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Claire passou a noite chorando. Ela não conseguia acreditar nas coisas que Ben havia dito a ela, que ele podia ser assim tão canalha. Ela sabia que ele era ciumento, mas não que era tão possessivo e irredutível daquele jeito.

Até o pobre Max, aquele garoto baixinho e franzino era motivo para Ben ficar chateado. Claire começou a se perguntar de onde ele havia puxado toda aquela insegurança.

Ben também não conseguiu dormir naquela noite. Ele não podia acreditar que Claire havia saído com o ex em Boston, mas o que mais lhe incomodava era que ela havia mentido para ele. Ben havia perguntado se ela tinha visto alguém lá e ela simplesmente negou da forma mais cínica possível.

Ele passou a noite pensando na discussão que tiveram. Sua reação havia sido exagerada, mas ele ainda não havia superado o fato da mentira que lhe fora contada. Estava disposto a conversar com Claire de novo, agora que estava mais calmo.

Tanto Ben quanto Claire saíram cedo para trabalhar no dia seguinte, mas não se viram. A verdade é que Claire esperou Ben sair para poder também ir trabalhar. Ela estava evitando o namorado. Toda vez que pensava nele, lembrava da conversa que tiveram e de como ele tinha sido um cretino com ela.

Passou o dia todo angustiada, ainda mais porque era a folga de Max e não tinha ninguém para ela conversar no trabalho. Gunther pediu que ela novamente fechasse a cafeteria e ela agradeceu mentalmente por não ter que voltar para casa cedo e correr o risco de encontrar Ben.

Porém, para sua infelicidade, ele apareceu novamente lá, pouco antes de ela fechar o lugar.

-Podemos conversar? – Ele perguntou sem nem dizer "oi".

Claire olhou por cima do ombro. Ele estava com o rosto meio abatido, talvez também tivesse chorado.

-Agora não dá – Claire falou.

-Só vai levar um minuto – Ben disse estendendo a mão na direção da dela.

-Eu disse que agora não dá – Claire se manteve firme e não virou o corpo para olhá-lo de frente.

-Tá legal – ele fez uma longa pausa. – Quando subir, passa lá em casa se der.

Ele virou e saiu, deixando Claire travada, sem sair do lugar. Ele parecia mais calmo, talvez estivesse até arrependido. Mesmo assim, ela não se permitiu criar expectativas. Um homem enciumado podia ser um homem imprevisível.

...

Claire subiu as escadas e parou em frente ao apartamento de Ben. Não sabia se já entrava, pois tinha a chave, ou se batia e esperava ser atendida. Optou pela segunda opção e, quando Ben atendeu disse:

-Não precisava ter batido, você tem a chave.

Claire ignorou o comentário e falou:

-O que você quer?

Ben estava com as mãos inquietas. Tirava e colocava nos bolsos diversas vezes, outra hora as entrelaçava, mas nunca a mantinha imóveis.

-Por que você mentiu? – Ele disse de vez.

-O quê? – Claire perguntou.

-Por que você mentiu quando eu te perguntei se você tinha encontrado alguém em Boston? – Ele disse novamente, irredutível.

-É só isso? Nem um pedido de desculpas? – Claire cruzou os braços indignada.

-Não muda de assunto, Claire.

-Você é um idiota. UM IDIOTA – ela agora gritava sem medo. – Quanto tempo mais eu demoraria pra ver que você é assim?

-Não me chama assim. Você mentiu e eu só quero saber o porquê – Ben também elevou o tom de voz.

-Eu menti porque eu te amo e não queria que você agisse desse exato jeito que você ta fazendo agora! – Ela falou já entre lágrimas. – Mas não tem jeito, né Ben? Não tem jeito. Você é um idiota. Tá no seu DNA.

-Isso é só uma desculpa. O que aconteceu de verdade, me fala logo. Não piora as coisas!

-Aconteceu que você não confia em mim, Ben. E eu não posso ficar com alguém que não confia em mim – Claire disse e saiu tão rápido do apartamento de Ben que ele mal pode acompanhá-la.

