57. Epílogo

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5 anos depois

Gonçalo

Peguei na minha pequena do berço. Sei que dizem que um bebé nasce feio, mas eu só conseguia ver perfeição naquele pequeno ser com uns pulmões enormes. Ela chorava, provavelmente de fome, e finalmente seria a última vez a ser amamentada no hospital. 

A Letícia tirou-a dos meus braços e agilmente a ajeitou para a amamentar. O cansaço visível não tirava a beleza e o brilho que a gravidez lhe tinha dado. Esperavam-nos longas noites sem dormir, mas nós já o sabemos, uma vez que já praticamos com as nossas outras três crianças.

Após o nosso casamento deixamos de pensar tanto numa gravidez e decidimos iniciar um processo de adoção. A Maya, com três anos, chamou a nossa atenção com o seu jeito alegre e eufórico, mas não ficamos por aí. O Noah brincava sempre com o Nick, o nosso ruivo com dois anos na altura que, apesar de tímido, era o menino mais carinhoso e generoso. Ele ofereceu ao Noah o seu brinquedo favorito, o seu golfinho de peluche, para que ele nunca se esquecesse das brincadeiras entre os dois. 

E agora, depois de muitos tratamentos, lágrimas e sofrimento, veio a nossa Merida, com a sua força e perfeição, e até porque não seríamos Letícia e Gonçalo sem ter algo relacionado à Disney. 

O parto dela foi bem longo e foram os momentos mais difíceis da minha vida. Ver quem amamos sofrer de forma contida é doloroso. Optamos por parto natural e às 22h17 do dia 28 de janeiro nasceu a nova benção da nossa vida. 

- Tive tanto medo de não ser forte o suficiente no parto. - confessou enquanto voltava a colocar a nossa filha no berço. 

Sentei-me cuidadosamente do seu lado e segurei na sua mão com algumas agulhas. 

- Mas sabes, amar significa também ultrapassar os teus medos. E eu faria tudo de novo para ter a recompensa final. - encaramos a Merida adormecida, que não era ruiva como a do filme, mas sim loira, como a princesa da mãe dela. - E, modéstia à parte, fizemos uma bela obra de arte.

- Acho que estávamos inspirados no dia em que ela foi feita. - ela riu baixo para não a acordar e logo parou, porque a dor a atingiu. 

Ajudei-a a ajeitar-se confortavelmente na cama e ela fechou os olhos por um segundo.

- Tu foste corajosa. - voltei ao assunto - Porque ter medo não significa que não és corajosa. Tu só descobres a tua valentia quando conquistas os teus medos. 

- Tu és a minha força. Quando eu achei que não conseguiria mais, tu estavas lá a dar-me a mão e eu percebi que tu és o meu porto de abrigo. 

- Eu sempre estarei aqui. Tal como protemos, na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, todos os dias da nossa vida.


《♡♡♡♡♡》


Ajudei a Letícia a sair do carro para, de seguida, levar a Merida. Caminhei junto a dois dos amores da minha vida e seguimos até à porta de nossa casa. Abri a porta e um silêncio incomum se instalava. A sala estava estranhamente arrumada e, junto das escadas, três pequenos estavam alinhados.

Quando nos viram correram até nós e abraçaram primeiramente a mãe, mas sem fazer muito barulho. Suspeito que os meus pais e sogros tenham feito algum acordo com eles.

- Meninos, cuidado para não aleijarem a mamã! - alertei.

Eles vieram a passos lentos até à cadeira onde trazia a irmã e fitaram-na curiosos. Eles olharam-se com um sorriso e colocaram junto a ela o golfinho que o Nick deu ao Noah no dia em que se conheceram. 

- Papá, a Merida é muito linda. Obrigada por nos fazerem tão felizes. 

A Maya falou e a sala encheu-se de pessoas emocionadas e eu abracei a minha mulher de lado. Ela era a razão principal da nossa felicidade. No meio das lágrimas, ninguém percebeu o Noah pegar na Merida e mostrá-la aos irmãos. Segurei apenas na cabecinha dela, porque eles já tinham treinado em como pegar em bebés para quando a irmã chegasse. 

- Olha, Nick, ela está a segurar no meu dedo! - exclamou, eufórica como sempre, a Maya. - Nós já te amamos muito, Merida, desde que vimos aquela foto esquisita de quando estavas na barriga da mamã. Papá, as vós prometeram que nós comíamos um gelado se não vos chateássemos. Pode ser gelado de morango ou chocolate? - só esta pequena maluca para nos fazer rir assim.

Enquanto os pequenos babavam na irmã e os restantes se aproximavam para conhecer o novo membro, a Letícia encostou a sua cabeça no meu ombro. 

- De volta a casa. - sussurrou.

-De volta a casa. - repeti beijando a sua nuca.


Não sei bem explicar como me sinto. Peço desculpa por o epílogo ser tão curtinho. Vou deixar também os agradecimentos para depois. Beijos da vossa autora 🐇



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