Por Iraci - Ex- esposa de Túlio de Ativo e Passivo
***
Algumas pessoas me perguntaram como conheci o Túlio.
Quando?
Como?
Onde?
Quando casaram?
Porque separaram se eram tão amigos?
Éramos?
Não.
Somos.
No início, primeiramente nos tornamos amigos.
Isso foi em 1994. Era o primeiro ano dele estudando em Itajaí, tínhamos 14 anos e fizemos parte da mesma turma da oitava série do matutino. Não havia nada de chamativo no rapaz, quem sabe um pouco alto perto de uns, mais bonito de rosto que outros, mas era só um adolescente igual a mim na época.
Adolescência. Coisa maravilhosa. Pelo menos eu achei. Que fase boa, vista sob minha ótica atual. Grupo de meninas. Grupo de meninos. Grupo dos que gostavam de rock. Grupo do fundão. Grupo do vôlei na praia no final de semana. Grupo que se juntava para fazer trabalho de História. Grupo das namoradeiras. Grupo das quietinhas. E claro, os deslocados sem grupo.
Felizmente todo mundo de boa. Sem alarde.
Túlio estava sempre com os meninos do vôlei, sem problemas para se enturmar, mesmo sendo mais fechadão no começo. Passado uns tempos ele já pertencia ao grupo do trabalho de Matemática, se destacava com números. Causava certa inveja, o fato de ser o primeiro a largar a lapiseira quando o professor nos aguardava na resolução de equações e o caralho a quatro.
Eu mal falava com ele. Para acontecer um "oi" geralmente só se nos "esbarrássemos". Ou então nessa ocasião a seguir...
— Terminou, Túlio?
— Sim.
— Então senta com a Fulana de Tal, vê se consegue ajudar a tua colega.
Pois é. Eu era a Fulana de Tal. Ele falou Iraci aleatoriamente. Poderia ser a Paloma ou a Mara que assim como eu, éramos ótimas em redação e matérias que não envolvessem tantos números e fórmulas.
Túlio tinha aquela carinha de metido. Como falava pouco em sala, não gostei muito da sugestão do professor. Mas era só a cara mesmo. Ele era muito educado. Muito calmo para explicar algo que não queria entrar na minha cabeça.
— Eu não entendo esse monte de fórmula, tá dando um nó aqui dentro. — Senti vontade de chorar. Fora a frustração de ver metade do povo terminando a tarefa proposta enquanto eu quebrava a cabeça.
— É bem simples... — na hora, imaginei que ia odiar o guri. "Bem simples". Meu Deus que ódio! — É que não tem como resolver a equação, sem antes achar o valor de X.
— Mas não termina nunca. Olha tudo que eu já resolvi... meia página de caderno.
— Mas é assim mesmo. Só que aqui, você trocou o valor. — Com um olhar de águia treinada para números desde a fecundação, ele catou minha borracha e apagou várias linhas do que eu tinha me batido pra encontrar. E que estava errado. Outra coisa que me tirou a atenção por microssegundos, foi a palavra "você" junto com o sotaque paranaense, o E bem pronunciado nas palavras que terminam com essa vogal e que em geral usamos o I na hora de falar. Com ele resolvendo e me explicando parecia a coisa mais fácil do mundo. Porque é bem assim. — Até aqui você conseguiu entender?

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Contos Extras
NouvellesBônus! Contos extras são momentos pós finais de histórias minhas. (já terminadas) Antes eu costumava escrever os capítulos bônus nos livros prontos, aí tive uma ideia de colocá-las todos em um único compilado. Assim posso misturar os personagens e u...