Ela bateu a porta dele e entrou em seu apartamento, batendo a porta também, derramando tantas lágrimas que já tinha o rosto vermelho.

-Claire! – Ben bateu na porta do apartamento dela. – O que isso quer dizer? Claire, vamos conversar! Não fala isso, volta aqui!

Ele socava a porta entre uma frase e outra até que ela foi aberta bruscamente.

-Joey? – Ele disse.

-Ela não vai te ver agora, rapaz – Joey disse completamente sério. – Volta pro seu apartamento.

-Não, Joey, por favor, a minha conversa com ela ainda não acabou – Ben implorou com os olhos cheios de água.

-Então outra hora vocês continuam. Agora vai embora, por favor – Joey pediu e, antes que Ben pudesse contestar, fechou a porta.

Ben pensou em bater na porta de novo, mas desistiu. Se sentou no chão encostado na porta e tentando impedir que suas lágrimas descessem.

...

Ben acabou passando a noite ali, encostado à porta do apartamento da namorada. Foi acordar lá pelas 6h da manhã, cheio de dores nas costas. A lembrança da noite anterior ainda estava em seu pensamento.

"Eu não posso ficar com alguém que não confia em mim". As palavras de Claire martelavam na cabeça dele. O que ela quis dizer com isso? Não era o fim. Não, não podia ser.

Entrou em seu apartamento e tomou um banho demorado. Pensou em ligar para a biblioteca e dizer que estava doente e não poderia trabalhar. Pensou em fazer plantão na porta de Claire até que ela resolvesse aparecer para eles conversarem.

Enquanto Ben passou a noite desolado pelo que Claire tinha dito, Claire passou a noite chorando no colo de Joey. Ele havia entendido a situação e a briga e ficado ao lado de Claire durante todo o drama.

-Nós nunca ficamos brigados tanto tempo assim – Claire disse à Joey enquanto se arrumava para o trabalho.

Joey apenas escutou, calado.

-Geralmente a gente se resolve no mesmo dia, as vezes até na mesma hora. Eu to tão confusa, pai – ela continuou.

-Hey – Joey se aproximou e lhe deu um abraço. – Seja o que for que você decidir, eu vou estar com você, ok?

Ela agradeceu e saiu do apartamento. Encontrou Max no Central Perk como de costume e lhe contou de imediato tudo o que havia acontecido, mas depois eles trabalharam em silêncio. Quase na hora do almoço, Max a chamou para almoçarem juntos, mas Claire negou. Não queria mais um motivo para briga. Enquanto comia sozinha na cozinha do Central Perk, recebeu uma mensagem de voz.

-Oi – Ben falava com uma voz triste e distante. – Você não quer falar comigo. Tudo bem, eu entendo. Mas eu preciso falar com você, então por favor, escuta isso aqui até o final, pode ser?

Claire engoliu em seco e continuou ouvindo a mensagem.

-Eu dormi na porta do seu apartamento, na esperança de que você fosse voltar e me dizer que aquilo tudo não passava de um mal entendido. Mas você não voltou. Então me fala, por favor, que o que você falou não era sério. Fala que me ama de novo e que quer que a gente tenha um futuro juntos. Vamos voltar a planejar nossa casa na praia e nossos quatro filhos – ele riu nesse momento e fungou depois. – Não me deixa, Claire. Eu te amo. Não sou nada sem você.

O recado terminou e Claire largou o telefone, limpando as lágrimas.

-Tá tudo bem? – Max apareceu na cozinha e se sentou no chão ao lado dela.

-Tá... é só que recebi um recado do Ben agora – ela respondeu.

-Vocês não tão na sua melhor fase né? – Max disse.

-Definitivamente não – Claire olhou para cima.

-E o que você vai fazer?

Claire havia tomado uma decisão. Não contou a Max, porém e nem a ninguém.

K . I . D . SOnde histórias criam vida. Descubra agora