Contos Extras

Marcelo e João - Paixão

Marcelo e João - Dois escorpianos

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Por Marcelo...

Ai como eu queria ter a chance de dar meu point of view, mas foi bem difícil do meu amor me passar o note pra escrever alguma coisa. É ele quem sempre tá escrevendo sobre nós, que me acostumei assim. Aí eu pedi, "amor, deixa eu digitar alguma coisa?" Foi difícil, cara, tive ajuda da Isabela, minha enteada pra convencer o homem.

— Poxa, paiê... tadinho do Celo, olha pra ele.

— Tão se unindo pra me derrubar? Vou mudar o nome do perfil no Watt daqui a pouco, aí o Marcelo escreve tudo.

— Só vou escrever putaria. — mordo o lábio do João que tá muito pertinho me alcançando uma dose de Campari.

— Ei, senhores, eu tô aqui.

— Ó, o respeito né Marcelo.

— Tô falando desse beijo na boca. Esses dias, ouvi vocês cochichando uma coisa. Cara, eu vou fazer terapia ainda.

— Não falei nada demais, amora. — mas a Isa me taca uma almofada — Credo, sua solteira amargurada. Ai. Socorro João.

Sua filha corre atrás de mim e sem querer piso no rabo da gata dele. Nossa. Ele ficou magoado como se tivesse levado um pisão no dedinho. Achei que ia acabar com o clima cheio de "maldade" entre nós, porque somos tão escorpianos em todos os sentidos.

Uau, banho com ele é aquele momento que dá pra abusar dum homem grande, peludo e pauzudo. João e eu temos treinado muito nesse último ano, ele ganhou mais massa e seu braço tá maior que o meu agora. Mas o que mais me interessa, não é o corpo ou o rosto bonito, é o que ele tem por dentro. João é uma pessoa que se doa num relacionamento, faz muito pela pessoa que compartilha sua vida. Por mim, ele fez coisas que só se percebi o quanto eram boas no passar dos meses. Especialmente quanto à vida financeira, da maneira desorganizada que eu levava, tomei tanta bronca do homem, fui forçado a economizar até ficar meio mão de vaca igual a ele. Resultado disso são minhas dívidas dos impostos parceladas todas em dias, minhas contas organizadas por um homem que controla até a gasolina que põe no carro e quantos quilômetros faz.

Era esquisito pra mim e um pouco exagerado. Fora os transtornos que ele tem. Antes de namorar com ele, o conheci enquanto ele namorou o... outro lá, e o cara disse que levou anos pra aceitar o transtorno do João com relação ao asseio corporal, que era e ainda é bem excessivo, mas não me incomoda tanto assim. Outro ponto é a mania de simetria que o Carlos dizia que achava um pé no saco e quanto a isso não tinha paciência nenhuma. Eu ainda fico no meio termo com o assunto porque é bem estranho e o que me incomoda é pensar que ele não faz isso de maneira consciente, que se fosse o caso, seria mais fácil de se corrigir. Mas se dou um toque, ele se policia, tenta se ajudar. Sobre a simetria, é num geral, são os utensílios de cozinha, roupas, itens do escritório, o jeito de estacionar, as coisas do banheiro dele e como ele sofre, sofrimento real que coloco aqui na ficção, mas que o faz sofrer e ter acompanhamento psicológico quando tudo piora. Eu sei, eu que vivencio isso agora como seu companheiro. Tem a parte boa que supera sempre isso, mas quanto a esse problema, é tenso, real e delicado.

Fomos na casa do Jonas assim que ele voltou com o Tiago e na entrada, peguei os olhos do mozão no teto numa teia de aranha perto a lâmpada e depois numa vassoura. Eu tive um troço quando o João caminhou na direção da vassoura e falei uma besteira qualquer. Mas o Tiago já conhece a peça e o incentivou:

— Essa casa ficou fechada uns meses porque nós pensamos em vender. Paguei uma senhora pra limpar, mas ficou coisa pra trás.

— Desculpa. — João comenta quando tira a teia — Esse trocinho aí...