Um Recomeço

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POV Regina
Regina estava em seu meio, a festa se desenrolava em sua mansão em um condomínio luxuoso e exclusivo de Nova York, convidados escolhidos a dedos, todos da alta sociedade, os muros altos e a distância de outras mansões permitiam que vivesse em relativa paz e isolamento, com toda segurança possível. Era um sábado e a festa era para comemorar mais um grande negócio de sua empresa, que pegaram um novo caso, com todas as chances de um lucro absurdo.
Seus diretores, advogados, todos que de alguma forma contribuíram para a conquista do empreendimento e que eram mais bem relacionados com Regina, foram convidados para a festa. Assim como alguns amigos e conhecidos. A temática era a mesma, com mulheres lindíssimas e seminuas prontas para qualquer coisa e mulheres e homens ricos, ansiosos, que gostavam de beber e curtir os bons prazeres da vida. Muitas das mulheres estavam com coleiras no pescoço e vinham acompanhando seus senhores, algumas sentavam-se aos pés deles, outras faziam tudo que mandassem. Havia também dominatrixs caminhando com chicotes e homens submissos seguindo-as, prontos a obedecer. Garotas nuas tomavam banho de piscinas, dançavam ou eram bolinadas, mas tudo ainda era um aperitivo, uma amostra do que aconteceria mais tarde. Quando os desejos seriam realizados e a festa esquentaria de vez.
Regina saboreava seu uísque, conversando com dois diretores de sua empresa, enquanto uma linda ruiva com corpo de modelo e pernas longilíneas se apoiava no braço dele, nua e estonteante usando apenas saltos e batom vermelho. Os convidados a olhavam com desejo, admirando-a, mas sem ousar tocá-la sem que ela oferecesse. Mas Regina mal a notava. Para dizer a verdade, era um daqueles dias em que andava entediada e aquela festa não fizera muito pelo seu humor. Nem a bela ruiva. Era burra demais e por isso bem melhor de boca fechada, mostrando o que tinha de mais valor que era o corpo.
Regina se mantinha fria e distante, mas cumpria com seu papel de anfitriã. Para dizer a verdade, nada daquilo a animava muito naquela noite e esperava que algo ocorresse para afastar aquele tédio. Enquanto isso, apenas observava e falava de negócios. Tanto os homens quanto as mulheres, puxa sacos, tentavam atrair sua atenção, fosse pelos negócios ou pelo prazer. Mas ambos fracassavam em suas tentativas.
- Oi, Regina, olha quem eu trouxe para matar a saudade.
Ela se virou para Zelena sua amiga há uns dois anos, desde que fizeram algumas sociedades no meio jurídico e que jogavam sinuca nos finais de semana, Zelena acabara de chegar e Ruby estava ao lado dela, linda em um micro vestido prateado, toda maquiada, usando saltos e o cabelo lindo como sempre. Ela sorriu sensualmente para Regina e se esticou para beijá-la no rosto.
- Olá, querida. Lembra-se de mim?
- É claro, Ruby, como eu poderia esquecer? – Regina sorriu.
Tinha quase um mês que a vira pela última vez, na ilha. Na mesma hora seu pensamento foi preenchido pela imagem delicada de Emma, sua pele branca e macia, seus sedosos e brilhantes cabelos loiros, os olhos doces e verdes, por incrível que pudesse parecer, tinha pensado muito nela durante aquele mês. Quando menos se dava conta, lembrava-se algo dela, com aquele seu jeito tão submisso e puro, seu olhar apaixonado e sem disfarces, seu desejo tão claro por ela. Ainda não conseguia entender como ela mexera com sentimentos que Regina nem julgara que tinha, todas as vezes em que pensara nela, dera um jeito de esquecê-la. Era uma página virada, mas ver Ruby ali trouxe a imagem de Emma tão forte e intensa que era como se pudesse estar novamente com ela.
- Espero que não se importe por eu ter vindo com Zelena. – Ela estava abraçada ao sua amiga. Olhou a morena com ela de cima em baixo, ignorando-a.
- Sabe que é bem-vinda. E aí, Zelena?
- Qual, é, Mills? A festa está bombando como sempre!
- Fiquem à vontade. – Antes que elas se afastassem, Regina acabou perguntando:
- E a Emma? Ruby sorriu e deu de ombros.
- Nunca mais a vi. Encontro mais a Lily, parece que a Emma voltou para a vidinha dela de sempre, sua maior aventura com certeza foram aqueles dias na Ilha e ela parecia tão assustada, os olhos enormes no rosto! – Zelena também achou graça. Regina sorriu devagar, sem muita vontade. Sabia que não devia, mas geralmente fazia o que tinha vontade. E insistiu:
- Não sabe nada mais dela?
