Despedida- Parte IV

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Estávamos no píer na manhã seguinte, todas prontas, nossas coisas já tinham sido colocadas no barco e Grahan já se preparava para partir. Todas já tinham se despedido. As meninas embarcaram, e as amigas de Regina acenavam e eu vi que não teria mais jeito. Era mesmo o fim. Regina estava no píer à minha frente, usava um vestido longo florido, com uma fenda enorme destacando sua coxa, estava maravilhosa. Olhei-a, até o último segundo esperando que ela pedisse meu telefone ou desse a entender que me procuraria depois. Pensei em dar meu número para Regina, mas não tive coragem, não depois dela ter deixado tão claro que tudo era temporário.
O vento gostoso que vinha do mar balançava seus cabelos escuros e aquela seria a última imagem que eu guardaria dela. Tentei ser forte, engoli minha dor e sorri para ela. Por fim, estendi minha mão e disse baixinho:
- Obrigada por tudo. Foram dias maravilhosos. Nunca vou esquecer você.
- Eu gostei muito também, Emms. – Regina segurou minha mão, mas puxou-me para ela, deu-me um beijo de leve nos lábios. Seus olhos estavam muito claros ali, seu sorriso era sereno. – Seja feliz.
Concordei com a cabeça, sem condições de falar mais nada. Parecia haver um bolo em minha garganta. Virei, entrei no barco e me sentei, fugindo de seu olhar ou eu desmoronaria. Grahan então pôs o barco em movimento, enquanto as meninas acenavam e gritavam despedidas. Fiquei ali, quietinha, inerte, sentindo-me morta. Mais uma pessoa que eu amava tinha ido, mas esta por vontade própria. O barco cortava o mar, as ondas passavam embaixo de nós, o sol continuava firme no céu. A vida seguia, mas um pedaço meu ficou pelo caminho, naquela ilha, com aquela mulher. Um pedaço que eu nunca mais poderia recuperar. Só percebi que as lágrimas desciam dos meus olhos, quando pingaram em minhas mãos. A dor então me engolfou em toda sua intensidade e foi tão forte que realmente tive vontade de morrer. Não aguentava mais tantas perdas, tanta solidão, tanta tristeza que se acumulava dentro de mim. Lily sentou-se ao meu lado e, sem uma palavra, somente me abraçou. E então desmoronei de vez, chorando copiosamente no ombro dela, até parecer que eu perderia todas as minhas forças. Ela acariciou meu cabelo, enquanto o silêncio do barco só era quebrado pelo barulho do motor e das ondas. Quando eu me sentia exausta, seca, vazia, ela disse com calma:
- Agora é hora de reagir, meu bem. Sei que gostou dela, mas foi avisada, mulheres como Regina não são pra nós. Ela é rica, vivida, experiente. E você é uma menina ingênua, que ainda não sabe nada da vida, Emms. Ela a devoraria viva. O mundo dela é totalmente diferente do seu.
- Eu sei. – Afastei-me um pouco, enxugando os olhos inchados com a ponta da camiseta, minha cabeça latejando.
- Você acabaria se machucando feio. Ouvi as amigas dela comentando que Regina joga pesado, Emms.
- Como assim? – Eu a fitei, ainda angustiada.
- Parece que Regina gosta de prazeres diversos. É uma mulher livre, acostumado a ter as coisas a sua maneira, as pessoas aos seus pés, falavam de umas festas dela, com todo tipo de coisa que você pode imaginar. Aquilo na Ilha foi só um vislumbre de tudo.
- Mas o que disseram? Lily deu de ombros e fitou Ruby e Merida, sentadas no outro banco em frente. Ruby explicou:
- Ela gosta de variar, entendeu?
- Não. – Empalideci, minha dor de cabeça aumentando. – Ela é bissexual?
- Acho que não. – Ruby sorriu para mim, sendo delicada. – Talvez até tope homens, não sei. É bem provável, já que aparentemente não se limita muito. Mas acho que ela se mete mais em orgias, jogos sexuais, dominação.
- Como sabem disso? Quero dizer, o que especificamente elas disseram?
- Deixa que eu falo. – Merida me encarou diretamente. – Ariel me deixou o telefone dela e ficou de me convidar para umas saídas e festas na casa de Regina, parece que ela gosta de algumas coisas como escravidão, BDSM, tudo que se pode imaginar e frequenta uns clubes exclusivos também, Regina é viciada nessas coisas, querida. Eu, a Ruby e até a Lily poderíamos curtir numa boa, mas você seria engolida. Se quer minha opinião, Regina foi até boazinha com você, te poupou de muita coisa. Ela joga bem mais pesado do que o que você viu. Fez um favor em te dispensar, pois sabe que você não aguentaria o tranco.
Fiquei quieta, olhando para elas. Lily segurou e apertou a minha mão.
- Encare isso como experiência. Você pode conhecer outras pessoas, se divertir, não precisa ficar enfurnada na sua casa. Aos poucos, vai se acostumar e parar de sofrer.
- Mas vocês acham que se eu... Se eu tivesse transado com Zelena e topado tudo que ela quisesse Regina poderia querer me ver mais vezes? – Tive que perguntar.
- Talvez. – Ruby deu de ombros.
- Ela... Chamou vocês para uma dessas festas?
- Não, exatamente, mais Ariel falou para ela que iria que me chamar e Regina disse que eu seria muito bem-vinda. – Merida comentou.
Fiquei quieta, magoada, ao menos para ela, Regina dera alguma entrada. A mim ela dispensou sem pensar duas vezes. Elas tentaram mudar de assunto, comentar outras coisas, até me distrair. Mas segui calada, abatida, tão triste e angustiada que nada parecia bom o suficiente para meu futuro. Deixei o vento bater em meu rosto, não chorei mais, no entanto aquela dor permanecia em mim, como uma doença por dentro.
Pensei na minha irmã Jeniffer, das vezes que falamos e planejamos como seriam a pessoa ideal das nossas vidas, de como seríamos felizes, teríamos um belo casamento, como um conto de fadas. Agora ela estava morta e eu encontrara o amor da minha vida, mas na figura de uma mulher errada para mim, que não me queria. No lugar dela, a que eu tinha era a solidão. E as lembranças. Sim, eu tentaria me recuperar, seguir em frente.
Eu buscaria um novo amor quando estivesse preparada. Mas para meu próprio bem era romântica e sonhadora demais. Em meus vinte e um anos de vida, era a primeira vez que me apaixonava. E o sentimento era tão avassalador que eu temia que nunca mais acontecesse.
Talvez eu gostasse de alguém no futuro, mas duvidava que fosse aquela paixão e aquele amor sem dimensões como eu sentia por Regina. Mas como fui obrigada a fazer quando perdi minha irmã, meu pai e minha mãe, eu teria que aceitar e seguir em frente. E ver onde minha vida ia parar.

Minha Tentação (CONCLUIDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora