Duas da manhã

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Eu fitava o teto com os pensamentos nele

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Eu fitava o teto com os pensamentos nele. "Você não imaginaria o que eu faria com você... Michizinho..." Que desgraçado. Eu estava com essa voz rouca e máscula na minha cabeça como um refrão de uma música e seus olhos tão verdes e sombrio ao mesmo tempo fixado na minha mente.

– Michael Flores! – falei sozinho enquanto deitado na cama fitava as estrelas do meu teto. – Você não pode estar gostando daquele cara.

Respirei fundo retirando o travesseiro debaixo da minha cabeça e o apertei na minha cara dando um grito abafado para ninguém da vizinhança escutar.

Eu tinha que levantar e encarar mais um dia de trabalho. A vida não seria fácil e eu teria que compensar essa quase uma semana sem trabalho.

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Parecia castigo e eu tinha certeza que era. O Sr. Anderson estava irredutível. O bom que até a paciência com o sobrinho folgado Richard ele perdeu e não o liberou cedo.

A lanchonete estava cheia e até que entendia que ele estava pegando no nosso pé e até ficou no balcão onde roçava a barriga grande.

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Na hora do meu almoço, eu fui até a farmácia da esquina e comprei soro fisiológico em pó porque eu tinha esquecido o meu em casa. Eu teria que ficar tomando aquilo até minha pele voltar a sua cor normal por conta da queimadura.

Eu já conhecia todo mundo dos estabelecimentos vizinhos porque a maioria eram latinos igual a mim ou imigrantes de outros países. Às vezes eu ficava me perguntando o que seria do EUA sem a gente?

Depois de me hidratar com aquela coisa horrível me restava apenas vinte minutos de almoço. Eu peguei um sanduíche de salame com salada de alface e uma Coca-Cola, me sentei no beco em cima de uma lixeira fechada, comecei a comer observando o céu azul balançando os pés escutando o barulho da cidade.

Uma figura apareceu no meu campo de visão lá na entrada do beco. Era um homem grande sem cabelo e negro. Parecia um atleta e me fitou vindo caminhando em minha direção. Eu fiquei meio estranho, mas não parei de comer para não parecer suspeito. Não mantive contato visual e o homem passou por mim e escutei o barulho de algo sendo jogado em cima da grande lixeira que eu estava sentado e me virei vendo um pacote cheio no papel pardo, homem sumiu.

Desci da lixeira. Olhei para os lados, para a entrada dos fundos da lanchonete e não vi ninguém. Eu enfiei todo sanduiche na boca e bebi todo o refrigerante jogando fora e peguei o pacote pesado com o nome em letras garrafais daquele idiota do Richard. Eu abrir o pacote e vi um monte de dinheiro e seringas dentro.

– Richard... seu idiota. – suspirei negando com a cabeça.

A porta dos fundos foi aberta e a fumaça veio junto com Richard que saiu apressado me pegando segurando o pacote.

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