Ao fazer as malas Chester estava tão eufórico que se esqueceu da escova de dentes, do desodorizante e de um par de sapatilhas que, segundo a sua superstição, dava-lhe sorte. Mas era um par tão estafado, sapatos descosidos de lado e remendados com fita adesiva, que ele não se importou muito. Estava na altura de mudar de superstição e aquele era um sinal claro de que devia avançar para outros talismãs. E já não podia apresentar-se com os sapatos rotos, começava a ser uma verdadeira estrela do rock e havia que cultivar um certo estatuto.
Quanto à escova de dentes, comprou uma no aeroporto. E pediria emprestado o desodorizante de alguém, porque continuava distraído e impaciente e voltou a esquecer-se de comprar o produto perfumado para disfarçar o seu cheiro a suor.
Os Linkin Park iriam sair na sua primeira digressão internacional naquele mês de março de 2001 e essa era a razão da sua euforia – que era mais do que justificada. Todos os outros também partilhavam da sua alegria esfuziante, não a demonstravam com tanto estardalhaço, por isso ele parecia o maluquinho de serviço. Não se importava. Queria todos consigo, a cobri-lo de atenções. Precisava de uns mimos, de que lhe lembrassem de como era importante. Sentia-se algo carente e ansioso. Era a viagem e era o resto.
Continuava aborrecido com o Mike depois de ele lhe ter dito aquelas parvoíces quando o fora ajudar com a mudança para a sua casa nova. Nem fora bem uma mudança, mais o carregamento de três pobres caixas de papelão com roupa dentro e as suas poucas tralhas, mas isso não vinha ao caso. O Mike fora estúpido e ele, bem, estava assim para o zangado. Não demonstrava animosidade, brincava também com o japonês, o seu colega vocalista e compositor, mas apenas quando estavam em grupo. Evitava ficar sozinho com o Mike e arranjava sempre um motivo para que isso não acontecesse. Colara-se ao Brad e ao Dave, que tinha recentemente regressado à banda como baixista. Também andava muito com o Joel, o tipo que tratava do merchandising.
Os Linkin Park seriam uma das duas bandas de apoio, juntamente com os Taproot, naquela digressão em que os cabeças de cartaz seriam os Deftones, uma banda californiana com sucessos importantes no seu currículo e que estavam atualmente a promover o seu mais recente trabalho. A sua música colava-se à nova categoria do nu metal, onde se incluíam os Linkin Park, mas o vocalista Chino Moreno afirmava, com um certo tom de despeito, que eles eram uma banda de metal alternativo e que iriam sobreviver, quando todas as bandas desse novo género já teriam morrido, os Linkin Park incluídos. Por isso, eles não se misturavam e Chester evitava-os, porque já tinha começado uma pequena discussão com o baterista dos Deftones, o Cunningham. Os ânimos acalmaram-se, mas as provocações continuaram e o Rob dissera-lhes que era melhor ignorar as grandes estrelas daquela comitiva, pois seriam eles que sairiam prejudicados. Afinal, não passavam de uma das bandas de abertura.
- Somos bastante melhores do que eles – insurgira-se Joe, votando um olhar assassino ao baixista de origem oriental, Chi Cheng.
- Eles vão aprender isso, verás – replicara Mike.
- Quando? – perguntara Chester, puxando uma passa ao cigarro.
- No fim deste ano. O nosso álbum está a vender melhor do que o deles e é por isso que estão irritados. É o nosso disco de estreia... enquanto que eles vão no terceiro ou no quarto álbum. São sangue velho e nós somos sangue novo. Ninguém quer ser o paizinho neste negócio e eles estão a fazer esse papel. Não gostam. Está visto.
- Eles têm boas críticas, também.
- Eles são bons. Mas nós somos melhores – concordara Brad.
- Espero que se afastem. Não suporto o paternalismo do Moreno – dissera Dave.
- Nós somos nós, eles são eles – continuara Mike. – Temos de nos preocupar com a nossa música, com a nossa apresentação. É só isso. Vamos fazer com que valha a pena estarmos aqui a acompanhá-los e a suportar a sua condescendência. E vamos surpreender toda a gente.
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O Lado Oculto da Lua
Fiksi PenggemarMike e Chester têm uma relação conturbada desde que se conheceram. Guardam segredos e compartilham sentimentos, mostram ao mundo a sua união e desunem-se em privado sem conseguirem viver um sem o outro. Entre encontros e desencontros, altos e baix...