Uma Noiva Para Apollo

A decisão

*Apollo*

   Os dias e anos se passaram, Laura tinha dado a Ares algo para amar, dois filhos,  frutos de seu amor. Todos viviam como se nada estivesse acontecendo, percoria os dias a medida que os ventos sopravam.
  Voltei a ficar no Olimpo, mas sentia que algo não era de meu agrado. Ninguém comentava sobre Maira ou como resolver, estavam se acomodando com tudo. Escondi de Zeus a história de Urano, na verdade acho que Hera quis colocar medo em mim. Todos os dias próximo ao entardecer andava a observar as estrelas, decidi ficar em uma ala longe dos demais.

   O isolamento era a única coisa que ainda me mantinha eu, não nego que foi complicado encarar todos e ainda mais tendo vivido tanto tempo no tártaro.
Uma brisa suave entrava pela janela e trazia o cheiro de terra molhada, a temporada de chuvas estava para começar e em breve o inverno chegaria.

    Andei até a janela e a fechei, sentei na cama e peguei um desenho do rosto de Maira, na verdade de como eu ainda me lembrava dela. Seus olhos marcantes me davam a sensação de amor e afeto, não esqueço do seu olhar. O último olhar que dei a ela e não a beijei.
Deitei ali e fechei meus olhos, me cubri com o lençol de seda e ali fiquei. Revirei de um lado a outro sem consegui dormir. Quando por fim estava em um sono profundo uma voz me chamava, era a voz de Maira e pedia por ajuda e socorro. Acordei assustado, senti o suor escorrer por minha testa levantei e caminhei pelo corredor.

   Próximo ao corredor que levava ao jardim vi que Zeus conversava com seu filho, mostrava ao menino as estrelas e falava o nome de cada uma delas. A luz era fraca, deixando que fossem iluminados apenas pela luz do luar.
Me aproximei devagar, não queria estragar aquele momento lindo.
  O menino já estava quase com a idade da filha de Hades. Notei que Zeus disse algo no ouvido dele e então se virou para mim, o menino saiu correndo e encontrou com Nicolle perto da fonte que o pegou no colo e levou para seu quarto.

   — É uma bela noite. — comentei sem jeito e Zeus sorriu.

   — Digo o mesmo. — respondeu olhando Nicolle sair. — Crescem tão rápido.

   — Verdade. — falei tentando entender onde ele queria chegar.

  — Podemos ir até o jardim e se sentar, gostaria de conversar com você Apollo. Vejo que está distante. — pediu Zeus e não pude negar. Sinceramente não tínhamos muitos momentos, nem antes de Maira e nem agora. Eu preferia ficar só, afinal não me sentia como antes.

  Andamos até o jardim e me sentei no banco de pedra branca, ouvi um choro de criança e me virei para observar, era Ares e ele carregava a filha nos braços. Ela ainda chorava, a pequena Anne tinha apenas oito meses e já era muito amada, Ares tentava segurar ela de modo que fosse confortável e a fazer parar de chorar.

   — Ai pelos deuses, minha Anne por favor fique calma, papai está aqui e te ama tá, você não pode parar de chorar só quando a mamãe te pega amor. — disse ele alto, então viu que notei e ficou com vergonha, sorri para ele e Zeus riu.
  
   — Você está pensando em ir atrás dela? — perguntou Zeus se voltando a mim, percebi que nada realmente nada tinha mudado. Pois seus olhos ainda conseguiam ver meus pensamentos.

  — Ela não tem ninguém mais Zeus, nem pais, nem nada. Eu sou o único com quem ela tem uma ligação. — deixei sair, finalmente estava colocando cara a cara o que eu desejava falar com Zeus.

  — Você a conhece desde antes não é mesmo? Apollo, você poderia ter me dito, tentaria resolver. — falou cabisbaixo, creio que ele também sentia um pouco de culpa pelos fatos.

  — Eu sempre amei Maira, desde que a conheci e infelizmente suas leis Zeus me impediram de estar ao lado dela, você entende isso? — respondi a ele.

  — Eu sei que fui duro com isso, mas nem mesmo eu sabia que os mortais eram tão necessários Apollo. —comentou ele. — Eu criei leis tolas e paguei por isso, Hera mesmo estava comigo apenas por mero poder e luxúria, como acha que eu me senti quando ela se juntou a Cronos e aposto que com ela se deitou.

   Isso eu concordava eu sabia que ela tinha ficado com ele, então Hera traiu Zeus se juntando a Cronos, isso era nojento e sujo. Creio que posso tentar entender o peso da responsabilidade que estava sob ele no decorrer desse tempo.

   Zeus era cego de amor por ela e para ele tudo estava bem, então creio que tenha sido difícil ver que a pessoa ao qual você se dedicou tanto tempo trair nossa confiança.

  — Eu pensei que se lhe contasse nada daria certo, a garota me encantou quando a conheci Zeus. O seu jeito. —falei. — Não sei lhe explicar.

   Observei que um sorriso se formou em seu lábio e nesse momento Ares se aproximou com sua filha, ela estava calma e tinha dormido.

  — Então gostam de conversar ao luar. — afirmou baixo, para que não acordasse a pequena.

  — Lembro de Nicolle, eu a conheci quando ainda era um bebê. A segurei em meus braços e acalmei seu choro, sabia que no fundo eu sentia algo por ela, mas não imaginava que me casaria e teria filhos. — contou ele baixo, respeitando a pequena. Não queria que ela acordasse, agora que conseguiu dormir.

   — Eu meio que imaginei que a conhecia, mas não que era desde pequena. — disse Ares e Anne começou a chorar novamente, ele a segurou e pedia silêncio para a filha e ela chorando mais e mais.

   — Infelizmente não foi eu que a acordei. — afirmou Zeus rindo dele.

   — Minha vida é essa pequena independente dela chorar ou não, ela, Lucas e Laura são meus amores. Laura foi uma mulher corajosa e me fez sentir algo que a muito esqueci. Agora meu dever é cuidar delas e dele. — contou ele balançando Anne que estava se embalando e dormindo novamente no colo de Ares.

    Ele se despediu e me deixou com Zeus novamente, parecia um bom pai.

   — Você vai atrás dela não é? Saiba que o que precisar Apollo, estamos aqui. — disse se levantando. — Não quero que tente nada sozinho, você sabe.

   — Bom, as vezes temos de quebrar regras. Sei que querem ajudar, mas agora eu tenho de tentar resolver sozinho. — afirmei e ele me abraçou.

   — Você não está sozinho, não se cobre Apollo. Não se culpe, por favor tente só não fazer burradas. — falou enquanto estávamos abraçados.

   — Eu sei, vou ficar bem. Você tem coisas a cuidar. — informei e ele saiu.

  Esperei que todos fossem embora e ali fiquei a observar o céu, olhei para o horizonte e vi as montanhas mais altas com seus picos congelados, era para lá que deveria ir e não ficar aqui mais. Meu coração clamava por alguém e esse alguém era Maira, não ia me calar ou ficar parado ali.