XXV - Aperto

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Aqueles últimos dias tinham sido muito bons. Estivera em lua-de-mel depois de ter casado com Anna Lovejoy, o amor da sua vida, a sua primeira namorada a sério, a mulher com quem tinha aprendido a amar e a ser amado. Se havia definição de felicidade, era aquela, de certeza. Pertencer a alguém e dar-se, completo, sem receios ou vacilações, era maravilhoso.

Mike passava os dias num saboroso enlevo ao lado da Anna. Aproveitavam os minutos, estando sempre juntos, partilhando afazeres e ideias, fazendo amor, rindo-se muito. Porque depois havia a banda e ele iria voltar a ausentar-se, por mais alguns meses. Também gostava de estar sozinho, nos seus assuntos, aquilo que ele mais gostava de fazer, que era tanto passatempo, quanto profissão. A música preenchia-lhe esses momentos, a ouvir ou a compor. E esse afastamento, ainda que por algumas horas, aumentava-lhe o apetite de estar com a Anna – a todos os níveis. Beijavam-se e enrolavam-se em saborosas descobertas sexuais em qualquer canto da sua nova casa. No balcão da cozinha, no chuveiro, no chão da varanda, no sofá da sala, na mesa da copa.

Depois de uma viagem curta de duas semanas a um destino secreto, estavam de volta a Los Angeles. No mês seguinte, os Linkin Park iriam regressar às digressões, para promoverem o seu mais recente disco e segundo álbum, Meteora, que estava a ser um sucesso. Atualmente, eram o grupo mais tocado na rádio e aquele com mais acessos na página oficial da internet. Tinham de aproveitar a onda.

A Anna ficava amuada quando o via a falar com o empresário, ou quando ele mencionava as próximas viagens da banda. Ele sabia que ela o queria em exclusivo naqueles meses, mas era impossível. Mike tentava dedicar-se à mulher e não a aborrecer, mas a Anna tinha um feitio especial, chegando a ser difícil e exigente. Se lhe dava para embirrar, ele não conseguia contrariar a sua teimosia.

De qualquer modo, a saída em digressão seria inevitável, por muito que ele ou ela quisessem adiar o facto. Por isso, nem valia a pena discutir a questão. Fazer de conta que nada iria acontecer dali a três dias era o mais sensato.

O saldo final, porém, era claramente positivo e Mike, sinceramente, gostava de ser um homem casado. Dava-lhe uma certa segurança emocional, proporcionava-lhe um abrigo concreto e a sua vida tinha outro sabor experimentando todo esse mundo novo do compromisso e da partilha.

Vinha da cozinha com uma tigela cheia de uvas. A Anna tomava um banho e tinha-lhe dito que estava a preparar uma surpresa. Só à menção da palavra surpresa ele ficou excitado e conversou com o Mike pequenino, entre as suas pernas, pedindo-lhe que sossegasse por enquanto, que em breve voltaria à ação. Trincava um bago, a rir-se consigo mesmo, a imaginar que dali a minutos estaria novamente na cama, quando reparou no seu telemóvel apagado. A Anna cantava dentro da banheira e ele resolveu ligá-lo, conferir mensagens e o que mais ali estivesse guardado, para voltar a desligá-lo.

Assim que introduziu o código que desbloqueava o aparelho, este vibrou imparável. Dez chamadas não atendidas e as mensagens curtas entupiam a caixa de entrada. O polegar movimentou-se sobre os botões para conferir quem quisera contactá-lo, quando o toque estridente de chamada surgiu e ele leu no pequeno visor que se tratava de uma ligação do Brad.

Carregou no botão verde, levou o telemóvel ao ouvido. Pousou a tigela com as uvas na mesa de centro da sala. Antes de poder saudá-lo, o guitarrista gritou-lhe do outro lado:

- Mike? Meu Deus, Mike! Ainda bem que atendeste!

- O que foi Brad? O que é que se passa?

- Que merda! Porque é que estavas com o telemóvel desligado?

- Então, Delson... não queria ser incomodado. Estou com a Anna. Estamos ainda em lua-de-mel. Vê lá se respeitas. Achava que tinha explicado que nestes dias não estava disponível para ninguém. Depois de amanhã, em junho, já podemos...

O Lado Oculto da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora