"Ciranda, cirandinha vamos todos cirandar! vamos dar a meia volta. Volta e meia vamos dar"...
— Para de cantar essa cantiga chata agora, Praga!
Retraído e temendo que sua mãe o batesse novamente, Praga calou-se. Porém, sua irmãzinha continuou a entoar a cantiga alegremente.
— Para moleca! Se você cantar mais uma vez essa musiquinha insuportável; você e o Praga vão apanhar.
Choramingando a garotinha falou.
— Eu estou com fome mamãe: O Praga falou que se a gente cantar, a fome passa. — Ela acrescentou com os olhos lacrimejando.
— Você acreditou no Praga, bobinha! — A mãe da garotinha falou zombeteira. — A única coisa que pode matar a tua fome é um bom prato de feijão com arroz, bife e açaí. Mas isso minha filha; nós não temos. — Acrescentou insensível, continuou. —Então para de cantar essa cirandinha chata, que me dar dor de cabeça.
Com os olhos cheios de lágrimas, ela voltou-se para Praga, disse. — Estou com fome, Praga.
— Senta aqui princesinha. — Falou enquanto sentava sua irmãzinha num velho banco. — Eu prometo que vou fazer alguma coisa para gente comer.
Praga após sentar sua irmã, começou a remexer nos mantimentos da casa na esperança de encontrar qualquer coisa que desse para preparar uma refeição para sua irmã. Contudo, todos estavam vazios.
A visão de algumas panelas expostas sobre o fogão chamou a atenção do garoto. Mas que depressa, ele as abriu. Como esperado, elas estavam vazias e sujas. Fracassada a tentativa de encontrar alimentos para preparar o jantar de Princesa, Praga falou desapontado. — Não tem nada... Nem um punhado de farinha para fazer um chibé.
— Praga, eu quero comer. — A garotinha pediu insistentemente.
Sentindo-se impotente diante da súplica de sua irmã; Praga olhou de um lado para o outro da velha casa de madeira sem saber o que fazer. De repente lhe ocorreu uma ideia. Com três canecas de alumínio em uma sacola plástica, Praga saiu batendo na casa dos vizinhos mais próximos em busca de alimentos. Em uma das casas, ele conseguiu um pouco de farinha: A qual ao receber, colocou um punhado da farinha d'água na boca para aliviar a fome, enquanto se dirigiu a próxima casa.
Praga não teve muito sucesso nas casas seguintes. Após receber uma enxurrada de não, o garoto conseguiu emprestados dois reais para comprar ovos. Feliz por ter conseguido suprimentos para alimentar sua irmã, retornou para casa cantarolando.
Sua mãe ao vê-lo retornar, perguntou ansiosa.
— Tu conseguiste alguma coisa, Praga?
— Farinha, ovos e óleo. — Respondeu orgulhoso.
A mãe de Praga fritou os ovos e fez uma farofa para o jantar deles. Princesa após repetir a deliciosa farofa disse para sua mãe.
— Não estou mais com fome.
Orgulhoso por ter conseguido saciar a fome de sua irmã, Praga ressaltou.
— Eu não falei que cantar faz a fome passar!
Irritada com o comentário de Praga, sua mãe retrucou.
— Eu quero ver Praga, até quando tu vais enganar tua irmã com tua ciranda de ilusões.
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Ciranda de Ilusões
General FictionHá uma velha ciranda cantada aos quatro ventos que ressoa o caminho do bem e do mal, como indicativo do caráter humano. Não importa exatamente a sua história, seus dramas e o contexto em que se insere, pois a dualidade entre o certo e o errado sempr...