17. Revivendo o passado

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Dona Eduarda

Depois de tantos anos juntos, ele ainda me consegue surpreender desta maneira.

Seguíamos de carro e depois de algum tempo ele encostou.

- Vou - te vendar os olhos, meu amor. - falou docemente enquanto me tapava os olhos com uma venda preta.

O caminho ainda foi um pouco longo e eu perguntei várias vezes para onde ele me levava. A resposta era sempre a mesma:

- É surpresa, querida.

De repente, eu fui levada para a frente quando o carro parou bruscamente, mas apenas estava a estacionar. Ouvi a porta bater e rapidamente senti a brisa fria quando a minha porta foi aberta.

Gentilmente, ele pegou na minha mão e, com cuidado, saí do carro. Tive medo de cair devido à ausência de visão, mas eu confiava no meu marido de olhos fechados, literalmente.

Um clique soou ao abrir mais uma porta (Ironia) e ele continuou a puxar - me pela mão. Subitamente, paramos e senti a sua mão deslizar pela minha e percebi que ele ficou mais distante de mim.

- Aos três levantas a venda. - indicou.

Os dois contamos juntos até três e quando retirei a venda, os meus olhos encheram - se de água instantaneamente. O Miguel estava novamente de joelhos à minha frente, repetindo o gesto de mais cedo, e segurava o mesmo ramo de flores (previ, porque bem o conheço).

Mas a minha reação não foi causada apenas pela posição do meu marido, nem pelo ambiente coberto de velas e pétalas de rodas que levavam a uma mesa de jantar bem romântica, mas sim porque eu reconhecia aquele lugar.

Aquela foi a nossa primeira casa! A casa que compramos com o nosso esforço, onde planeámos o nosso futuro, onde tantas primeiras vezes aconteceram.... e posso acrescentar que me lembro bem da noite em que concebemos o Gonçalo.

Era o nosso cantinho, cheio de memórias e não podia haver melhor lugar onde pudéssemos festejar o nosso 30° aniversário de casamento. Esta noite íamos criar mais memórias ainda depois de 24 anos, esperava eu.

- Espero que sejam lágrimas de felicidade! - cortou os meus pensamentos e notei os seus olhos também molhados.

Abracei - o e levantámos - nos e ele guiou - me para a mesa. Puxou - me a cadeira para que eu me sentasse como um verdadeiro cavalheiro e ficamos a encarar-nos.

A cena repetia - se depois de tantos anos: as minhas bochechas rosadas, olhos brilhantes e os sorrisos que não conseguíamos tirar da cara.

Um vulto apareceu do nosso lado vestido a rigor como garçom,  realmente o Miguel tinha preparado todos os pormenores. Um prato bem chique foi colocado à nossa frente juntamente com uma garrafa de vinho ao gosto de ambos.

- Desta vez podes beber! - brincou. - Não precisas de te abster como nas últimas refeições que fizemos nesta casa. - relembrou, porque eu não podia beber devido à gravidez.

- Porque escolheste este lugar para comemorar esta data? - mudei de assunto porque a curiosidade falou mais alto.

- Esta casa foi a nossa primeira conquista. E hoje quero - te levar a lugar importantes para nós e que marcaram a nossa história. - respondeu fazendo - me ficar emocionada.

- Eu amo - te, Miguel. E não mudaria nada na nossa história. Ultrapassámos tantos obstáculos juntos, conquistamos imensas coisas e, mais importante, amamos juntos.

- Eu também te amo, Docinho. - correspondeu chamando - me pelo nome que ele me deu nos nossos primeiros anos de namoro.

Comemos com direito a petiscos, 2 pratos principais e uma sobremesa maravilhosa que teve a mão do meu marido, daí ter um sabor especial.

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