imagem: pixabay
Por Eliseu
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Eu sempre digo que discurso motivacional comigo não funciona e que meu eu interior não ajuda. Sou deste time. Mas... como bom pisciano que sou, aliás todo pisciano é maravilhoso só por si, amo um sermão da meia noite, digo, ouvir uma boa e velha meditação. Às vezes funciona. Ignorem a dualidade, por gentileza.
Lidar com complexos não é tarefa fácil, ninguém está 100% satisfeito e alguns até pegam pesado consigo, em vez de terem um pouco mais de amor por si, já que podemos transbordar de amor pelos outros. Eu venho desabafar às vezes da vida na corda bamba que é ser professor, da minha falta de paciência monumental e especialmente dos quilinhos a mais. Ai das minhas "pochetes"!
Botaram na cabeça do mundo que magreza é sinônimo de beleza e não tem Cristo que me faça aceitar que estar fora de padrão não é nenhum crime. Já ouvi tanta piada com gordura extra de tão sem graça, sermão e conselho que não entendo mais nada. É errado ser gordo? É uma escolha? Se cuidar ou ser "slim" torna alguém melhor?
Amém pra quem se cuida e conseguiu perder peso. Quer saber? Eu te admiro, parabéns. Auto estima agradece se for por isso. Acontece que tem gordinho que se acha lindo e foda-se. Mas tem o gordo que se detesta, não consegue perder o peso, é até meio julgado como guloso, preguiçoso, possível candidato a ter um infarto e ouvir: "nossa, emagreceu, tá mais bonito"!
Quer saber mesmo, saúde em primeiro lugar. Chega de reclamar, digo a mim mesmo e furo a dieta de novo depois de sofrivelmente perder três quilos numa semana difícil de varar.
— Que delícia. — Marçal espicha o olho sobre minha fatia generosa de bolo sensação.
— Obrigado, amor.
— Hahaha, claro, você é o que você come.
— Ultimamente me sinto o que eu cago.
— Enfiar o pé na jaca durante a dieta faz parte.
— Me odeio.
— Mas eu te amo, meu gordinho que só reclama do peso e que quando alguém pega no pé, diz que se ama assim e não quer ser diferente.
— Ah não, sem essa de jogar verdades na minha face. Amanhã é segunda-feira, dia certo pra começar uma dieta. Dia real.
— Aham. Por mim, não muda. Amo esse coração indeciso. Que se põe na balança junto com seus quilinhos, o auto julgamento e sentença.
Perco um pouco da fome compulsiva, me entrego ao riso com meu companheiro que é um doce ariano cheirando a perfume da Natura. Melhor que reclamar da vida é cafungar aquele peitoral largo, já que ele ama ficar abraçado comigo nos momentos que temos uma trégua da rotina que corre, ei, por falar nisso, essa semana passou voando não acham?
Enfim, um pedaço de bolo hipercalórico não vai me tirar do foco da dieta porque estou motivado demais, após descer de 104,5 kg para 101 e alguma coisa. Na janta comerei apenas três colheres de granola com iogurte natural semidesnatado, amanhã meia batata doce com carne... e alface, uma maçã.
— Amor, dá um copo grande de coca? Pra empurrar isso aqui.
Prometi que seria a minha última recaída, mas as maçãs sobre a mesa não são tão apetitosas quanto meu bolo feito pelas mãos de fada do Carlinho. Marçal não reclama, então não vou radicalizar.
Que ódio. Sim, o bolo é uma delícia e a coca, dos deuses, mas eu tinha que ter segurado a compulsão.
— Por isso que chama compulsão. Nem tava com tanta fome, era só o olho.

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Contos Extras
Short StoryBônus! Contos extras são momentos pós finais de histórias minhas. (já terminadas) Antes eu costumava escrever os capítulos bônus nos livros prontos, aí tive uma ideia de colocá-las todos em um único compilado. Assim posso misturar os personagens e u...