Adriano - Plantão

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Por Adriano - par romântico de Davi em Amor Peixeiro

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Plantão. 

SUS. 

Emergência. 

Fim de semana. 

Parte de minha vida.

Onde não tem meio termo. Não dá pra brincar no trabalho ou fazer gracinha.

É minha escolha, foi por isso que estudei e por isso que vivo também.


Semana retrasada foi sábado das 06:50 às 20:50, com uma hora de almoço somente no ponto e duas horas extras que geraram conflito entre eu e o diretor do hospital. Doutor Evaristo entende além de perfeitamente que não tenho como largar o "cliente" no meio do "atendimento" para bater ponto, mas mesmo assim a puxada de orelha foi dada.

Foda-se, não me ressinto por isso, tenho tanta coisa pra me preocupar nessas horas que uma chamada de atenção é nada.

Comecei bem o dia no corredor atendendo gente ali mesmo. Ambulância chegando e largando os pacientes, devido a novas ocorrências e a superlotação não favorecendo a desocupação dos quartos.

Fiquei até perto das dez da manhã em função desses pacientes ainda na triagem, nem vi a hora passar. Isso que às nove horas eu já deveria estar liberando quartos com a alta de alguns pacientes. Inclusive isso me foi cobrado como se eu precisasse "desovar" essas pessoas de qualquer maneira. Eu estourei com um colega que liberou o seu Sodré.

— Eu tava acompanhando. A urina ainda tava muito sangrante.

— Ele é meu paciente, doutor Adriano.

— Doutor Fabio, sua equipe me acionou. Precisei realizar uma cistectomia parcial. Eu...

— Sim, sim, mas eu acompanhei a evolução. Esse sangramento tende a ser por uns vinte dias só.

— Tá, tá, doutor, na ficha do paciente tá marcado o retorno e é comigo na terça lá no ambulatório. Não dava pra ter liberado só porque precisa de quarto. Não liberou mais ninguém daquele corredor?

— Esse era o mais grave, liberei mais dois pacientes de hérnia. Vou lá... — ele sai do computador sem mais sem menos. Eu canso de fazer o mesmo. 

Corro uma maratona diária. Meu paciente mais complicado foi liberado, então os demais, quem sabe já poderão ir pra casa. 

— Seu Miguelino, homem da peste, bom dia. Como que foi de fisioterapia?

— Olha... doutor, eu andei na quinta, mas ontem fiquei com medo de arrebentar os pontos.

— Como assim? Costurei essa bexiga que ficou coisa mais querida. Se eu liberei pra fisio, é porque já tá na hora de forçar um pouco.

— O senhor vai me liberar? Por favor. Aos poucos em casa eu prometo que ando...

— Não posso ser mãezona, seu Miguel. Olha o xixi dessa bolsa, tá muito vermelho ainda. Andou, vai mexer nisso tudo aí. Vamos dar duas caminhadas hoje e conforme for, amanhã eu avalio melhor.

O paciente nem responde. Vinte dias internado, também passou por cistectomia e adiante toda a saga da pós retirada de tumor. Ou seja, o acompanhamento e procedimentos oncológicos. Seus olhos umedeceram de desalento. Ele queria muito ir para o conforto de sua casa. Infelizmente não hoje.

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