Seven Deaths

[28] Anjo da Guarda

RODOVIA - 21 DE ABRIL, 08:09 AM

O que seria a saudade? Um sentimento que surge em nós, diante da ausência de algo ou alguém. Um sentimento que te faz querer ter aquilo em seus braços, pois você precisa dele. Nem sempre é ruim, como nem sempre é bom. É necessário? Sentirmos um vazio por conta de alguém ou algo que não está em nosso alcance e, muita das vezes, não poder fazer nada? Quando temos saudades de mais, fazemos coisas sem pensar. Coisas como tratar mal um de seus melhores amigos por conta de uma carta. Uma carta que, de certa forma, mantém uma parte do meu amor viva. Porém somente se for mantida fechada, uma vez que é uma carta de despedida. Provavelmente é um dos textos que Yoongi escreveu na época de suas tentativas de suicídio, e isso me deixa mais sensível ainda. Era uma época que ele não estava feliz. Que ele não queria viver. E lembrar disso, nas palavras dele, seria doloroso. Doloroso em um nível que eu não queria sentir. Não mais uma vez.

- Ah, foi mal. - falei, vendo que Jimin estava um tanto chocado.

Minhas mãos foram ao rosto e notei o quão molhadas estavam. Molhadas por minhas lágrimas. Lágrimas nas quais eu nem havia sentido saindo de meus olhos. Eu realmente era sensível, não é? Era só que citassem algo de Yoongi ou da Sophi que eu já tinha vontade de surtar. Talvez não tenha sido a melhor ideia ter deixado de ir ver a Cíntia. Minha mãe está tão bem agora, depois de diversas consultas, e eu concluí que, só porque eu não havia avançado em umas três consultas, a psicologia era uma grande mentira.

Park Jimin pôs sua mão em meu pescoço e pôs um carinho ali. Eu tinha certeza que sua surpresa é por minha fala, minha reação sobre o Yoongi. Eu sempre fui o que se manteve forte quando estava com ele - ou tentava -, quando estava com os meninos. Todos sabiam que eu estava mal, mas eu não mostrava. Eu ficava no meu canto, sem deixar que me vissem, e, talvez, isso tenha os deixado com uma impressão que eu fosse forte emocionalmente e só tinha pequenas recaídas. É fato que eu tive recaídas grandes com o Jimin e Taehyung, mas nunca disse que eu não havia aceitado sua morte...

- Você sabe que precisa ler, não é? - o loiro perguntou, tendo leveza e cuidado em seu tom de voz. - Ele gostaria que você lesse o quanto antes.

- Não... não gostaria. - Soltei, encarando o chão do carro. - Não depois de eu ter feito o que fiz. Eu tenho certeza que ele odiaria saber que eu o traí...

- Como assim, Hoseok? - Jimin mostrava confusão, mantendo a carícia em meu pescoço.

Novamente eu me pus a ficar em silêncio, e a resposta do garoto foi ponderar. Pelo menos foi o que seu semblante deu a entender.

- Você... está falando do Lucas? - perguntou e eu logo concordei com a cabeça, sem olhar em seus olhos. Eu não conseguiria. - Hoseok, isso não tem nada a ver.

- Como não?! - exclamei alto, começando a falar com velocidade. - Yoongi foi a única pessoa no mundo no qual eu amei com todas as minhas forças. A única pessoa que eu tinha uma conexão de verdade. A única pessoa que jurei para mim mesmo que iria proteger. - parei de falar por alguns segundos, respirando um pouco melhor. - E mesmo com tudo isso... na primeira oportunidade, eu acabo quase transando com um homem que eu mal conheço?!

- Você acha mesmo que ele gostaria que você deixasse de ter relações com outras pessoas por ficar preso à ele? Hoseok, você conhecia o Yoongi melhor do ninguém...

- E o que você sabe sobre ele?! Sempre passou o tempo inteiro numa bolha com Jungkook! Não há como falar de nós!!! - minha voz saiu extremamente alta, deixando até eu mesmo assustado.

Antes que Jimin, que estava boquiaberto, dissesse algo, algumas buzinas vieram aos meus ouvidos. O trânsito já estava um pouco melhor e meu carro estava ali, parado, no meio da rodovia. Fiquei tão imerso que até esqueci que estávamos no carro, no meio da estrada.