A menina Solta - Joana

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Minha mãe me chamava de filha do vento, dizia que eu era um espírito livre e que por tanto seria destinada a passar pela vida dos outros para ensinar e amar, mas raramente permanecer.

A verdade é que nunca me interessei em permanecer em muitas vidas, sempre me bastou a minha família e os meus amigos. Na minha cabeça o amor não era para mim, o sentimento de posse que normalmente acompanhava a paixão me causava calafrios. Eu me pertencia e me bastava.

O sexo sempre foi estritamente carnal e nunca associei algo tão prazeroso ao amor, até porque o que eu conheço de amor é fraternal e extremamente puro. Amo incondicionalmente a minha família sanguínea e a família que o meu coração escolheu, e esse amor me faz extremamente feliz e realizada.

Eu curtia o Carlos Eduardo, só não estava na mesma vibe que ele, na verdade algo nele me assustava, o que eu sentia quando eu estava com ele me apavorava muito. Quando nos conhecemos, achei ele uma delícia e pelo que a Li falava ele era como eu, não se apegava a ninguém e imaginei que seria legal ter um pau amigo, bem amigo, mas saiu do controle rápido demais. O Cadu, estava se tornando presente demais na minha vida e na vida dos meus amigos e essa ligação estava me deixando um pouco insegura com quem eu sempre fui.

Sempre separei o sexo das minhas amizades, mas acabei pela primeira vez me envolvendo com alguém que circulava no meu grupo de amigos e para piorar essa pessoa era totalmente diferente do que aparentava ser. Aquele inconsequente sem filtro e totalmente pirado era também o cara carinhoso que conversava sobre tudo e fazia cafuné depois de um sexo totalmente selvagem.

Eu estava extremamente em pânico com o sentimento que estava surgindo dentro de mim e aproveitei a bebida liberada para afogar a minha confusão no álcool, e com isso acabei bebendo em excesso. E para fugir de um Cadu carinhoso e que queria bancar o casal eu já tinha sentado em todas as cadeiras da mesa e conversado com quase todos os convidados da festa. Por fim, tínhamos trocado a playlist e agora estou eu aqui dançando a música que as meninas falam que é minha na festa de despedida do meu amigo.

Estávamos no meio de um abraço bêbado coletivo enquanto cantávamos e dançávamos.

- "Vai ter que superar ,vai ter que superar ,essa menina solta, essa menina soltaaaaa" - A Jeny  cantava, olhando para o Carlos Eduardo, para irritar ele.

Aquela ali adorava atentar as pessoas!!!

- Vocês são os amores da minha vida – falo com lágrimas nos olhos,ainda abraçada aos meus pedacinhos de amor - Obrigada pela dança, obrigada por me amar!

Parabéns dona Joana, exalando o amor bêbado! 

-Te amamos muito também, mas tá na hora de você ir para casa – a minha prima rainha da sensatez falou – Vai com o Cadu, ou a gente te leva?

-Eu levo, Laura – Ele respondeu, já me apoiando em seu pescoço e segurando minha cintura - Você tá muito bebeda, vamos para casamorena – Cadu falou um pouco impaciente.

-Tá chateadinho, gato? - passei a unha no rosto dele – Fica não,hoje eu quero você!

Merda, eu falei isso mesmo?

-Não vamos transar, Joana – ele falou no meu ouvido e me arrepiei toda - Vamos antes que você estrague a noite das suas amigas.

-Tô bem e não preciso de babá, seu babaca – falei quase gritando

Eu odiava que me falassem o que eu tinha ou não que fazer quando estava sóbria, depois de quatro caipirinhas e dez canecas de chopp, eu era muito pior. Além da confusão da minha cabeça em relação ao homem que era para ser um cachorro safado que só transaria comigo uma vez, mas que decidiu ser cavalheiro justo na minha vez e que por mais que eu ignorasse e fugisse sempre acabava na minha cama.

-Cadu, quer que eu vá com vocês? - A Li perguntou – Dorme lá em casa, amiga.

