50. Um verdadeiro pesadelo

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Acordei com a minha vista preferida. O Noah dormia no seu berço e o Gonçalo do meu lado.

Há um mês que o Noah tinha tido alta, mas só a semana passada pudemos trazer o Gonçalo. Uma das suas feridas criou infeção e isso aumentou o seu prazo de internamento. Mas agora acho que posso dizer com segurança que está finalmente tudo bem. O tratamento do Gonçalo está controlado, o Noah agora usa a bomba asmática com maior frequência e os meus sogros estão radiantes com a novidade de serem avós. Foi um susto para todos nós e apenas houve uma pequena ameaça ao Adam dos dois irmãos protetores da namorada. Os Campbell Júnior tiveram um mini ataque de fúria e exaltaram-se com o Adam.

Mas tudo estava bem e agora podíamos viver em paz. Quer dizer, só estava um assunto inacabado. Ontem foi o dia do julgamento e o Gonçalo foi com o pai dele, uma vez que não consegue conduzir. Proibiram-me de ir com eles e eu fiquei sozinha em casa com o Noah, sem respostas e ansiosa. E nada mudou quando ele chegou. Simplesmente se deitou e não me dirigiu uma única palavra. Podia jurar que senti o cheiro de cerveja quando ele chegou, mas ainda me parecia sóbrio.

Medo e ansiedade corria-me nas veias e a minha cabeça já girava a mil enquanto pensava em mil e uma sentenças que podiam ter sido aplicadas às duas. Mil eram negativas e apenas aquela uma era a minha esperança. Esperança de que elas tivessem sido condenadas a longos anos na prisão e que não nos voltassem a incomodar.

- Bom dia. - ouvi uma voz rouca e logo ouvi um bocejo mostrando que estava a despertar.

- Bom dia. - retruquei com pouco ânimo.

- Eu fiz alguma coisa de mal? - a sua pergunta só me fez revirar os olhos. Além de esquecido ainda se faz de inocente.

- Enquanto pensas se fizeste alguma coisa, vou preparar o biberão do Noah. - não queria mesmo começar o dia com uma briga. Então simplesmente deixei-o a refletir e não alimentei aquela discussão que não me levaria a lado nenhum. O meu pequeno deveria estar para acordar e a primeira coisa que faria, como sempre, seria pedir leite, então eu adiantava logo o seu pedido.

Como esperado, logo após preparar o leite, ouvi o choro do Noah. Ele estava de pé agarrado às grades do berço e, logo que viu o que eu trazia na mão, soltou um sorriso maroto.

- O meu malandro tem fome. Sim? - fiz a vozinha de bebé que ele tanto adorava.

Pouco tempo depois ele já tinha adormecido novamente com a barriga cheia. Quando saía do quarto reparei que o Gonçalo estava à porta a observar-nos. Ignorei a sua presença e passei reto por ele.

- Vais-te fazer de ignorante agora? Pelos vistos não sou o único com atitudes erradas. - o seu tom grosseiro irritou-me e continuei calada para não dizer nada que me fosse arrepender. - Elas foram consideradas inocentes no julgamento ontem. - senti o meu cérebro rodar e encarei-o desacreditada com o que ele me tinha dito.

- Isso não pode ser verdade! Tínhamos todas as provas reunidas para as acusar e elas saem impunes sem mais nem menos?? - eu não podia crer que estava a viver o maior pesadelo da minha vida e dava-me mais medo ainda saber que o meu filho estava desprotegido com duas loucas à solta.

- O juiz decide e não havia nada que eu pudesse fazer para reverter a sua sentença.

- E agora? O Noah precisa de estar seguro, e isso não vai acontecer se elas não estiverem atrás das grades. Vamos viver eternamente com receio de elas voltarem a vir atrás de nós. - Dúvidas e preocupações enchiam a minha cabeça e eu só queria acordar e perceber que tudo não passou de um pesadelo.

- Falas tanto do Noah como se fosse teu filho! - havia raiva na sua voz e a minha respiração ficou alterada com aquelas palavras. - Ele não deixou de ter uma mãe. A mãe dele apenas se livrou deste encargo que tanto nos cansa. - Como assim? Ele achava que ser pai era carregar um peso atrás de si? - Aliás, podes ir embora, já ninguém precisa de ti aqui. Afinal, nem te sentes capaz de proteger o Noah.

Aquele não era o meu Gonçalo. Não era o Gonçalo pela qual me apaixonei. Ele estava a falar de forma fria e parecia um homem sem sentimentos. Naquele momento tomei uma das decisões mais difíceis da minha vida.

- Eu vou-me embora. E levo o Noah comigo. - alteei a voz de tanta raiva. - Posso não ser mãe dele, mas neste momento estou em condições para tomar conta dele, ao contrário do pai. - era visível o nojo e a repulsa nas minhas palavras.

Não sei o que aconteceu durante o tempo em que ele esteve fora, mas eu não queria aquele homem como meu companheiro. Deixaria que ele pensasse sozinho.

Capítulo curtinho depois de muito tempo🐧

Beijos da vossa autora🐇

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