Primeiro disco editado em outubro do ano 2000 e tinham de se fazer à vida. Estavam ansiosos para começar, na realidade. Confiantes no seu mérito enquanto músicos de uma nova geração com ideias inovadoras e diferentes, queriam dizer ao mundo que tinham chegado e que estavam ali para ficar, mesmo que outros estranhassem e que os quisessem empurrar do pedestal para o qual escalavam, determinados.
Alugaram uma autocaravana gigantesca, em que pudessem caber todos mais o equipamento monstruoso do disc jockey e meteram-se à estrada, depois de arranjarem contrato com uma série de bares, discotecas e pequenas salas onde iriam tocar o seu disco ao vivo, para um público maioritariamente adolescente e pouco exigente.
Cada etapa cumprida era felicidade, excesso e crescimento. Existiam em permanente festa. Conheciam pessoas, tiravam fotografias, faziam filmes, cometiam imprudências. Tinham conversas sérias e brincavam a toda a hora. Confessaram-se e dissimularam. No fundo, sem outras elaborações, eram jovens e queriam viver. Não havia autocaravana mais louca do que aquela a atravessar a América.
Numa das paragens, o veículo estava estacionado no parque de um motel. Ao lado funcionava um bar esconso onde tinham tocado no início da noite. Foram pagos miseravelmente e como já sabiam o cachet de antemão, nem meia hora tocaram. O dono do bar gostou da sua energia e resolveu oferecer-lhes umas grades de cerveja, para compensar o punhado de dólares com que tinha comprado a sua atuação e eles, claro, aceitaram o pagamento suplementar.
Bebiam com saloios e com mulheres atrevidas que achavam graça aos rapazes californianos, tão cheios de sol. Alguns jogavam bilhar, outros simplesmente trocavam brindes atabalhoados, fazendo chocar as garrafas de cerveja. Não se falou de música, não era um tópico adequado de conversa. Aliás, não se falava muito entre sons boçais, gargalhadas e dichotes. Estavam todos meio bêbados quando Mike reparou que não via o Chester em lado nenhum.
Saiu para a rua, com a sua garrafa na mão. Estava mais fresco e ele arrependeu-se de ter deixado o casaco no bar. Eram realmente rapazes da terra do verão e ressentiam-se com variações abruptas de temperatura. Foi caminhando por ali, olhando casualmente a ver se encontrava o outro. Chegou à área do motel, descobriu-o a fumar junto a um dos pneus da autocaravana. Não era um cigarro normal, era um charro e ele franziu o nariz ao reconhecer o cheiro.
- Ei, meu... estás aqui.
Chester assustou-se. Escondeu o charro atrás das costas, abanou o fumo que pairava junto à cara.
- Ei. Estava muito calor dentro daquela pocilga. Vim apanhar ar.
- O que estás a fazer?
Voltou-se de costas para mais uma passa.
- Tu sabes o que estou a fazer, Shinoda... Descola.
Mike não podia repreendê-lo, achava que não tinha esse direito. Já o tinha avisado várias vezes sobre os malefícios que vinham com as drogas, mas o outro era adulto, maior de idade, mais velho do que ele e tinha conhecimento de todos os prejuízos associados ao consumo de erva, ácido e essas porcarias todas. Se quisesse ficar pedrado, que ficasse. Desde que não prejudicasse os espetáculos, ele não podia argumentar contra aquela atitude que, no fundo, não lhe causava qualquer problema direto.
- Queres entrar? – perguntou, apontando a autocaravana com a garrafa.
- Vais oferecer-me uma cerveja?
- Yeah... posso oferecer-te uma cerveja. – Mike abriu a porta com a chave que trazia no bolso. Só ele e o Joe é que tinham as chaves do veículo e faziam questão de apontar isso, como que a dizer que eram eles que mandavam naquilo. Ninguém tentou o golpe de estado para os aliviar do comando.
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O Lado Oculto da Lua
FanfictionMike e Chester têm uma relação conturbada desde que se conheceram. Guardam segredos e compartilham sentimentos, mostram ao mundo a sua união e desunem-se em privado sem conseguirem viver um sem o outro. Entre encontros e desencontros, altos e baix...