A Linda deve ter lido o meu olhar de pânico, sabia que mais uma vez ele seria um homem maravilhoso e a cada vez mais ele entrava na minha pele, no meu coração. Mas não poderia estragar a noite da minha melhor amiga, o homem que ela amava estava indo embora e ela merecia um adeus de verdade e não uma noite cuidando de uma bêbada confusa e com problemas de responsabilidade afetiva.

Eu estou muito fudida!

-Nada disso – me aproximei dela a abracei e falei no seu ouvido –Hoje você vai trepar em cada canto daquela sua casa minúscula, só não sei com qual dos dois gostosos que estão ali. Eu faria um ménage, mas você é tradicional demais minha amiga. - Balancei a cabeça em negativa.

A Linda adorava uma doideira e soltou uma das suas gargalhadas nada discretas e todos os remanescentes da festa olharam para a gente, ela me deu um tapa no braço e me chamou de louca.

- Leva essa doida logo, Cadu – ela deu um beijo de despedida no Cadu e o olhou – Qualquer coisa me liga. Cuida dela, confio em você!

- Pode deixar, sargentão! - ele bateu continência – Mulher mandona, cruzes!

Me despedi de todos e partimos para a minha casa antes que a Linda metesse a porrada no Cadu que tinha tirado o dia para perturbar ela. 

Assim que chegamos em casa já fui me livrando da minha roupa e o Cadu ficou parado na porta como uma estátua, ele me olhava de cima embaixo e eu estava excitada só pela maneira como ele me olhava, o álcool sempre me deixava muito tarada e aquele pedaço de mal caminho não ajudava. Pensando somente pelo álcool e pelo tesão que ele me dava eu fui para cima do Cadu, mas ele se afastou e me levou para o banheiro.

- Banho, sua pinguça, agora - ele me puxava para o banheiro - E mais uma vez morena, eu não vou transar com você desse jeito – Ele ligou o chuveiro, tirou a roupa e entrou comigo no box – Vamos tomar um banho e vamos dormir.

- Gostava mais de você quando era um filho da puta safado – falei enquanto ele me dava banho

-Ainda sou, Joana – ele disse enquanto me enrolava na toalha – só que nunca fui canalha de me aproveitar de uma mulher alterada pelo álcool.

Eu já estava melhor depois do banho frio. Depois de ajudar a me trocar e me obrigar a deitar na minha cama o Cadu, saiu do quarto falando que ía no carro pegar alguma coisa e  quando voltou estava com outra roupa, um analgésico e um copo de água .

- Você conseguiu essa roupa, onde? - perguntei curiosa – E obrigada pelo remédio, amanhã vou acordar na merda.

- Tenho uma mochila no carro com algumas roupas para o caso de emergência. – Se deitou ao meu lado – Não entendi você beber desse jeito e passar o tempo todo praticamente me evitando. Eu não tenho vergonha na minha cara mesmo!

Meu coração apertou, ele era um cara legal e não estava sendo recíproca. Em um impulso, ou ainda sob um leve efeito do álcool talvez , me virei para ele na cama e ficamos nos olhando. Quando dei por mim, estava fazendo carinho em seu rosto e pensando o quanto ele era um homem muito bonito além de ter um sorriso e um senso de humor que o tornava ainda mais lindo.

- Eu gosto de você e isso me assusta – confessei – Me desculpa não retribuir como você merece a atenção que me você me dá.

- Não diz nada hoje. Vem cá, morena! – ele se ajeitou para ficarmos de conchinha, me deu um beijo no pescoço e eu adormeci.

Despertei no meio da noite com o Cadu ainda abraçado em minha cintura e me senti tão completa. Me aconcheguei ainda mais naquele abraço e fechei os olhos novamente. Eu não tinha noção do que ia acontecer, mas a segurança e a paz que ele me passava  fazia valer a pena lutar contra todo o medo do desconhecido.

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Tadinha da minha florzinha selvagem, confusa toda vida...

Capítulo em comemoração aos 2k, obrigada lindinhas e lindinhos.

Próximo capítulo é fogo, gasolina e saculejo do casal encrenca...
Ou como diria a rainha dos coments, casal Beli.
😘

Lindamente encrencadaOnde histórias criam vida. Descubra agora