Festival - Parte 1

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Bento 

O meu celular tocou na hora que eu estava descendo do meu carro para mais um dia de trabalho. Eu já havia criado uma rotina e as manhãs eram sempre muito intensas, então quando eu vi o nome que brilhava na tela, simplesmente ignorei. Conseguia imaginar o motivo do telefonema, e não ia ter cabeça no momento para isso e nem queria correr o risco de ficar de mal humorado o dia inteiro por causa de uma ligação e uma conversa que eu não queria ter.

No final da tarde, passei no pub para tomar  uma cerveja, essa semana estava sozinho e ficaria assim por mais uma semana e o silêncio do meu apartamento, me deprimia as vezes, então passava no Brazilian House para matar um pouco a saudade de casa e conversar com o Jonh e com o Isaac.

A Zoe estava em Zurique em uma viagem a trabalho e só voltaria na véspera do The Liberty Suffering Festival, que assim que eu havia falado que possívelmente ia, ela me falou que também ia mas só tinha conseguido ingresso para o segundo dia. Na hora eu não soube distinguir se tinha ficado feliz ou não, mas consegui falar que estava surpreso com a coincidência e ela disse que uma prima era muito fã da Leona Lewis  a tinha convencido de ir, se era verdade ou não, eu não sabia. Eu particularmente não conhecia um terço dos cantores daquele bendito festival.

Estava no balcão conversando com o Jonh, quando eu vi que ia começar um show de uma menina com um violão, e me lembrei de quanto eu sempre viajava com o jeito que a Linda tocava e o quanto a voz dela ao mesmo tempo que era suave era forte. A música começou a tocar e eu percebi que em algum momento eu deveria ter escutado no rádio, porque a letra não era estranha. Enquanto eu prestava a atenção na letra , eu pensava o quanto eu era grato por ter um lugar perto de casa que me lembrava um pouco o meu país. Só percebi que sentiria falta de coisas simples, quando eu chegava aqui e era dia de feijoada ou o dia de música brasileira.

Em meio aos meus devaneios sobre a letra da música, me apeguei na parte "'Cê não sabe o quanto é importante acordar ouvindo a sua voz", e nossa que saudade de ouvir a a voz dela. Nos falávamos esporádicamente por mensagens, nem no grupo ela enviava aúdios, sabia que não era proposital. A Linda não era uma mulher que fazia as coisas para magoar alguém, ou premeditadamente. Ela não enviava áudios, porque quase não falava mais no grupo só quando a marcavam em algo, então respondia e sempre informava o quanto estava enrolada se desculpando por responder só horas depois.

A movimentação do nosso grupo no aniversário dela e o nível de intimidade dela com o Felipe, tinha acabado comigo, me senti tão arrasado que passei dois dias fugindo de ter que encontrar a Zoe e me afundei no trabalho, saindo de casa muito cedo e só voltando muito tarde. Eu não queria ter que explicar para a Zoe o motivo do meu mau humor e tristeza. As fotos, os vídeos e os áudios que eu recebi  do Carlos Eduardo e do Mathias, onde a Linda estava sempre junto com o Felipe, só me fizeram perceber que eu a havia perdido.

–Ela nunca foi sua!

O Mathias extremamente deprimido pelo término com a Laura me falou uma semana atrás em uma conversa por telefone. Nos conhecíamos a vida toda e eu nunca tinha visto o meu amigo tão triste e tão consciente de seus sentimentos. Ele havia amadurecido nesses últimos cinco meses, mais do que o resto da sua vida. Torcia muito para que ele e a Laurinha se resolvessem, meu amigo merecia ser feliz, quem não merecia, não é ?

Foi justamente por pensar na felicidade, e em quanto eu sempre havia sido egoísta com quem só me fazia bem, que lembrei que não estava sendo justo. Pensando na felicidade das pessoas que eu amava, em especial na felicidade dela, que eu tomei coragem, respirei fundo, saí do bar e retornei a ligação que eu recebi pela manhã.

Ligação 📱📞

–Alô?– Atendeu com a voz rouca, possívelmente estava dormindo – Que bom que retornou a ligação, irmão!

Lindamente encrencadaOnde histórias criam vida. Descubra agora