Gonçalo
Não conseguia deixar de a observar. Saber que finalmente estávamos livres das nossas maiores preocupações fazia-me finalmente pensar num futuro possível e tranquilo. Escorreguei os meus dedos pela sua cara e senti a minha mão ficar molhada. Liguei a luz e reparei que ela estava a chorar, mas parecia ainda dormir. Ouvia os seus soluços, mas não queria acordá-la, porque isso iria assustá-la, então esperei que ela acordasse por si própria.
Pouco tempo depois ela sentou -se num pulo e olhou à sua volta assustada ainda com os olhos encharcados. Quando o seu olhar cruzou o meu, as suas pupilas dilataram e um suspiro saiu da sua boca. Num impulso, ela abraçou-me com tanta força que quase podia garantir que senti as minhas cicatrizes abrir outra vez, mas deixei-a, porque sabia que ali ela se sentia segura e que eu a acalmava do que quer que fosse que ela estava a sentir.
Fui afastando o seu corpo do meu, porque realmente estava a sentir o meu braço arder de dor. Ela entendeu que me estava a magoar e logo mostrou um olhar de preocupação.
- Desculpa desculpa. - repetiu sofregamente passando lentamente os dedos pelo meu braço e beijando suavemente as feridas quase curadas.
Já mais tranquila, encostou a sua testa à minha e fechou os olhos. Senti o seu suor ainda do terror do pesadelo. Estava curioso para saber o que a deixou tão aterrorizada, mas não queria pressioná-la a dizer, na sua hora sabia que ela ia desabafar.
- Sonhei que voltaste a beber. - engoli em seco, porque sei o medo que ela tem em passar por tudo de novo. Aqueles tempo foram horríveis para ela. Nos últimos tempos tenho-lhe tentado mostrar de todas as formas o quanto a amo e que aquele Gonçalo perdido e terrível não voltaria a assombrar as nossas vidas. - E que elas ganharam o processo. - arregalei os olhos, porque até a mim isso dava calafrios. - E o pior de tudo nem foi isso... Tu disseste que eu não era mãe do Noah. - Ela levantou a cabeça e olhou para mim limpando as lágrimas restantes. - Eu sei que não fui eu que o tive nem que eu que passei por toda a dor de gravidez, parto, ajudar nos primeiros banhos e primeiras mudas de fralda, mas eu amo-o como se fosse meu.
Sentei-me corretamente em frente a ela, segurei as suas mãos e falei tranquilamente:
- Eu entendo que estes medos te tenham vindo a atormentar. Muito aconteceu em tão pouco tempo. E tu caíste sem aviso nesta minha vida atribulada e podia dizer que te deixaria ir viver a tua paz longe de mim, mas eu não posso nem quero. Quando tudo na minha vida começou a dar errado e eu pensei estar perdido, tu estavas lá para me dar a mão e dizer que ia tudo ficar bem. Olhar para ti a cuidar do Noah, a ficar do lado da minha irmã no momento em que ela estava com mais medo, a entenderes o meu irmão quando ninguém mais o entendeu... tudo isso fez com que eu confirmasse que tu és realmente o amor da minha vida. E como um anjo e uma jóia preciosa que és, é meu dever cuidar de ti e dizer-te que vai tudo ficar bem. A tua luz faz-me esquecer que algum dia tive momentos de tristeza e sofrimento.
Ela baixou o olhar já com um pequeno, mas significativo sorriso. Espalhei beijos pelo seu pescoço fazendo com que ela soltasse algumas gargalhadas. Ela deu um profundo suspiro e olhou-me intensamente e soltou os seus sentimentos.
- Eu não gosto de mostrar o meu lado mais obscuro, porque anseio que isso afaste quem eu mais amo. E eu amo-te, não posso deixar que as minhas inseguranças e suposições do futuro ou experiências do passado me separem de ti! Não temo o que possa acontecer, mas aterroriza-me pensar sequer em perder-vos. - segurou a minha cara firmemente como se não me fosse deixar fugir. - Vós sois a melhor parte de mim. Vós sois a minha família. Não pretendo que isso mude.
- Não tenho dúvidas de que escolhi a mulher certa para estar do meu lado e não há melhor mãe para o Noah que tu.
Inclinei-me quebrando o pouco espaço que restava entre nós e beijei-a lentamente. O nosso amor e conexão era demonstrado naquele beijo que duraria até um de nós ficar sem ar se não fosse uma criança entrar no quarto com o tio atrás.
O Noah caminhava sozinho a passos meio desajeitados e os nossos olhares com desejo tornaram-se em olhares emocionados.
- Noah, volta aqui! Acho que os teus pais estavam num momento íntimo. - O Rafael, sempre inocente, tinha um sorriso maroto e tentava agarrar o pequeno sobrinho.
-Estávamos apenas a conversar. - respondi honestamente.
