Então, não me chame de amor.

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Linda:

O meu aniversário estava chegando e sabia que alguma coisa iria acontecer, nesses anos de amizade com aquelas festeiras, até me acostumei a comemorar. Nunca fui muito fã de comemoração, pois é apenas uma passagem de ciclo e o que importa é o que aprendemos durante esse ano que passou e nesse último eu havia  feito tantas amizades, e aprendido tantas coisas, entre elas me apaixonar pela pessoa na hora errada e a deixar essa paixão ir embora.

Eu estava sofrendo com a saudade que eu estava sentindo do Bento, mas o que mais me machucava era o que eu entendia como desprezo. Talvez eu realmente tenha esperado demais, ou talvez eu tenha me doado demais, estava com os meus fones de ouvido de olhos fechados, deitada no puff da sala de descanço do salão, ouvindo uma música que dizia exatamente isso ...

-Tá trabalhando aqui hoje, é? - Felipe deitou no outro puff – Tudo bem?

-Pois é , casamento de alguma sub-celebridade da cidade e a noiva fechou o pacote para todo mundo se arrumar aqui – Falei enquanto tirava os fones e virava para ele – Algo a ver com aquela banheira gigantesca do terceiro andar. Cheguei cedo e vim aproveitar esse lugar maravilhoso para tirar um cochilo.

-Porque não foi lá me dá um oi? - passou a mão no meu rosto e eu fechei os olhos, adorava esse carinho dele – Descobri que você estava aqui, pela a dupla do mal Ju e Giu,  que torcem por mim e querem que você me dê uma chance.

- Elas deveriam deixar de ser maquiadoras e criar um blog de fofoca isso sim. - falei levantando do puff e me abaixei perto dele – Não te mereço, sabia? – dei um beijo no rosto dele, me levantei e sai.

O Felipe estava sendo mais que um simples amigo nesse último mês, ele era um companheiro fora de série e justamente por isso eu não podia dar menos do que ele merecia. Desde o dia que conversamos no carro dele e que deixei claro que a amizade dele era muito importante para mim,nunca falamos claramente de sentimentos. Ele sempre soltava alguma brincadeira e eu fazia a desitendida.

Além de um homem extremamente lindo, o Lipe, era a pessoa mais carinhosa que eu conhecia, era sempre um beijo, um cafuné ou um abraço e eu que não era acostumada com tanto afeto e atenção do sexo oposto, não sabia muito bem como retribuir. A verdade é que eu estava muito magoada, não pelo Bento ter ido embora e refeito a vida dele,mas pela indiferença com a nossa amizade. O descaso com a nossa amizade, com o que a gente viveu, doía ainda mais quando eu lembrava das vezes que ele me chamou de "amor", eu nunca fiz alarde, mas o coração chegava a errar as batidas a cada vez que ele inconscientemente me chamava de "amor". 

Nos primeiros dias após o Bento ir embora, tentei buscar toda a compreensão existente dentro de mim para ignorar as paranóias da minha cabeça. Eu juro, que eu tentei entender que ele não enviou ao menos uma mensagem, pois ele estava cansado com a viagem e muito ocupado no processo de adaptação.

Aproveitei meu coração partido e me dediquei ao meu trabalho, para não pensar na falta que eu ia sentir daquela criatura, eu havia me inscrito na semana anterior em alguns cursos de reciclagem para ocupar a mente. Eu tinha acabado de chegar em casa depois de um dia todo afundada em bases e pincéis devido ao curso do dia que era de maquiagem artística, como os cursos estavam sendo em outra cidade, eu estava só o pó. 

Estava começando a tirar a roupa para tomar um banho, quando meu telefone vibrou e vi que era mensagem do Bento. Eu sorri de orelha a orelha com o trecho que uma música que narrava o que eu era no momento, "uma bagunça", no impulso respondi o áudio cantando o resto da música quase como uma declaração de amor e saudades.

Porra, sou muito trouxa!

Eu só me dei conta de quanto havia sido trouxa quando ele visualizou, escutou e nada respondeu. Estava com o celular na mão, esperando uma resposta ao menos e fazendo o cálculo de que horas eram do outro lado do Atlântico, quando o meu celular vibrou de novo e quando olhei não era a resposta do moreno.

Lindamente encrencadaOnde histórias criam vida. Descubra agora