XXXVIII - Branco

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- Ei, Bennington! O que fazes aqui? 

Olho para o segurança que está à porta do estúdio. Tem as mãos enfiadas nos bolsos e parece que vai cair morto no cimento do passeio, vítima de um ataque fatal de tédio. A rua está calma, ninguém passa por ali, deve estar a ter um dia de merda. Para um segurança não ter ninguém para controlar e derrubar com uma boa chave de pescoço, porque está a ser intrusivo ou algo parecido, classifica-se como um dia de merda. Ninguém à vista que queira invadir o estúdio de gravação. Ninguém que queira espreitar o que andam os Linkin Park a fazer. Deixámos de ser importantes... isso é bom ou é mau?

Há sempre gente que nos segue, mas, no geral, nesta fase, somos apenas mais uma banda que produz música, uns tipos que tiveram uns sucessos alguns anos antes e que estão na indústria porque não sabem fazer mais nada.

Porra! Como é que fiquei tão azedo, de repente? Deve ser por causa da estúpida dor de cabeça que me aperta o crânio num torniquete e que me esmaga os ossos sem piedade.

Onde é que íamos? Ah... tenho de responder a uma pergunta...

O segurança chama-se Pete qualquer coisa Andrews. Costuma acompanhar-nos nas digressões. É grande, intimidante, maciço. O verdadeiro conceito de armário. É muito porreiro tê-lo connosco, ninguém se aproxima. Nem aqueles fãs que são outros armários e que funcionam como aríetes – se lhes apetecer, levam tudo à frente. O Pete gosta de festas e bebe como um cavalo. Nunca o vi bêbado, realmente, mas é uma esponja. O álcool deve evaporar no sangue, nem o contamina. Ele tem um sistema circulatório impressionante, calculo, o sangue percorre veloz as veias para nutrir toda a carne dos músculos imensos e a bebida nem lhe chega a afetar o cérebro e o sistema nervoso. Que gajo grande! Ele já carregou comigo inconsciente, disseram-me, por ter tentado derrubá-lo. Isso é impossível. Não o facto de me ter carregado, o facto de eu ter tentado uma placagem. Devia estar muito bêbado para cometer a ousadia e para não me lembrar de nada disso.

Onde é que íamos mesmo?

Resposta. Dá uma resposta, Bennington!

Há um zunido na minha cabeça. Fui eu que quis vir, agora tenho de me aguentar. A minha mulher bem me disse para telefonar e contar que não estava bem, mas sou teimoso e orgulhoso. Agora, estou meio arrependido, mas que se lixe... se aqui estou, não volto para trás.

Respondo, finalmente:

- Vim trabalhar.

- Trabalhar? Com esse aspeto devias estar no hospital. Ou na morgue. O que é que se passa, meu?

Pois é... não consigo enganar ninguém, mesmo que esteja a usar uns óculos escuros para esconder as olheiras e o meu olhar desvanecido. Sacudo os ombros, tento melhorar a minha aparência, mostrar-me em boa forma. Devo parecer ridículo, um pedaço mal-amanhado de gente a tentar esconder os defeitos visíveis e os invisíveis.

- Estou doente.

É isso. Simples e direto. Estou doente. De vez em quando, adoeço.

- Se estás doente, porque é que vieste trabalhar? Ontem não estiveste cá e nem no outro dia.

O quê? Ele regista as presenças? Sinto uma leve irritação a corroer-me. O sangue pulsa nas minhas têmporas e franzo o rosto. Dói-me a porra da cabeça. Não lhe respondo, pois estou a tentar controlar as dores e ele aceita o meu silêncio como um daqueles amuos típicos dos músicos que não gostam de responder. Se bem que ele me conhece, conhece-nos a todos e sabe que não temos esses tiques de vedetas.

Pete condói-se com o meu estado. Observa-me, eu deixo-me observar.

- O que é que tens?

Revelo, num tom que sugere que estou condenado a viver apenas alguns meses:

O Lado Oculto da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora