Carta

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POV Emma
Meu coração estava completamente acelerado, minha boca estava seca e o medo de mesmo
após ler a carta Regina não me perdoar era imenso, mesmo assim me ajeitei em sua frente e
não pude me controlar, peguei em suas mãos, eram da mesma forma que lembrava, lindas e
delicadas, as mesmas mãos que tocaram com tamanha maestria todo meu corpo, olhei em seus
olhos que hoje eram bem diferentes do que me lembrava, estão lindos, com um brilho intenso,
percebi que ela estava nervosa, pois, não parava de mexer os pés e suas mãos suavam frio, eu
estava da mesma forma, é impossível não me sentir dominada por ela, mesmo depois de longos
anos, seus olhos estavam marejados de uma forma tão sincera que eu nunca antes havia
presenciado, comecei a abrir a carta, estava tremendo e ela percebeu, levou sua mão ao meu
queixo e me fez olha-la e disse:
- Emma, chega de fugir do passado, somos adultas e temos andando como adolescentes, leia a
carta pra mim, não vou mais brigar ou correr do que aconteceu, apenas leia.
Eu não consegui dizer nada, apenas sorri concordando e continuei, quando acabei de abrir olhei
aquela minha letra, toda a nossa história e tudo que revivemos veio a minha memória, foi
inevitável, meus olhos que já estavam banhados em lagrimas não conseguiram mais segurar e
algumas lagrimas caíram, lagrimas que representavam um amor incondicional que foi abalado
por traumas de um passado obscuro, olhei para o teto como quem busca forças pra continuar,
respirei fundo com os olhos fechados e abaixei o olhar buscando algo que me desse força, ela
me olhou e também estava emocionada, e disse:
- Vamos Emma!
Eu acenei e comecei a ler a maldita carta que escrevi a mais de oito anos atrás:
Regina,
Se você está lendo essa carta é porque provavelmente já sabe que eu fui embora, sei que você
não entenderá minha reação, e pra ser sincera nem eu me entendo, vai me achar medrosa e
imatura e quer saber? Eu sou realmente tudo isso, (Olhei de novo para o teto respirei fundo e
continuei) me desculpe por não ser forte o suficiente para conversar sobre isso olhando em seus
olhos, mais sei que não será possível, pois, o simples fato de olhar pra você me deixa totalmente
aos seus pés. (Nesse momento eu olhei em seus olhos e ela sorriu tímida, voltei meus olhos ao
pequeno papel em minhas mãos e continuei) Você deve estar se perguntando o porquê, não é
verdade? E pra ser sincera eu não sei, nossa noite de amor ontem foi intensa demais, aliás, todas
as nossas noites de fodas foram, exatamente por isso eu preciso de um tempo pra mim, eu
preciso de um tempo para me sentir uma mulher, para não depender de ninguém, desde que
meus pais morreram juntamente com minha irmã eu deixei me levar pelo rumo que a vida
quisesse, porém, agora chegou o momento de eu assumir novamente o controle e fazer o que eu
quiser, não me sinto capaz de enfrentar seu passado junto contigo, não por falta de amor ou
preconceito, não é isso, mais pelo fato de eu estar doente demais pra ajudar você a se curar,
você provavelmente não percebeu, pois, por muito tempo o que importava pra você era meu
corpo, mais eu não estava bem, eu vivia pelos cantos chorando, lutando contra os pensamentos
negativos que viviam na minha mente, quis acreditar que era por sua causa, mais não era, eu
chorava por me sentir humilhada, sozinha demais, chorava por ainda não ter superado a perda
dos meus pais, e as vezes por vergonha de ter permitido que você me dominasse de tal forma
que minhas vontades não importavam, eu precisava aprender a me colocar em primeiro lugar e
foi exatamente isso que fui buscar longe de você! (Respirei fundo e sequei algumas lagrimas que teimavam em cair, olhei pra Regina e ela também estava com o rosto repleto de lagrimas,
busquei forças no amor que sinto e continuei a leitura) Agora você deve estar se perguntando:
Mas nós poderíamos fazer isso juntas? Não! Eu não conseguiria, eu te amo e você sabe disso e
justamente por te amar que vou dar o tempo que você precisa pra se encontrar, entendo tudo
que você passou, você é uma mulher forte, guerreira e linda, eu sou apenas uma “menina” que
não sabe o que quer, eu decidi fazer psicologia e quero muito que você me procure, mais não
agora, me procure quando se sentir curada, quando se sentir completa com você mesma. (Nesse
momento eu estava lendo com dificuldades devido a minha visão embaçada e a vontade de me
jogar em seus braços e esquecer essa merda que foi nosso passado).
Sabe Regina, por muitos anos da minha vida eu fui submissa dos desejos das pessoas próximas
a mim, arrisco a dizer que nunca fiz nada que fosse realmente de minha vontade, deixei a vida
me levar pra onde ela quisesse, por isso, hoje estou nessa situação, fui fraca demais durante boa
parte da minha vida......
POV Regina
Emma estava lendo a carta e eu só conseguia reviver nosso passado, estava muito emocionada
e a vontade de tê-la em meus braços é maior do que qualquer merda que fizemos, fui covarde
demais por já não ter lido ou me livrado dessa carta, e até mesmo ido atrás dela, eu sei que
tenho agido como uma idiota, colocando a culpa toda nela, sendo egoísta, mais é tão difícil pra
mim admitir que tudo isso foi culpa minha. Enquanto ela lê a carta eu observo seus traços,
parece que ela continua a mesma, sinto tantas saudades dos seus beijos, do seu toque sobre
meu corpo, sinto falta do seu olhar verde e inocente mesmo quando eu a fazia ser uma Puta!
Sinto raiva de mim mesma por isso, ódio por ter deixado o meu amor nas mãos de outras
pessoas. O que eu tinha na cabeça? Hoje eu entendo, sentia medo desse sentimento
desconhecido, assustada por perceber o imenso poder que ela tem sobre mim, mesmo após
oito malditos anos seu poder sobre mim continua o mesmo, mais agora eu não sou mais a
mesma, tenho maturidade o suficiente para assumir meus erros e começar do zero, tenho
sorte por Emma ainda vir atrás de mim, eu em seu lugar me queria morta.
Com esses pensamentos eu tomo minha decisão e resolvo colocar minha mão sobre a dela que
segurava a carta, no mesmo instante ela me olha como eu senti falta desses olhos, ela me olha
intrigada e eu resolvo logo dizer:
- Emma, como você ainda pode me querer mesmo depois de tudo que eu fiz?
- Regina...
Não deixei que ela continuasse, coloquei meu dedo sobre sua boca pedindo pra que ela ficasse
quieta e me escutasse e disse:
- Me escute Emma, eu preciso falar tudo que já deveria ter dito a muito tempo, -ela ficou
quieta e eu continuei- Sabe Emma eu nunca fiz questão de pensar o que as pessoas sentiam
quando eu as usava, sabe porquê? Porque pra mim isso não era usar, eu fui criada dessa
forma e você já sabe do meu passado, por isso não entrarei em mais detalhes, o que eu quero
dizer é que só fui entender realmente o sofrimento que estava causando a você quando eu a
perdi, mais a questão é que eu também sofria, foi difícil demais ver você sendo usada por
outras pessoa, eu não senti tesão com mais ninguém como senti e ainda sinto com você, tive
medo dos sentimentos que começavam a crescer dentro de mim, fiquei muito assustada, logo
eu que nunca me prendi a nada nem ninguém depois da minha saída da casa dos meus tios eu me vi completamente dominada por você! E isso me assustou demais, nunca havia me sentido
dessa forma, tive medos, inseguranças e fui fraca por não admitir que você era e sempre foi
diferente das outras, fui covarde por não lhe dizer o que sentia e descontar meus medos e
traumas em ti. Eu mudei muito, talvez não tenha percebido isso, pois, desde que você voltou
eu tenho sido uma babaca egoísta, porém, se você quiser uma mulher problemática, cheia de
duvidas e inseguranças, mais disposta a ser verdadeira na sua vida, por favor me diga agora,
pois eu farei tudo ao meu alcance pra ser o que você precisa. Então me diga Emma, aceita essa
mulher cheia de defeitos de volta?

Minha Tentação (CONCLUIDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora