XXXIV - Pormenores

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Os Linkin Park voltavam a reunir-se no estúdio e todos os seus membros foram convocados. A altura era propícia a mudanças, qualquer treta cósmica, o risco calculado que era necessário assumir. Trocaram de produtor principal e havia rumores histéricos na imprensa.

Em última análise, havia uma vontade indelével de novidade e de renascimento e Chester desconfiou que ele era a razão principal para o tumulto. Depois do que tinha tentado fazer semanas antes, acabar com a própria vida, todos aqueles que o rodeavam afadigavam-se para que ele se sentisse apoiado e entretido numa ocupação válida, que o distraísse no bom sentido. Queriam evitar uma repetição e utilizavam todos os meios disponíveis para lhe demonstrarem que ainda valia muito a pena continuar vivo, ativo, porque era amado, imprescindível e insubstituível.

Ultimamente, Chester notava que as decisões que o implicavam eram tomadas rapidamente, sem preparação e sem grandes consultas, debates, instruções, de maneira a impedir que tivesse espaço para pensar, concordar ou negar. Era como que transportado de um lado para o outro e devia deixar-se levar, indefeso e calado. Tudo era feito para o seu bem, mas Chester não deixava de achar aquilo ridículo e desconfortável.

O trabalho com a banda seria o que finalmente o acalmaria de vez. Na parte que lhe tocava, que não pôde confessar por manifesta falta de espaço e oportunidade, achou natural regressar ao estúdio. Afinal, era a sua banda e os amigos músicos foram, desde que se conheceram, o escape para os seus problemas.

Quando recebeu a convocatória, por telefone, dissera ao Rob que iria aparecer – mas só o fizera dois dias depois. Não tinha sido uma recusa, nem usara o tempo para resolver eventuais hesitações. Simplesmente esquecera-se do compromisso.

- Deixei-me dormir, meus... desculpem lá – justificou-se sem demonstrar grandes arrependimentos, pois não estava, de facto, arrependido. Tinha o seu sorriso habitual, que era sincero, naquela medida certa de veracidade que enganava a todos. Bateu com as mãos uma na outra. – Vamos lá trabalhar! Estou aqui para trabalhar! O que é que temos para hoje?

- Estiveste a dormir dois dias... vai enganar outro – censurou Joe.

- Joe! Calado! – admoestou Brad. – Se o Chaz diz que esteve a dormir... é porque esteve mesmo a dormir.

Ele apagou o sorriso.

- O que foi? Perdi alguma coisa nestes dois dias?... Não estava à espera de voltar a gravar tão cedo. Afinal só se passaram três anos desde que aqui estivemos... Ou foram quatro? É isso que querem que vos diga? Mas aqui estou e estou pronto. Quero começar.

Mike dedilhava as teclas, fingindo-se longe da discussão. Mas ouvia tudo. Chester sabia que Mike colecionava todas as pequenas interações entre eles, também as grandes influências, o que era bom, o que era péssimo, e armazenava o conjunto no seu sistema interno. Era um passatempo tóxico e um pouco desnecessário. Só que ele nunca tivera coragem de chegar ao pé do Mike e dizer-lhe isso. Porque fazia o mesmo e seriam dois mentirosos a justificar as suas mentiras.

Brad pousou uma mão na sua nuca, fez uma pequena massagem.

- Não existe qualquer problema, Chaz. O Joe está com falta de açúcar... vai comer, Joe! Trouxeste algum material teu?

- Hoje, não. Mas tenho coisas minhas, sim...

- O Mike está com umas ideias malucas.

- Yeah! Ideias malucas! – exclamou, entusiasmado.

- Trazes amanhã. Trazes depois. Não importa. Ainda estamos no início. Não perdeste nada nestes dois dias. Como é que estás, meu?

- Estou bem. Acredita em mim. Estou bem.

O Lado Oculto da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora