Recomeço...

3.5K 359 5
                                    

Linda

Tirei um mês de férias da hamburgueria para renovar as minhas energias e nada melhor do que se enfiar no mato, perto da natureza e dos meus pais.

Dona Lia e seu Antônio haviam se mudado para um sítio em outra cidade e acho que desde a mudança nunca tinha ficado mais do que três dias com eles, mas dessa vez eu fui sem data para o retorno.

Depois de três semanas de banhos de cachoeira, alimentando as galinhas,cuidando dos animais e andando a cavalo eu recebi a melhor surpresa que eu poderia esperar neste momento tão revigorante da minha vida. Meus amigos vieram passar a semana comigo, e quando aqueles dois carros pararam na entrada do sítio eu quase chorei de alegria. Não tinha percebido o tamanho da saudade, eu estava evitando pegar no celular nos últimos dias, focada no contato com a natureza e aproveitando o chamego dos meus pais.

Não ficávamos todos juntos assim para apenas relaxar, conversar, comer e beber desde os tempos da faculdade. A vida passa tão rápida que olhando a minha família toda junta, a família do coração e a de sangue, dava até vontade de sequestrar todo mundo e nunca mais sair daquela bolha.

Estava deitada na rede da varanda olhando para os meus amigos, escutado música e agradecendo aos deuses e seres superiores por ser tão abençoada.
De um lado a linda cena do João e a Elisa brincando na varanda com a delicinha cremosa do meu afilhado. Na verdade olhar para o Tito e cheirar aquela cabecinha, fazia qualquer dia melhor.
Na outra rede a Joana estava sentada com a Laura e as duas estavam em uma discussão acalorada sobre o que fazer no primeiro encontro com um cara do Tinder - parece que a senhora, não transo com Freud tinha um encontro -  a Joana estava falando que ela deveria trabalhar menos e não conseguia acreditar que a Laura acreditava de verdade que os caras do Tinder só queriam ser amigos dela.

Estávamos justamente falando que deveríamos desacelerar um pouco o ritmo do trabalho, pois a vida era curta e que essa semana longe de tudo estava sendo maravilhosa , quando ouvimos um grito:

-VAI PUBLICAR! - Ah desgracenta, estava trabalhando escondida. 

- JENIFFER!!- gritamos juntas.

Aquela workaholic,levou um susto tão grande que jogou o celular longe. No fundo agente sabia que ela estava infernizando os jornalistas que trabalhavam com ela escondido, andava sorrindo muito, cantarolando demais, até tinha alimentado as galinhas. Se ela realmente estivesse a semana toda sem contato com o trabalho, já estaria deixando a nossa vida uma tormenta, reclamando de tudo e dando ordens até nos cachorros do sitio. E a minha mãe com certeza já teria expulsando todo mundo a vassouradas.

Minha mãe havia acabado de colocar o café da tarde na mesa e o cheirinho de bolo de fubá e do café, foi o suficiente para pararmos de brigar com a jornalista godzilla e corrermos para a mesa. Minha mãe estava adorando a casa cheia. Ela dizia que lembrava da época que estávamos na faculdade e fazíamos churrascokê no quintal dela todos os finais de semana - sim,muito karaokê -  que por sinal, foi como a Elisa conheceu o João.

Meu pai estava adorando a ajuda extra com os animais, incluindo com um certo jumento que decidimos que não deveríamos falar o nome. Na hora de cuidar do jumento, o João falava:

-Vou lá cuidar do Jumento que tem o nome que não deve ser mencionado. - até tú, Brutus?

Todas as vezes que meu pai escutava isso eu ficava vermelha de vergonha,ele não perguntava nada mas sempre me dava uma piscadinha e citava alguma frase de Dom Casmurro. Meu pai era foda! Nada passava por ele sem uma piada, uma citação ou um conselho. Eu amava o meu pai, mas a cada citação me batia uma saudade.

Lindamente encrencadaOnde histórias criam vida. Descubra agora