XLII - Promessas

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Uma vez tinham-lhe perguntado, tu fazes tudo o que o Shinoda quer?

Basicamente, respondeu, sem dar grande importância.

Mas se ele tivesse levado atenção, o que seria o mais sensato, perceberia que tinha havido uma censura e que tinha sido lançado um alerta. Um daqueles conselhos velados que gostavam de lhe dispensar. Ele detestava essa condescendência, essa propensão que os outros tinham de o conduzir, porque ele, aparentemente, precisava que o ensinassem a não sair do caminho que definia a felicidade; porque ele, aparentemente, era um caso perdido que necessitava de orientação permanente.

E se ele quisesse obedecer cegamente às ordens do Shinoda? Ninguém tinha nada que ver com isso. Ele era um homem feito, responsável pelos seus atos e assumia sempre os seus erros, que eram consideráveis. Em privado, em público, um enorme rol de erros que o tornavam humano e bizarro, em simultâneo.

Passou as mãos pela cabeça, sustendo a respiração. Deixou os cotovelos espetados e adotou essa posição durante muito tempo. Muitos minutos se passaram, Chester perdeu a noção do tempo. Voltado para a parede, concentrou-se nos seus movimentos respiratórios. Inspiração. Expiração. E acalmava-se. Embrulhado em silêncio, dentro daquela pequena sala, ele estava a relaxar, a largar lastro, a reencaixar-se no mundo.

Embirrava com quem o quisesse manobrar, espicaçando-o contra situações que ele tinha mais ou menos controladas. O Mike era território proibido, ninguém podia atrever-se a pisar o lugar onde eles pertenciam. O conceito desse lugar era amplo. Incluía música, amizade, família, recordações, amor e segredos.

Podiam alegar, com aquela mesquinhez típica dos invejosos, que ele se irritava injustamente com quem lhe estava a mostrar a verdade. Pois se não gostava de ser manobrado, por que razão deixava o Shinoda fazer precisamente isso? No entanto, Chester não via as coisas dessa perspetiva, pois entre ele e Mike havia uma relação que, se parecia desequilibrada aos olhos dos outros, não o era, de facto. Ele tinha um grande poder sobre o Mike – só não considerava utilizá-lo, nem sequer colocava essa hipótese.

Como um país armado com bombas nucleares. Carregar no botão vermelho era possível, mas as consequências eram tão terríveis que tornavam essa opção improvável. E esquecia-se que existia esse célebre mecanismo que convocaria o apocalipse. Ou fazia-se por se esquecer.

Por que motivo não os deixavam em paz? Porque havia essa mania de querer desestabilizar o que eles tinham? O que eles eram? O que eles significavam?

O seu corpo foi pressionado contra a parede e ele baixou os braços, de repente, assustando-se.

- Spike...

Sentiu os beijos na parte de trás do pescoço e gemeu, com os olhos fechados.

- Spike.

- Quero ter-te agora.

As mãos do amigo, quentes, ansiosas, viris, apalpavam-lhe o peito por cima da camisa. Chester inspirou profundamente, enchendo-se de desejo e de paixão. Aquele fogo era tão bom, nele e em Mike. Sabia que a fogueira estava a ser atiçada, aos poucos, sabia que em breve as chamas iriam consumi-los num inferno de luxúria de onde iriam sair satisfeitos, esgotados e viciados. Naquele dia, fora Mike que o tinha ido procurar. Ele sabia que iria acontecer. Tinha-lhe dispensado olhares significativos, que diziam na linguagem muda que partilhavam que ele precisava de um afago e que estava disponível para afagar. Percebera como tinha deixado o amigo perturbado, como o tinha desconcentrado. A sessão de gravação estava a ser pouco produtiva, porque Mike Shinoda fazia mais interrupções do que as normais. O Joe até saíra, aborrecido com a indolência do japonês e o Brad perguntara-lhe, diversas vezes, o que é que se passava. Chester fazia-se de desentendido.

O Lado Oculto da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora