Aventuras de um Pisciano solteiro - Parte 2

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Chefe Caprica

Depois de cinco semestres, tranquei a faculdade priorizando a compra de uma moto CG125 que facilitava as coisas entre bairros quando fui trabalhar muito longe de casa. A oportunidade era ótima, mas com certeza, o que ferra com muitas pessoas é aquele favoritismo. Existem pessoas que passam por várias empresas sem sofrerem qualquer tipo de assédio e têm aquelas que do contrário, se não fizerem parte duma panelinha não se criam, muito menos dão frutos.

Aguentei firme por onze meses na função de "aspone" (assistente de porra nenhuma) a quem ninguém dá importância para não correr o risco de nós nos destacarmos. Cada pouco me mandavam fazer uma coisa:

— Arquiva aí, ô... — nem pelo nome eu era chamado às vezes.

— Vai cobrir as férias da telefonista, depois quando voltar, vai fazer a licença da auxiliar do contador.

— Oi menino, sempre esqueço teu nome, tá precisando alguém pra ajudar os conferentes

— Ei... conta o estoque de material escolar e acerta o sistema pra nós.

Eu vi muita coisa como ponto positivo e até fui grato, mas não tinha um setor ao qual pertenci efetivamente no início, até que um abençoado me chamou para auxiliá-lo diretamente, acabando com a bagunça que faziam comigo. 

Éramos: o subordinado versus o chefe e também sócio. O novato versus o experiente. O dispensável ao lado do incomparável. Um com 23 anos todo sentimental e tímido, perto de um com 45 anos todo seguro de si e maduro. Eu sem terminar uma graduação contra ele, um pós graduado em Direito, bacharel em Administração e também em Economia. Richard baby versus Arnaldo daddy. Muita vontade passei de cheirar mais de perto o seu peito, de ser debruçado sobre a sua mesa e tomar umas reguadas na bunda, porém ele era tão...

Respeitoso e profissional. 

Sim, eu fantasiei muito. Sonhar é bom e punheta desestressa.

Arnaldo certamente era um tesão de macho, mas eu não estava ali para viver um romance, ali estava para dar continuidade à minha vida no âmbito profissional e abrir portas para grandes oportunidades como o cargo do homem que me ensinou na prática tudo o que teoricamente eu achava que sabia. Além disso, ele era muito discreto quanto à vida pessoal, não falava sobre amores, filhos e intimidades. Seu jeito viciado em trabalho não o permitia se deslocar da sua mesa para o pequeno refeitório da empresa onde todos os colegas reuniam-se. 

— Seu Arnaldo, vamos tomar um cafezinho e parar um pouco pra descansar a cabeça?

— Em quinze minutos que deixo de fazer pela manhã, eu lanço metade dessas despesas. Nos quinze minutos da tarde, zero essas pendências pequenas.

Eu desisti de convidá-lo nas semanas seguintes e depois disso desisti de ir. 

— Bom dia, quiridu. — me cumprimenta pela manhã com seu sotaque forte de manezinho da capital. — Pontual, hein?

— Ah, obrigado! — acho que fui notado. Esse homem. Cara, eu sempre quis que Arnaldo me notasse. Parece um sonho pink — Olha, seu Arnaldo, já lancei todas as despesas que deixou aqui no cantinho da mesa.

— Guarda pra nós.

— Já arquivei.

— Tu és bem eficiente. Gosto assim. Nada de ficar com pendência em cima da mesa. Pegou, resolve. Começou, termina. Terminou, arquiva.

— Tenho um ótimo professor.

— Nada não...

Arnaldo sempre foi muito confiante em si, até autossuficiente demais, porém nunca soube lidar com elogios o que ficava muito engraçado. Basta imaginarem seu aspecto físico bruto, um feio-bonito-charmoso... espera, me perdi, eu falava sobre a aparência dele? Ok, seu tronco era reforçado que pendia mais para o grande do que para o musculoso definido, pernas bem grossas, brancas e peludas que ficavam à mostra quando optava pela bermuda social finalizada com mocassim sem meia... mocassim... acho tão feio, mas nele ficava perfeito. Em sua cabeça, sempre manteve raspada estilo milico, ficando com mais pinta de policial do que de chefe do escritório. Então quando eu percebi essa maneira dele, tímida, de receber um elogio, passei a fazê-los quando havia qualquer oportunidade. 

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