Capítulo 28 - Minha vida sem Você

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Eu tentava me reconhecer diante do espelho, mas não havia ficado tão mal assim o meu novo corte de cabelo. Júlia fez o que pôde principalmente com a parte da frente onde fez uma franja ajeitando os fios dando um ar mais moderno que sobressaía ao corte quase que raspado na minha nuca.

Enquanto eu me olhava tentando me aceitar, via os olhares julgadores das outras mulheres presentes no salão que me viram chegar com meus cabelos todo repicado. Como se estivessem sido cortados em um surto psicótico qualquer, mas elas não estavam erradas.

Júlia me elogiava ajeitando minha franja enquanto tentava contornar o clima que se formou no salão entre mim e as outras clientes.

– Júlia, você como sempre arrasando – eu a beijei no rosto agradecida – ainda bem que existem pessoas como você que ao invés de julgar as aparências, ajudam na alta estima das pessoas – eu tive que falar porque de toda forma eu seria o assunto do dia naquele salão de beleza.

A cabeleireira corou as faces e me ofereceu alguns produtos de beleza antes da minha saída do local de forma a contornar qualquer constrangimento em seu estabelecimento.

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Na noite anterior eu me fechei mais uma vez para o mundo. Desliguei meu celular, a TV e as redes sociais. Eu não queria ver ou falar com ninguém. A terapia teria sortido muito pouco resultados e minha possível melhora ainda dependia muito de mim. E por mais que eu evitasse, me medicar teria sido a melhor solução temporária.

Naquela manhã, eu fiquei por algum tempo sentada na cama pensando na vida e enrolava os meus cabelos com as pontas dos dedos. Eles estavam maus cuidados e despenteados. E em busca de algo em que pudesse descontar meus fracassos recentes, eu peguei uma tesoura de costura na gaveta do guarda-roupas, não pensando duas vezes e fui picando todo o meu cabelo.

Os meus cachos cheios dos fios loiros alaranjados caiam e se espalhavam pelo chão. E as lágrimas desciam vagarosamente pela minha face e se misturavam aos fios que não se desgrudavam da minha pele.

No box do banheiro liguei o chuveiro e sentada no piso frio abracei aos meus joelhos e permiti que a água lavasse também a minha alma.

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Catarina me observava esperar por ela, com os olhos arregalados enquanto atendia alguns clientes da clínica e eu a aguardava ansiosa alisando minha nuca raspada, próxima a porta de entrada da clínica de Felipe. Eu não conseguia disfarçar o meu nervosismo e na verdade, eu não queria vê-lo tão cedo na minha frente.

– Belo corte de cabelo – Catarina disse se decepcionando comigo.

– Eu sabia que você iria gostar – eu respondi, ironizando.

Cath me abraçou forte e disse que estaria preocupada comigo.

– Eu não quero falar sobre mim! – eu a fiz andar em direção do restaurante para almoçarmos juntas.

– Laysa, espere... – ela tentou segurar o meu braço em vão.

Na pista de variadas comidas, Catarina me observava calada e me chamou para sentarmos a mesa mais próxima do ar condicionado.

– Você não colocou quase nada nesse prato – minha amiga disse ao comparar os nossos pratos.

Eu fiz uma careta e comecei a brincar com a refeição, quando o celular de Catarina tocou. A princípio não havia prestado atenção até eu perceber de quem se tratava, então me levantei de sobressalto da mesa, fazendo os demais clientes do restaurante olharem para mim, a louca.

– Você não fez isso comigo, Catarina – eu esbravejei – Não tinha esse direito.

– Sente-se aí – ela disse me olhando com pena – Felipe não poderá vir.

Naquele momento, não só iria me sentar e sim desmoronar na cadeira daquele estabelecimento. Não sabia dizer o que seria pior: Felipe atender o convite de Catarina e me ver em ruínas por causa dele ou ele negar o convite, dizendo ter algo mais importante para fazer e evitar um encontro comigo.

Eu deixei de comer porque um "nó" se formou no meu estômago e o fechou de vez. E para impedir as lágrimas de cair pois já se formavam inevitavelmente, engoli o choro e mudei de assunto perguntando para minha amiga sobre seu casamento com Ricardo.

Ela me contou sobre os preparativos da festa e reclamou do quanto sentia minha falta, pois precisou muito de minha ajuda durante alguns dos meus sumiços repentinos.

Eu mudei do assunto quando ela queria se referir novamente a minha pessoa e comecei a falar sobre Jefferson. Catarina se empolgou e disse que ele poderia ser minha salvação.

Porém, eu a alertei que estávamos apenas nos conhecendo e eu deixei bem claro para o meu mais recente amigo, que eu amava a outro homem e que de longe pensaria em magoá-lo não sendo sincera com meus sentimentos.

– Nós podíamos chamar Jefferson e Ricardo para jogar boliche hoje à noite, o que você acha? – Cath queria mesmo me animar.

Existia a possibilidade que eu me fechasse para mundo durante outra crise depressiva a noite, mesmo assim confirmei presença para o programa. E diante do sorriso de Catarina, eu concordei em ir ao boliche, porque era o que ela queria ouvir naquele momento e logo em seguida, eu me alegrei com minha amiga, colocando-me uma máscara de quem estaria feliz.

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No tardar daquele dia, Jefferson se concentrava para arremessar mais uma vez a pesada bola em direção aos pinos e mais uma vez não acertou. Falando em seguida, um palavrão que ele mesmo se conteve ao ver crianças brincando do nosso lado. Eu sorri com ele e Catarina me chamou para nos sentarmos juntas, enquanto Ricardo foi fazer companhia a Jefferson na pista de arremessos.

– Gostei dele, Laysa você tem uma mão boa para selecionar seus "crushes" – Catarina aprendeu com a irmã mais nova a expressão para pretendente.

– Ele é uma pessoa boa, por isso quero ter certeza antes de começarmos algo mais sério – eu disse ao observar Jefferson mais adiante.

Ele se vestia casual, camiseta com estampa, calça jeans levemente rasgadas e de sapatenis. E como ainda era universitário dependia de certa forma dos pais.

Ele sorria lindamente para mim e eu queria me punir por não ter o controle do meu coração.

Despedimos de Catarina e Ricardo e andamos de mãos dadas pelos corredores do shopping. Na praça de alimentação fizemos o pedido de pizza e conversamos sobre quase tudo.

Na volta para casa, eu pedi a Jefferson que dormisse em meu apartamento e então pude ver e tocar naquela tatuagem colorida assim como ter aquele corpo perfeito junto ao meu.
Nós nos entregamos por inteiro e esquecemos pelo menos por hora de todo o resto.

As lembranças de Felipe deitado em minha cama, ainda eram muito presentes em minha mente. O imaginava brincando com meus pés, quando por algum motivo eu mudava de posição na cama durante meu sono ou quando desenhava o contorno do meu sorriso só para que eu acordasse com ele já estampado em meu rosto.

Não estava sendo fácil de esquecer. E tudo me lembrava o doutor. Felipe era como uma tatuagem, parecia que estava grudado na pele e em meus pensamentos para todo sempre.

Catarina, minha amiga, eu não sabia ao certo se ela me ajudava ou se não me queria bem, porque depois da minha noite com Jefferson, pela manhã ela me enviou uma mensagem via celular:

"Contei a Felipe sobre Jefferson, ele ficou calado por um tempo, mas depois disse que é bom você seguir em frente."

Desliguei o celular e tratei de fazer o café da manhã para Jefferson minha melhor companhia no momento.

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