Marcelo, namorado do João, de Dois Escorpianos (aiai) e abaixo o Davi, companheiro de Adriano, de Amor Peixeiro
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Por Marcelo
Eu já tentei me encaixar em padrões mais elevados de vida. Luxo.
Confesso que sou daquele pobre impressionável que já sonhou em ganhar na loteria para comprar mansão, uma Range Rover, pagar uma empregada para fazer tudo, de preferência residindo comigo e frequentar somente lugares "babados". Eu tive a oportunidade de virar empreendedor, crescer com meu comércio, ganhar dinheiro, bastante até e entrar aos poucos nesse outro mundo.
Mas não era meu momento. Me endividei para ostentar um padrão altíssimo ao qual eu nunca pertenci e culpei pessoas a minha volta por me influenciarem, cobrando das mesmas uma solução para meus problemas e levando ignoradas bem merecidas.
Uma rasteira sutil da vida. Namorei homens com esse estilo de vida, um deles bem rico e o Raul, não tão rico, mas bem influente. Eu só queria estar naquele meio onde as pessoas me pareciam tão felizes por TER e nem sempre por SER algo a mais.
Hoje namoro um cara que só conhecendo pra entender o que quero dizer. João é discreto quanto a sua vida financeira, mas tem suas coisas, fruto de pouco desperdício, boa administração e claro, salário expressivo. Mas não quero falar desse aspecto.
Meu namorado é muito simples. Jamais eu imaginaria a riqueza que é ele como pessoa, até conhecer mais a fundo. E essa pessoa me ajudou tanto, brigou tanto comigo devido a minha maneira de conduzir as coisas que hoje sou grato às suas broncas e aos sacrifícios que fiz no ano passado pra poder entrar em 2020 sem tantas dores de cabeça. Financeiramente falando.
Estou super animado e ainda mais ao me enturmar com pessoas batalhadoras como minhas próprias funcionárias e uns amigos de outrora que há tempos não via.
E quer saber... Marcelo ostentador, chato e irritante, não era bem o que eu era de verdade. Raul me continha bastante, dizia que meu comportamento era visto como vulgar quando eu estava com seus "amigos" ricos e não falo da turma legal com quem nos reunimos de vez em quando, Patrick, Moreno, Bruno, Tiago, Jonas, Túlio, Adriano... esses todos. O receio do ex sempre foi me ouvir falando das coisas que fiz para juntar dinheiro e começar meu estoque da primeira loja, aqueles sacrifícios de pobre que quer tirar o pé da vala.
Essa é minha origem e ainda faço um monte de coisas que se Raul ouvisse, era só pra revirar os olhos. Hoje ele namora um professor super humilde e anda de quatro pelo cara. Isso para mostrar que vale a pena ser quem somos na essência.
E se eu contar que uso os potinhos de margarina vazios para outra utilidade ou que tem gente que faz artesanato com potes de vidro?
— João! Esses vidros de conserva vão todos pra reciclagem?
— E o que eu vou fazer com isso? Não gosto de guardar tralha.
— Vou levar pra Marli que enfeita as tampas e depois vende... posso?
— Deve...
— Esses potes de margarina eu vou levar pra mim. Planto sementes das folhagens aqui e depois passo para os vasos.
— Só tu, Marcelo.
— Amor me deixa fazer minhas pobrices.
João dá uma gargalhada e diz:
— Que pobrice, meu anjo... eu acho que reaproveitar não é coisa de pobre. Eu não tenho vergonha nenhuma de assumir que não desperdiço as coisas. Tudo custa dinheiro e às vezes você gasta 3 reais em cada pote desses pretinhos, quando pode usar o de margarina que já está pago.
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Contos Extras
Storie breviBônus! Contos extras são momentos pós finais de histórias minhas. (já terminadas) Antes eu costumava escrever os capítulos bônus nos livros prontos, aí tive uma ideia de colocá-las todos em um único compilado. Assim posso misturar os personagens e u...