13. Reencontro com as amigas

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   Letícia 

   Ele trincou o maxilar e por momentos arrependi me por ter tocado no assunto. Ele pegou no pequeno ao colo e virou - o para o mar.

   - Foi tudo culpa dela. - assumi que ela fosse aquela por quem eu já nutria um ódio mesmo sem conhecer. - Quando ela estava grávida,  eu disse que ela teria de cá ficar enquanto carregasse o meu filho,  já que o que ela mais queria era fugir com o amado! - Disse de forma irónica e cada vez mais irritado - Um dia, depois de uma briga com o namorado, para que este lhe desse atenção, ela atirou se das escadas abaixo.

   Eu levei as mãos à boca e instantaneamente lágrimas se formaram nos meus olhos juntamente com um aperto no coração. Saber de tudo o que o Gonçalo já tinha passado e também o Noah, mesmo sem de nada ter culpa, dava me uma sensação de algo mais que pena,  uma vontade de os abraçar e dizer que "Tudo irá ficar bem" e que "Eu não deixarei nada voltar a acontecer"com eles.

   - Na altura, a médica obstetra disse que não parecia ter afectado nada. Mal sabia eu que ela estava aliada àquela cobra e não era a sua primeira tentativa de aborto.

   - Quem tem coragem de pensar sequer em abortar um ser humano que é o ser mais importante da nossa vida, é um filho! - pensei alto e o Gonçalo acenou concordando enquanto acariciava o braço do Noah distraidamente. - O que mais ela tinha feito?

   - Ela tinha tomado vários comprimidos que matariam o bebé se ingerido em doses elevadas. Felizmente, as doses tomadas pela mesma não foram suficientes para fazer o Noah morrer - Disse sofregamente, e até para mim aquelas palavras foram bem duras - Mas deixaram sequelas no meu filho. Os comprimidos levaram a que ele nascesse com problemas respiratórios, nada de grave, mas tem de se ter em atenção qualquer falta de ar principalmente nos seus primeiros anos. A queda das escadas afectou exatamente o que tu reparaste! Ele não se desenvolve como um bebé normal. Os médicos disseram que será só nos primeiros anos, até o organismo dele estar adaptado e ele ser uma criança normal.

   Aquele dia foi bem cheio e toda a informação ainda era processada pelo meu cérebro. Ainda perdida nos meus pensamentos, senti uma mão me tocar no ombro e rapidamente levantei os olhos assustada por ter sido apanhada desprevenida.

   - Desculpa ter te assustado. Vamos embora? Já está a ficar de noite.

   Olhei em volta e a praia já estava deserta, o por do sol já não era visível e apenas alguns casais passeavam pelo mesmo caminho outrora por nós passado.

   Levantei me e voltamos para o carro. A viagem, ao contrário da de ida, foi feita em silêncio. Ambos passamos por muito naquele dia.

   Quando chegamos à casa do Gonçalo, subi com eles e ajudei o Bonitão a deitar o filho que novamente tinha adormecido. Naquele momento, desejei ser como o Noah, alguém totalmente sem noção de tudo o que se passava ao seu redor. Mas apercebi então que não estava a pensar racionalmente. Aquele bebezinho já passou por tanto...

   Caminhamos juntos até à porta e ambos parecíamos sem graça.

   - Obrigada pelo dia de hoje. E por teres partilhado uma parte tão íntima da tua vida. - agradeci - Não te quero assustar, mas já me sinto tão próxima a ti, talvez por me teres contado coisas importantes de ti, mas desde que nos esbarramos que eu senti que ia ser bom.

   - Eu entendo o que dizes. E o que achaste que ia ser bom? - sussurrou aproximando se de mim com um sorriso na cara e tocando me a face.

   O meu corpo estremeceu, mas não consegui afastar me e deixei que ele continuasse com o gesto.

   - Esta relação que criamos. Uma amizade diferente, mas que parece de anos. - Ele acenou e ficamos a olhar nos olhos um do outro intensamente. Num momento de lucidez, afastei me e depois de um suspiro falei - Espero que eu corresponda às tuas expectativas como babá do Noah e qualquer coisa, mas qualquer coisa mesmo, basta bater na porta ao lado.

   Virei as costas e abri a porta. Ele segurou me no braço e virou me novamente para me surpreender com um beijo na cara.

   Sorri e devolvi o gesto. Ele agradeceu me e saí com um sorriso no rosto, o que se tornava frequente. Eles faziam me feliz.

   Quando cheguei à porta de minha casa, recordei me que tinha um lugar importante a ir, então peguei no carro e segui até casa dos meus pais, o que não demorou muito tempo.

   Ao chegar ao meu destino, qual não foi a minha surpresa ao ver um carro conhecido estacionado na pequena entrada da casa. Bati à porta e logo fui recebida com um sorriso enorme seguido de um abraço de mãe cheio de saudades. Entramos na pequena sala bem colorida e tudo continuava no mesmo lugar, incluindo o meu pai que estava sentado na sua poltrona amarela, mas que logo foi desocupada ao reparar na minha presença.

   - Bons olhos te vejam, minha filha! - saudou alegre o meu pai.

   - Já tinha saudades vossas também! E o que fazem estas meninas aqui? - respondi quase correndo até elas!

   - Viemos visitar a nossa amiga desaparecida, mas parece que ela já nem vive no mesmo lugar! - respondeu a Martha sempre irónica e divertida.

   - Acabou a escola,  esqueceu as amigas, não é? - devolveu a Sarah que continuava a miúda chateada com tudo e com todos.

   Mas logo as duas me abraçaram e pareceu que apenas não nos falávamos há um dia.

   A Sarah e a Martha eram amigas de escola. Sempre mantivemos contacto, mas nos últimos tempos eu tinha sido a razão de não nos termos falado. O trabalho assim o exigiu, mas naquele momento senti me culpada por não ter sequer dado notícias mesmo que breves ou ligado a perguntar como estavam. Não fiz o meu dever de amiga.

  A Sarah era linda. Com os seus cabelos pretos e ondulados sempre apanhados num rabo de cavalo, roupa simples e uma alegria contagiosa que rapidamente se tornava num mau humor que sabe se lá como escapávamos às mudanças de humor dela. Era ela muito elegante e não procurava rapazes, daí a nossa amizade. (Risos) Mas se eu fosse um rapaz, ela é um bom partido.

   A Martha era mais relaxada e tinha uma simpatia sem igual. Com os seus cabelos meio loiros e compridos, o corpo magro e alta, alvo dos rapazes. Ambas estavam sempre disponíveis para mim e sempre lá para me apoiar no que quer que fosse.

   Jantámos todos como nos velhos tempos e conversamos sobre imensas coisas. Os meus pais ficaram imensamente contentes por saber que eu tinha arranjado emprego e o meu pai exigiu conhecer o Gonçalo,  depois de saber que o pai do rapaz que eu cuidaria era solteiro. Para o bem de todos, esperava que esse encontro entre eles não acontecesse tão cedo.

   No fim do jantar, subimos para o meu antigo quarto para fofocar sobre o pai do Noah e muito mais... Falamos também da Sophia que fazia parte do nosso quarteto e que descobri ter arranjado emprego no estrangeiro. Combinamos falar com ela por videochamda amanhã quando saíssemos novamente.

   Ali, rodeada das minhas melhores amigas, com os meus pais ali perto e recordando tudo o que aconteceu hoje, eu percebi que eu sou realmente Feliz! 

   deve ser a 3°vez que acabo o capítulo de forma parecida mas é para reforçar😂 Não se esqueçam de comentar e votar!

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