K . I . D . S

41

Claire chegou em casa atormentada pelo dia. Um leque de oportunidades se abriu na sua frente naquele momento.

Boston era longe. Era a cidade que partira seu coração mais de uma vez. Mas já não era tão diferente de NY. Ela teve momentos maravilhosos aqui, é verdade, mas após Ben foi como se sua vida tivesse se estagnado e ela não conseguia viver com isso.

Sentiria falta de seu pai que a acolheu com tanto amor no decorrer desses quase dois anos. Sentiria falta de Emma, Erica e Jack que foram seus amigos mais próximos durante esse tempo. Sentiria falta de Mike Jr e seus comentários sinceros. Também sentiria falta dos pais deles que a aceitaram como família quando ela havia perdido tudo.

E havia Ben. Apesar de ela estar mantendo certa distância, o simples pensamento de não poder vê-lo sempre que desejasse era uma tortura. Ela o amava de um jeito tão significativo que palavras não eram capazes de expressar seus sentimentos. Até mesmo quando via Ben junto com Summer, mesmo que isso despedaçasse seu coração de maneiras indescritíveis, ela ficava feliz por ele. Só queria vê-lo bem e feliz, mesmo que isso implicasse em sua distância.

Talvez Boston fosse a solução para isso. Longe de tudo e de todos, ela o esqueceria, tinha certeza disso. Bom, não tanta certeza, mas essa ideia dava esperança ao seu coração machucado.

Estava decidida. Precisava de mudança, precisava de um novo objetivo na vida, precisava superar sua história fracassada de amor.

Pegou o telefone e ligou para Garrett que atendeu sua ligação, feliz.

-Claire! E aí? - Ele disse.

-Eu aceito a proposta, G – Claire falou sem muito entusiasmo.

-Uau, Claire! Isso...isso é ótimo! Devo dizer que me surpreendi. Você foi rápida – Garrett deixou clara sua empolgação.

-Pensei um pouco e recebi uns conselhos que ajudaram. Mas agora preciso dos detalhes disso tudo. Não vou voltar para Boston para me meter em alguma bagunça – Claire falou.

-Não, claro que não! Você vai amar, é tudo super organizado, eu prometo!

Ambos combinaram um almoço para o dia seguinte para acertar os detalhes e desligaram o telefone.

Claire deitou-se na cama naquela noite com uma sensação boa correndo pelo peito. Era uma decisão arriscada, mas que a tornaria mais forte.

...

-Então é isso, Gunther. Foi um prazer trabalhar com você – Claire estendeu a mão e Gunther a pegou, sorrindo.

-Eu que agradeço. Você foi a minha melhor funcionária nos últimos anos – ele disse.

-Eu estou ouvindo, tio! – Max acusou.

-Essa é a intenção, querido sobrinho – Gunther bufou e virou-se para Claire em seguida que sorria. – Boa sorte no seu novo emprego. Sempre que precisar, pode contar com alguma indicação minha.

Claire agradeceu e Gunther voltou para trás do balcão, deixando-a a sós com Max.

-Eu não acredito que você vai embora mesmo – o garoto disse.

-Eu sei. Mas preciso recomeçar. De novo – ela riu.

-Promete que vai me ligar?

-Toda semana – Claire cruzou os dedos e Max riu.

Ele a abraçou, tirando-a do chão.

-Vou sentir muito sua falta aqui – ele disse meio triste.

-Só vou partir em uma semana, você sabe né? – Claire tinha um sorriso travesso no rosto.

-Eu sei, mas sinto que aqui já é uma despedida – ele fez uma careta.

Claire ficou na ponta dos pés e lhe deu um selinho rápido – um cumprimento comum entre os dois após o beijo que deram.

-Eu também vou morrer de saudade, Maxwell – ela disse.

...

A semana de Claire estava uma correria. Dentro de poucos dias, viajaria para Boston e demoraria um bom tempo para voltar. Já havia comunicado a decisão à Joey que em primeiro momento ficou frustrado, mas sabia que a filha precisava ir.

O que mais assustava Claire era ter que contar aos outros o que ia fazer.

Bateu levemente na porta dos Bing e foi atendida por Monica.

-Claire? Entre, querida! – Ela convidou.

Claire entrou e admirou a casa, perfeitamente limpa. Depois de alguns instantes, disse:

-O Jack e a Erica estão?

-Sim, pode ir lá em cima. Devem estar no quarto do Jack – Monica indicou as escadas e Claire as subiu devagar.

Encontrou os dois exatamente onde sua mãe disse que estariam. Ambos jogavam um jogo de corrida – que Jack parecia perder.

-Não acredito que você seja tão ruim assim – Erica disse ao irmão.

-Infelizmente você tem o instinto de competitividade da mamãe e eu não sou páreo para isso – Jack disse largando o controle do videogame em cima da cama. Ao fazer isso, viu Claire.

-Hey, meninos – ela cumprimentou.

-Claire! – Erica deu um gritinho. – O que faz aqui?

-Quero conversar um pouquinho com vocês. Estão ocupados?

-Não – Jack se jogou na cama. – Pode falar.

Claire ponderou um pouco, escolhendo as palavras certas para dizer à eles que ela iria se mudar.

-Eu...vou me mudar em mais ou menos uma semana – ela disse.

-Sério? – Erica perguntou.

-Pra onde? – Jack disse, curioso.

-Vai ser nossa vizinha? Vai morar aqui perto? – Erica animou-se

-Na verdade – Claire fez uma pausa. – Eu vou mudar pra Boston.

O queixo dos garotos caiu. Começaram a lançar uma leva de perguntas em cima de Claire.

-Calma, calma- ela disse. – Aceitei uma proposta de emprego lá. Eu meio que preciso disso.

-Mas e a gente? – Erica sibilou.

-Vai nos abandonar? – Jack ofendeu-se.

-Não, não! Jamais! Ainda vamos nos ver, só que não com tanta frequência. E, pelo que sei, vou vir bastante pra NY a trabalho. Sempre que vier vamos nos encontrar – Claire assegurou.

-Não é suficiente – Erica encheu os olhos de água.

Um silêncio ensurdecedor formou-se, até Jack levantar os olhos marejados para Claire e falar:

-Você vai ser feliz lá? Digo, mais do que está aqui?

Claire deu um meio sorriso.

-É em busca disso que eu estou, Jack. E sim, acho que lá vou ter mais chances de me recuperar de tudo.

-Então vá. Você é boa demais para ser infeliz nesse mundo, Claire – Jack sorriu.

Claire deixou uma lágrima teimosa cair e disse, abraçando ambos:

-Eu amo vocês. Foram os irmãos que eu nunca tive. Podem me visitar sempre que quiserem.

Enquanto o grupo estava envolto naquele abraço, Monica e Chandler apareceram no batente da porta e observaram a situação. Ele passou o braço por cima do ombro da mulher e beijou sua têmpora. Ambos também estavam emocionados, impressionados com o apego que os filhos desenvolveram com Claire ao longo do tempo.