XXXV - Mentiras

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Chamei o Chester de parte e disse-lhe:

- Vais cantar comigo. Prepara-te para subir ao palco.

- Vou cantar contigo? Agora?

- Hum-hum. – Sorri-lhe.

- Temos o espetáculo com os Linkin Park depois...

- Pois temos, meu. Mas quero que cantes comigo e com os Fort Minor. Está bem, Chazy?

Notei claramente o arrepio que lhe causei ao chamá-lo pela alcunha. Ele queria, tanto como eu, um encontro, mas naquela ocasião não vai ser possível. Estamos acompanhados e raramente nos deixam sozinhos. A ele, muito menos. A Talinda é uma autêntica segunda pele para o Chester. Não a censuro. Ela apanhou um valente susto e não quer que ele repita a piada de mau gosto. Protege-o como acha que o deve fazer e isso torna-a um pouco possessiva. Criou um perímetro à volta do Chester e é ela que gere quem pode ultrapassar a fronteira. Até eu estou excluído, mas tento não me importar. Porque é lixado! Deixei de ter o normal acesso ao Chester como tinha.

Quando a Talinda perceber que as coisas acalmaram depois da borrasca, ela vai levantar a ordem de restrição e o Chester vai poder movimentar-se normalmente... acho eu! Talvez a vida do Chester tenha mudado definitivamente com este novo casamento e eu é que estou a ter esperanças.

Nunca mais vai ser como era antes e também eu devo adaptar-me.

Mas há intervalos de tempo em que é possível recuperar o passado. Não é um dos meus exercícios favoritos, sou mais um homem de futuro, só que aborrece-me ter de cortar com certos hábitos, pois também sou um homem que aprecia uma base concreta para poder andar com a minha cabeça perdida nas nuvens.

O Chester e eu somos uma plataforma fixa desde há quase dez anos e não nos podem retirar isso... eu não irei admitir que nos retirem isso.

- Está bem... Chazy? – repito, olhando-o através das pestanas.

Ele franze as sobrancelhas, torce a boca. Está a pensar – não na proposta em si, em outra coisa qualquer que lhe torna os olhos opacos. Tenho a impressão, e isso desde que começámos a gravar novas músicas, que o Chester está desconfiado de que tudo o que acontece agora nos foi imposto por causa dele. Por um lado, ele sabe que voltámos a trabalhar porque era necessário e havia novas ideias, os Linkin Park continuam, porra, ainda temos muita música para apresentar ao mundo. Mas, por outro lado, tanto que aconteceu desde o Meteora e o Chester sempre teve as suas paranoias. Estamos todos mais velhos e mudados. Curtidos pela experiência destes anos.

Dou-lhe um pequeno soco no peito.

- Vai ser uma surpresa...

- Tu nunca fazes as coisas de surpresa – aponta-me, ressentido.

Mordo os lábios e concordo. Abraço-o pelos ombros.

- Ei, tu vais safar-te bem. Não tens qualquer problema em cantar seja o que for.

- O que queres que eu cante contigo e com os Fort Minor? Isso é tudo rap, meu... queres que eu rappe?

Entorta o rosto numa careta que me encanta. Faço-lhe uma festa na cabeça. Rapou o cabelo e arranho-me nos cabelos curtos, que mais parecem um tapete sobre o crânio. Gosto do novo visual. Agora sem cores, cor capilar natural, escura. Eu também tenho de mudar de visual, continuo o mesmo Shinoda de roupas largas e bonés de baseball, estilo skater do final dos anos 90 que rappa. Preciso de uma nova imagem também sem cores. Acho que nunca mais irei pintar o meu cabelo... foi um pequeno terror colorido, já que detesto ir ao barbeiro.

O Lado Oculto da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora