Por Davi
Cutucando a onça...
O que esta frase nos lembra?
Que estamos brincando com o perigo.
Mesmo que a maravilhosa onça seja domesticada, há um risco grande da bicha se irritar e passar suas delicadas garras na cara de quem quer que seja. Então, com pessoas de personalidade forte, é bom cuidar um cadinho só. Não à ponto de torna-las opressoras conosco, mas, é... veja bem... melhor eu citar um exemplo.
Meu patrão é um cara gente fina, querido, engraçado, apaixonado pelo companheiro, tanto que faz quase todas as vontades do outro. O outro no caso, é meu chefe, e embora seja também uma pessoa linda, cheia de predicados, tem um gênio complicado.
Ninguém é perfeito.
Túlio é um homem correto, simples, honesto com suas convicções, transparente quando algo não lhe cai bem e discreto no sentido de não expor coisas muito íntimas com as pessoas. Tipo aquelas que tentam entrar em seu território. Ele corta na cara que nos faz sentir a já conhecida "vergonha alheia". O Braz é mais esquentado, quando fica nervoso não se mantém na classe igual ao Túlio, meu patrão explode feio, mas depois que passa, tudo fica bem e ele não remói as mágoas.
Já o chefe...
Túlio esses dias não veio no período da manhã e não me avisou se havia acontecido algo grave. A mim ele não deve satisfações, óbvio, mas seu Braz veio conversar comigo perto do almoço e explicou que não se tratava de nada grave e que ele tinha deixado o seu alemão dormindo depois de ter passado a noite com o filho mais novo no pronto atendimento.
— Deu febre alta no guri bem ontem à noite que ele estava ali em casa conosco. Já chegou amoado, sem fome, essas coisas de quem tá chocando gripe. O alemão pode ser ruinzinho, mas por aqueles filhos, ele é um anjo.
— Ruinzinho? Hahaha... Tadinho, seu Braz.
— Tadinho? Tadinho de mim! Nem digo nada... sou sobrevivente.
Eu dou muita risada com isso e à tarde é ainda pior, pra não dizer melhor de ótimo.
— Ai Davi, me desculpe por hoje de manhã.
— Por favor, Túlio, se me pedir desculpas eu fico até sem graça. Mas mesmo assim, o patrão veio falar comigo.
Engraçado que a tarde não rendeu nada. Tinha pouco serviço, por incrível que pareça e por isso custou a passar. Ficamos conversando sobre eventos em que dependemos da saúde pública, exames de rotina que ele fez, quando tirou sangue para doar pela última vez e um exame de toque que se obrigou a realizar com um proctologista, quando descobriu um nodulozinho na entrada do reto.
— Foi há uns dois meses. E o Braz queria entrar junto... pode isso?
— Mas o que era?
— Não era tumor não, era uma veia... ai, é tão desagradável isso.
— Imagino. — eu não entrei muito no assunto porque o Túlio ficou visivelmente sem graça.
— Boa tarde Davi. — Seu Braz entra na sala sorrindo e senta numa das cadeiras em frente a mesa do Túlio. — Fala minha peste. Tá descansadinho? Davi sentiu tua falta de manhã.
Túlio dá um sorrisinho.
— Poxa, seu Braz, peste?
— Tá vendo como ele me trata? — Túlio tenta uma defesa. Me encara com um olhar divertido.
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Contos Extras
Короткий рассказBônus! Contos extras são momentos pós finais de histórias minhas. (já terminadas) Antes eu costumava escrever os capítulos bônus nos livros prontos, aí tive uma ideia de colocá-las todos em um único compilado. Assim posso misturar os personagens e u...