Lucas e Pedro, cansados do interior

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Dedicado à Nara__M

Lucas e Pedro -  Te carreguei no colo

***


Meio Oeste catarinense, calor e pouco vento, mesmo para um acostumado com o clima abafado como o Lucas, deixa o rapaz irritado.

— O frio aqui é gelado e o calor parece um inferno quando começa. — Lucas se abana, corado devido à irritação e uns raios de sol que ele pegou sem usar o protetor solar. — Pedro, porque não vamos pro litoral agora no verão? Eu quero ir para a praia.

Pedro também se encontra irritado com o calorão. Nas festas perto do Natal, lhe sobra a churrasqueira desde os petiscos: linguicinha, abacaxi, cebola, tulipa de frango, coxinha de asa, até a carne que demora a ficar pronta e ele não descuida por nada. Meio que ignora o jeito imperativo de seu companheiro, pois sabe que Lucas sempre acha algo que quer e que dará um jeito de obriga-lo a fazer.

— Vê se a maionese e as saladas ficaram prontas. — Pedro fala sério. Não tem nada a ver com Lucas, mas com seu estado cansado por ter passado o dia anterior a temperar carne, correr pelos mercados atrás das bebidas, ajeitando o quiosque onde tem a churrasqueira, voltando ao mercado onde sempre alguém lembra de algo de última hora, acordando cedo, cortando lenha, assando carne, servindo as visitas, correndo para atender qualquer coisa que faltou de última hora, suando feito cavalo (será que cavalo sua?), calor, calor e calor.

Lucas não o contestou e cansado também, ele sobe os cem metros até a casa onde mora com Pedro e onde estão Jacira, Preta e Mariana a preparar as saladas e demais acompanhamentos da carne. Lá elas o informam que está tudo pronto e que a mesa pode ser arrumada. Então o alemãozinho desce com as toalhas para arrumar a mesa de madeira maciça de tamanho descomunal. Ajeita tudo. Tudo é posto à mesa e ele volta para perto de Pedro.

— Já pode colocar a carne na mesa.

— Lucas... — Pedro o chama, mas é ignorado.

Pronto. Lá se foi o sossego do homenzarrão que dá uma coçada na barba e matuta preocupado. Ele melhor que ninguém conhece a brabeza de Lucas. Tenta lembrar se cometeu algum delito e relembra da última frase do jovem: "Eu quero ir para a praia".

Dois anos sem ir muito longe, são o motivo pelo qual Pedro reflete enquanto caminha até a casa colonial onde mora com o amado, mas não o encontra por lá. Lucas deve estar chorando sentido... ops, esse não é o Lucas. 

Na verdade, o jovem está bem sentado à mesa, comendo quieto e com a melhor cara de aborrecido. Finge não perceber que Pedro o está seguindo, tentando achar um lugar à mesa perto dele, quando alguém por milagre assume a carne e o manda almoçar.

— Quer que eu corte um pedaço dessa costela pra ti?

— Eu já comi costela, vou levantar porque tem gente que ainda não almoçou e falta lugar. Dá uma licença aí. — O jovem é tinhoso. 

Na cabeça dele, só queria ouvir:

"Lucas, só vamos pra praia depois do dia dois de janeiro"

ou

"Lucas, não vamos para o litoral."

ou

"Lucas, vou pensar."

Mas ele foi ignorado e isso era como ser colocado à esquerda. Por isso ele ficou ressentido. Estava sempre tão pronto para atender ao que Pedro lhe pedisse que sentia como desfeita quando passava por situação semelhante.

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