- Hum! As vossas bocas conversam muito próximas. - O meu irmão tornava -se cada vez mais um desbocado. Apesar de eu gostar de o ver cada vez mais solto, em certos momentos calado era poeta.
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Praticamente um ano juntos e eu ainda não me tinha habituado à sua beleza. Era incrível pensar em tudo o que já tínhamos passado em tão pouco tempo juntos. Depois do nosso momento ser interrompido pelo meu irmão e pelo meu filho, chamei toda a família para esclarecer e informar tudo o que tinha sido dito em julgamento.
Resumidamente, a minha avó e a Anne foram condenadas por tentativa de homicídio, invasão de propriedade, fogo posto e muitos outros crimes que não me cabem a mim saber, apenas me interessa que elas não se intrometam nas nossas vidas nunca mais. Tiveram também de me pagar uma indemnização pelos ferimentos que eu fiquei e pelos traumas causados ao Eric. Levaram também uma ordem de restrição por aproximação para quando saírem da prisão, o que nos deu um pouco mais de confiança que estamos seguros.
Depois deles ficarem mais tranquilos, almoçamos todos juntos e agora convivíamos no jardim. O Adam estava no sofá com a minha irmã encostada a si e ele acariciava-lhe a barriga que sobressaia levemente na camisola justa. Apesar das minhas provocações de irmão mais velho, não tinha muito que implicar com o Adam. Ele dá-lhe amor, é romântico, tem imenso respeito por ela e por nós além de ser um ótimo profissional e tem vindo a priorizar sempre a Sophia na sua vida em todas as situações desde as ecografias aos desejos das três da madrugada. Enfim, ele é tudo o que eu desejaria que a minha irmã tivesse, portanto só lhe tenho a agradecer.
Ao ver a minha irmã viver toda a sua felicidade da gravidez, o meu desejo de ser pai novamente cresceu dentro de mim. No entanto, tenho guardado essa vontade para mim por medo de como irão reagir ao saber isso, principalmente a Letícia. Ela é nova, conhecemo-nos à pouco tempo e ainda temos muito para aproveitar antes de pensar em ter um filho, mas eu não consigo controlar este desejo repentino. Imaginem só o meu sonho de ter uma menininha ser realizado? Uma mini Letícia a correr pela casa atrás do irmão... Acho que deu para entender que os meus pensamentos andam bem longe!
O Rafael estava a ler um livro junto do meu pai que lia as notícias do dia no jornal, não largando a mão da minha mãe. Coisas de família intelectual, mas unida sempre. E eu tinha a imagem mais bonita à minha frente da Letícia a jogar à bola com o nosso pequeno. Ambos sorriam e, isso sim, era o meu legítimo retrato de paz.
- Agora que todo o mal acabou, finalmente podes aproveitar bastante o tempo juntos. - a minha mãe pronunciou-se do meu lado. Olhei para ela e para a sua mão unida à do meu pai. Também eles passaram por tanto e seu amor permaneceu durante todo este tempo. Desde a minha infância que eles são a minha idealização de casal perfeito. Um dia a minha mãe disse-me "Pode o mundo estar a desabar, mas o amor é o último a desaparecer". E é como dizem, as mães tem sempre razão.
Abracei de lado a primeira mulher da minha vida, dando-lhe de seguida um beijo na cabeça. Senti a necessidade de lhe agradecer por todos estes anos a ensinar-me o que é certo ou errado, a lidar com os meus erros, chorar por mim, sorrir por mim, e ainda assim manter sempre uma postura de mãe que eu tanto admirava e permanecer do meu lado no bem e no mal. Podiam passar mil mulheres do meu lado, mas a única que eu tinha a certeza que nunca me deixaria era a minha amada mãe. Mas tudo isso não era o suficiente. Não há bens materiais ou palavras suficientes para demonstrar o que sinto por ela e o quão grato sou pela nossa família que ela tão bem construiu e criou junto do meu pai. Mas deixo também um conselho, uma maneira de mostrar amor é lembrar dos pequenos detalhes e surpreender essa pessoa com isso.
- Lembras-te quando te disse que um dia te levaria ao Canadá? - ela anuiu com um brilho nos olhos. - Vamos concretizar esse teu desejo?
Não há nada melhor do que ver a felicidade estampada no rosto daqueles que mais amamos.
Mais um capitulo cheio de amor dos Campbell. Reta final do livro!
Fiquem em casa e protejam-se sempre, meus pinguins🐧! Beijos da vossa autora🐇
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❤ O café que eu entornei ❤
RomansaLeticia era uma mulher que todos os dias ia tomar um café a caminho do trabalho. Um dia, ao esbarrar contra alguém, devido à sua pressa, entornou o café num homem com uma beleza que a hipnotizou. Gonçalo é um modelo que ao voltar à sua cidade, Nova...