XXII - Normal

42 5 34
                                    


Naquele dia, Chester teve uma surpresa.

O seu rosto iluminou-se num sorriso magnífico e sincero. Abriu os braços e gritou:

- Tali!

A sua mulher juntava-se à digressão que conhecia a sua mais recente etapa, pelos Estados Unidos da América. Tinham estado no México e agora cobriam algumas cidades da costa oeste. Haveriam de terminar em Nova Iorque. Quando atuavam em casa, a sua família mais chegada juntava-se ao circo e não raras vezes as suas mulheres faziam-lhes companhia. Nunca era programado ou antecipado. Elas juntavam-se ou uma delas tomava a iniciativa, combinavam tudo em segredo com o gestor da digressão e apareciam. Daquela vez era só Talinda Bennington.

Chester agarrou na mulher, levantou-a do chão, no movimento descendente pespegou-lhe um beijo na boca, inclinando-a para trás, num passe de dança. Riram-se, com os lábios colados. A ponta da língua dele insinuou-se.

- Chester!

- Amor, estou tão feliz por te ter aqui comigo!

- Ah, não exageres, querido. Olha ali o Mike... estás a fazer uma cena.

- O Mike não se importa. Não é, Mike?

Olharam os dois para o japonês. O sorriso que Mike lhes mostrou foi entre o cansado e o forçado. Levantou-se do sofá, largou a revista que estava a ler para passar o tempo.

- Ora, vou deixar os pombinhos à vontade. Vão querer matar saudades, de certeza.

- Ei, Mike... estamos a atrapalhar-te, ou quê?

- Não! – respondeu, voz esganiçada.

- Não? Que não foi esse, Shinoda? Estás com vergonha da Tali?

- Mike... então? Sou eu! – sussurrou ela, divertida.

Mike puxou Talinda dos braços dele e abraçou-a, por fim, dando-lhe um beijo na bochecha.

- Bem-vinda, querida.

- Oh... Obrigada, fofinho. Já estava a faltar o meu beijinho. A Anna não pôde vir. Eu ainda falei com ela, sabes?

- Eu sei, eu sei... está atrapalhada com a editora que lhe pediu um trabalho urgente – confirmou Mike, segurando-a pela cintura, os rostos próximos. – Ela contou-me.

- Ela disse-te que eu viria até aqui? – Talinda abriu os olhos.

- Não, não. Eu também não sabia. Nenhum de nós sabia que ias chegar. Foi mesmo uma surpresa.

- Ah, ainda bem... Cada vez é mais difícil fazer estas coisas em segredo. Tenho de telefonar a uma dezena de pessoas diferentes, pedir favores a tipos que nem conheço e que vão confirmar que sou mesmo eu. O vosso staff não terá gente a mais? Acho que noto alguma ineficiência na máquina. Antes conseguiam fazer as coisas bem e sem haver tanto departamento e secção e chefes disto e daquilo.

- Gente a mais? Não, menina – negou Mike, embalando-a num movimento suave. – A nossa marca é que cresceu e as exigências tornaram-se outras. Já não chega a organização que tínhamos antes. Se há mais gente foi porque precisamos de os contratar para montar o nosso espetáculo, sem falhas. Não suporto falhas, tu sabes.

- Conseguiria fazer muito melhor. Dá-me um mês. Eu também sou perfecionista.

- Não tens uma família numerosa para cuidar, menina?

- Sim! E um marido! – interveio Chester puxando Talinda dos braços de Mike. – Que falta de respeito é esta, porra?

Mike riu-se e deu outro beijo na bochecha da Talinda. Chester olhou-o atravessado, rosnou, arreganhou os dentes, mas não conseguiu manter por muito tempo a farsa de tipo zangado prestes a desfazer a cara de outro tipo com um soco. Riu-se também, enquanto Mike lhe mostrava as mãos, a recuar. Puxou, depois, a sua mulher para mais perto dele. Ela era toda felicidade por estar a ser disputada pelos dois.

O Lado Oculto da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora