[09] Livre

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– Atenção! Neste capítulo há spoiler do final da trilogia de JOGOS VORAZES!

VARANDA - 03 DE FEVEREIRO, 06:02 AM

— Pegou tudo? — perguntei uma terceira vez.

— Sim, meu filho. — respondeu a moça em minha frente, com seus cabelos ruivos presos em um coque, um pouco de maquiagem em seu rosto, para lhe dar uma leve rejuvenescida, e arrumada formalmente por inteira. — Peguei a chave do carro, peguei meus óculos e também peguei os documentos necessários.

— Os seus e os de Soobin? — pergunto, ajeitando seu terninho.

— Os meus e os de Soobin. — afirmou, ao fechar sua bolsa. Ela leva seu olhar ao meu rosto e nota minha expressão de preocupação. Ela suspira e fala: — Calma, Hoseok. Vai dar tudo certo. Eu vou chegar aqui hoje com a guarda de Soobin em minhas mãos. — a mulher sacode suas mãos, tentando quebrar o clima tenso com as seus típicos gestos sem sentido. — Eu não vou deixar ele ir parar em um orfanato.

Hoje é o dia. O dia em que a justiça decidirá se o menino de treze anos, Soobin, deverá ser encaminhado à um orfanato ou então vir morar conosco, tendo minha mãe como sua responsável legal. Levando em consideração que os pais do menino desapareceram, os avós moram do outro lado do planeta, com uma língua nova para o garoto, e o Yoongi... faleceu, ela com certeza, voltaria com a guarda dele para casa. Mas de uns tempos para cá eu não consigo mais confiar que está tudo dando certo. É só usar o exemplo do meu namorado, depois de tanto sofrimento em sua vida, ele finalmente estava bem, e o resultado final não é um dos melhores.

— Eu sei disso. — confirmo, a abraçando em seguida. — Agora, eu quero que a belíssima Jung Sunhee dê um sorriso confiante. Um sorriso que mostre que o Soobin é seu filho e governo nenhum irá tirá-lo de você. — ela abre um grande sorriso quase que instantaneamente. Apesar de claramente estar nervosa, sua feição ainda passava confiança e tranquilidade. — Quero que você chegue lá com esse sorriso no rosto, ok? — ela concorda e me agradece pelo apoio, e então vai até seu carro vermelho.

Após ela sair com o carro, eu adentro em minha casa e dirijo-me ao quarto das crianças. Sophi dormia tranquilamente, parecia estar sonhando com algo bom. Já Soobin parecia perturbado, parecia manter um sono frustrante e nem um pouco relaxante. Levo meu corpo, com cuidado, pelo quarto até chegar ao criado mudo do menino. Ali estavam alguns lápis de cor e papel, um livro sobre a ditadura militar brasileira e seu pequeno rádio em formato de urso. Era engraçada a dualidade do garoto. Uma criança tão madura e evoluída, mas que não perdia a essência da infância. Ligo o radinho em uma música lenta e calma, isso o ajuda quando está em más noites. A expressão do menino muda drasticamente para algo mais alegre e doce. Dou um beijo na testa dos dois e saio do cômodo.

Depois da morte do Yoongi, não tem sido fácil para ninguém dormir nesta casa. Alguém sempre solta um grito em meio ao silêncio da madrugada em resposta aos sonhos ruins. Os meus gritos eram os mais frequentes. Eu venho sonhando com ele, todas as noites, desde o acontecido. Todos são sonhos ruins. Onde ele me culpava por sua morte. Onde ele chorava em um canto, gritando o nome do irmão. Ou até onde ele estava em um quarto escuro e úmido, acorrentado dos pés ao pescoço, cuspindo fogo pela boca. A maioria das vezes eu acordava aos prantos, mas não demorava muito para Soobin chegar ao meu quarto. Ele sempre me acalmava e ia embora depois, mas uma noite em específico ficou marcada em minha cabeça.

— Sonhou com ele de novo? — ele perguntou certa vez, se acomodando ao meu lado na cama. Lembro-me de somente concordar com a cabeça. — Ele também estava em meus sonhos essa noite. Eu sinto tanto a falta dele, Hoseok.

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