direito. Ele é bonito, corpo atlético, moreno e cabelos pretos curtos. Ele não forçava a situação, mas esperava ansioso por mais atitudes da minha parte.
– Desculpe-me, eu ainda não consigo – eu disse sem graça não querendo estragar o clima.
– Tudo bem, Laysa. Eu sei bem como a encontrei naquele bar – ele disse abaixando a cabeça em seguida – entretanto, eu gostei de verdade de você, não quero estragar a chance de te conhecer melhor – ele me olhou mais conformado com um sorriso de canto da boca.
Eu sorri em agradecimento pela noite e me despedi deixando a bela casa para trás e a pessoa maravilhosa de Jefferson.
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No Tempo Certo
RomanceO amor é constantemente colocado à prova e frente aos desafios é preciso ter preservada a sanidade. Sendo assim, tudo que parecer contrário, transformará em aprendizado para a vida. Laysa é uma principiante na enfermagem e junto aos desafios profiss...