Ele quer baralhar-me. Eu sei. Faz isto tudo para me ver a perder as estribeiras, para que cometa um deslize e comprometa nem sei bem o quê. Isto acontece entre nós há demasiado tempo, a nossa relação, desde o início, desde que nos conhecemos. Pelos vistos toda a gente sabe e ninguém interfere ou tenta chamar-nos à razão, pelo que me leva a concluir que não há nada a comprometer. Em relação à minha reputação ou à dele, muito menos.
Por isso, não passa de um jogo, de uma brincadeira da parte do Chester. No fundo, não existe uma intenção maldosa. Ele era incapaz de me fazer mal deliberadamente e com o objetivo de me prejudicar. Se eu o enfrentar, ele recua e recolhe-se numa carapaça de vergonha e de arrependimento. Também não o quero melindrar. Adoro-o demais para isso.
Chester quer confundir-me para ver se ainda sinto o mesmo por ele, passados todos estes anos desde aquela primeira aproximação, na autocaravana estafada que usávamos para viajarmos de uma ponta à outra pela América profunda, para darmos os nossos primeiros concertos fora da nossa cidade. Quer saber se me consegue fazer reagir, saber se eu o amo.
Amo-te, porra!
Nunca mais o disse, não foi? E ele não sabe... tenta adivinhar, tenta quebrar o enigma e desvendar o mistério puxando-me para arrecadações e fazendo-me broches.
Foda-se, Chester! É assim tão complicado o que temos?
É. Claro que é. Estou a ser injusto e maldoso. Sim, eu estou a ser maldoso nesta equação, linha finita com duas extremidades ocupadas por mim e por ele.
Estou demasiado distraído e já me enganei em dois acordes, na mesma canção. O Brad chegou-se a mim e olhou-me, admirado. As sobrancelhas a formar dois arcos perfeitos na testa larga, parcialmente encoberta por aquela cabeleira encaracolada que faz lembrar uma ovelha preta. Ele não sentirá um calor absurdo na cabeça com aquele gorro natural? Pisco-lhe o olho, encolho os ombros e continuei a sacudir a cabeça para diante e para trás, ao ritmo do riff violento da canção. Fingi que não me apercebi do engano. De resto, ninguém na plateia ululante pareceu se ter dado conta, sou apenas a guitarra de apoio e a música que tocamos compõe-se de várias partes em harmonia. As guitarras do Brad e minha, a bateria do Rob, os efeitos sonoros da mesa de mistura do Joe, o baixo do Dave e a voz do Chester.
Aperto o braço da guitarra e os meus dedos estão rígidos e estúpidos.
Não posso voltar o meu pensamento para ele que me lembro imediatamente da sua boca e da sua língua, minutos antes de termos tomado aquele palco de assalto com som, luzes e o nosso talento. E fecho os olhos, recordando como foi bom, demasiado bom.
Eu amo o Chester.
É uma noção global, que açambarca um território bastante imenso e universal, que inclui o amor que eu lhe tenho como amigo, como irmão, como companheiro de armas, ainda que eu não saiba exatamente como é que isso será, pois nunca fiz serviço militar, mas posso imaginar, como... bem, como amantes. Amo-o dessa forma também, é uma parte do conceito. Defino isso através do desejo que sinto por ele, de como me entrego, de como quero que ele seja meu. O meu Chazy.
Compreendo-lhe as inseguranças, também as tenho. Nem sempre sei se ele é meu. Porque eu nem sempre sou dele como ele me quer... Depois aparecem as frustrações e as distrações.
É nesse nível que ele me quer baralhar.
Muitas vezes me pergunto se ele precisa de uma afirmação inequívoca da minha parte. Uma declaração oficial de que nos amamos. E como raio se faz isso?
A canção termina. O Brad aproxima-se.
- Ei, meu...
- Está tudo bem. Só um pouco de nervosismo.
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O Lado Oculto da Lua
FanfictionMike e Chester têm uma relação conturbada desde que se conheceram. Guardam segredos e compartilham sentimentos, mostram ao mundo a sua união e desunem-se em privado sem conseguirem viver um sem o outro. Entre encontros e desencontros, altos e baix...