[02] Appa

161 24 8
                                    

ESCOLA - 13 DE OUTUBRO, 10:27 AM

Aquela manhã havia se passado rapidamente, eu realmente me senti bem. Eu estava passado o intervalo com os meninos depois de muito tempo. Normalmente, neste horário, eu costumo ficar com o Hoseok ou até mesmo sozinho, lendo ou escutando música clássica.

Depois da minha "decisão" de ensaiarmos mais uma vez como Bangtan, conversei o resto da aula com Jimin e Jungkook, fomos até chamados pelo professor pelas altas e constantes risadas. Já no curto, porém necessário, intervalo, encontrei-me com os outros meninos e, meu Deus, eu não havia notado o quanto eu sentia falta daquelas pestes me perturbando: o Namjoon me corrigindo em alguma frase pronunciada incorretamente; Seokjin rindo das minhas reações com aquela risada alta e exagerada — que até parecia uma hiena; o Taehyung sendo o fofoqueiro de plantão de sempre (acho que fazer parte do jornal escolar o ajuda a saber tanto sobre os outros daquele colégio), e Jimin e Jungkook sendo o casalzinho mais apaixonado e esquecendo de nossas existências enquanto se acariciavam. São coisas bem simples, mas que me fizeram tão bem no passado. E agora, depois de meses sem ter uma conversa profunda — que não fosse sobre simulados, provas e seminários — ainda me fazem bem.

Quando havíamos chego para encontrar os meninos no pátio, Jungkook contou tão animadamente sobre a ideia de voltar com o Bangtan, dando pequenos saltos de alegria enquanto falava. Era uma criança de cinco anos no corpo de um adolescente de dezesseis mesmo. Para a minha surpresa, todos ficaram extremamente animados com a proposta.

— É claro que voltaremos. — disse Namjoon, o líder do grupo. E ele tomava bem esse posto, já que, dentre nós, ele era o mais responsável e de cabeça aberta possível. Ele ainda consegue nos surpreender com seu conhecimento sobre filosofia e sociologia. — Nós só estávamos esperando você se sentir confortável novamente, Yoongi.

— Ou melhor... — Jin, do seu modo brincalhão começou, tentando deixar um suspense, mas eu já sabia o que viria após isso.

— Agust! — todos disseram em uníssono, me fazendo gargalhar alto, mesmo já sabendo que eles iriam dizer. Eu estava feliz depois de tempos.

PORTÃO DA ESCOLA - 13 DE OUTUBRO, 12:36 PM

No final do dia letivo, me encontrei com Hoseok no portão. Após a busca de meu irmão na escola dele, iríamos para minha casa, passar um tempo juntos em meu quarto. Só nós dois. Saímos de mãos dadas, como sempre, mas, para minha infelicidade, esbarramos, literalmente, em meu pai conforme andávamos. Ele estava fazendo o caminho que faço todos os dias para ir ao colegial (quando venho à pé), então, creio eu, que ele estava indo me encontrar por algum motivo.

Meu pai não sabia — ou finge que não — sobre minha bissexualidade, e muito menos sabia sobre Hoseok. Não porque eu tenha medo de contar, mas sim porque eu não acho que temos intimidade para compartilhar quaisquer informação que não seja o "sua mãe vai lavar roupa" ou "vou para o quartel hoje e sua mãe vai na rua, leva seu irmão na escola". Posso dizer que isso se encaixa perfeitamente com minha mãe e meu irmão, apesar que, os dois saibam essa parte sobre mim, já que vivo levando o Hoseok na minha típica casa coreana — que foi construída para ainda "termos uma parte de nosso país conosco".

— Quem é esse? — o homem brasileiro, alto, de olhos castanhos claro, cabeça raspada e com uma leve barriga rechonchuda causada pela cerveja tomada todo final de semana, fala, em um tom um pouco ríspido.

— O que você faz aqui? — perguntei, ignorando a pergunta que ele havia direcionado a mim.

— Eu apenas queria ver o meu filho e levá-lo para o meu restaurante favorito. — disse ele, parecendo incrédulo com a minha pergunta, como se fosse completamente óbvio que ele viria me ver hoje.

Seven DeathsOnde histórias criam vida. Descubra agora