- A Lily comentou algumas coisas. – Ruby disse maliciosa.– Se quer saber, parece que a garotinha está na maior fossa por sua causa. - Coitadinha! – Zelena e ela acabaram rindo, divertindo-se.
Regina não se divertiu junto. Lembrou da docilidade dela, de sua entrega, seu medo. E o quanto tinha se arriscado por ela. Poderia parecer engraçado para Zelena e Ruby, que vinham de um mundo muito mais liberal, mas tinha entendido Emma, mais até do que gostaria. Sua tristeza e solidão eram palpáveis. Por isso não fora com ela tão longe onde poderia ir. Na verdade, acabou se limitando a ela naqueles dias, aproveitando aquela maneira diferente e mais íntima de se relacionar. E sabendo todo o tempo que seria só aquilo, que dificilmente uma se adaptaria ao mundo da outra. Até por que ela não gostava de relacionamentos. Tudo era temporário, passageiro, como Emma.
Ruby e Zelena se despediram e foram cumprimentar uns conhecidos dela. Os dois diretores com quem Regina tinha conversado até então batiam papo com duas garotas que tinham se aproximado. A ruiva nua continuava apoiando-se em seu braço como uma boneca, muda, esperando suas ordens. Regina simplesmente deixou seu copo de uísque vazio numa mesinha ali perto, afastou-se dela e disse simplesmente:
- Fique aqui. Ela enfiou as mãos dentro dos bolsos das calças do smoking e circulou entre os convidados, apenas cumprimentando-os superficialmente. Seus olhos percorreram as mulheres lindas em diferentes estados de nudez e as que mais a atraíam eram as submissas. Sentia um prazer perverso em saber que a obedeceriam, que fariam as suas vontades com um estalar de dedos. No entanto, nenhuma delas ali mexeu com a sua libido. Viu uma quieta, sentada aos pés do seu senhor, que ria e conversava com os amigos e segurava sua coleira. Estava nua, de cabeça baixa, esperando.
Por um momento um grande tesão o invadiu ao imaginar Emma ali, tão doce e ingênua a seus pés, com aqueles seios lindos com mamilos rosados à mostra, ansiosa em agradá-la. Sabia que se quisesse, se fosse da sua vontade, poderia dobrá-la, acostumá-la aquele mundo. Ela estranharia no começo, poderia tentar fugir, mas sua paixão e sua docilidade natural a fariam uma submissa perfeita, pronta para atender seus mais íntimos desejos.
Pela primeira vez na noite Regina sentiu que estava ficando dura, um lado seu, bem profundo, lamentou por ela, pois sabia que se a procurasse não seria piedosa. Emma seria dela por completo, para todas as perversidades que gostava. Não sossegaria até dobrá-la a todos os seus desejos. Mas a excitação que aquele simples pensamento provocava foi o bastante para fazê-la se decidir e Regina sorriu.
POV Emma
Minha vida caiu na rotina de sempre. Eu acordava às cinco e quarenta da manhã, saía para o trabalho às seis e vinte e pegava o metro, que era o meio mais rápido de chegar ao centro de Manhattan. Infelizmente ia todo dia em pé, apertada como em uma lata de sardinha. Depois que descia, caminhava uns três quarteirões até o prédio em que ficava a firma de advocacia e assumia meu posto de recepcionista. Já ia com meu uniforme de calça e blusa de botão azul marinho e uma echarpe creme no pescoço, meu cabelo geralmente preso em um coque. Ali eu ficava até às cinco e meia, quando saía e pegava um ônibus para a faculdade. Assistia as aulas até às dez da noite e então voltava para casa, pegando um ônibus ou o trem. Lá fazia um lanche, via um pouco de tevê ou lia e já estava na hora de dormir de novo.
Nos finais de semana eu arrumava as coisas em casa, cuidava da roupa, estudava, às vezes ia até á frente de casa e conversava com um vizinho ou conhecido. O tempo que me sobrava para o lazer, eu lia ou via um filme. Essa era a minha vidinha de sempre. Mas não era tudo igual. Por baixo de toda aquela normalidade, tudo era muito diferente. Eu não dormia nem comia direito. Tinha emagrecido. Olhava as pessoas e o mundo com olhos diferentes. Pensava em Regina praticamente vinte e quatro horas por dia. Para piorar, tinha feito três anos da morte da minha mãe naquela semana, o que me deixava mais para baixo e desanimada. Eu seguia em frente, vivia, fazia tudo como antes, mas como uma obrigação, como se tivesse sido programada. A minha vontade era de ficar em casa, quietinha no meu canto. Comecei a repensar minha vida. Primeiro, desanimava cada vez mais com a faculdade. Gostava de História, mas não queria ser professora. Sabia que meu jeito muito sereno só me traria problemas em sala de aula e tinha tomado consciência que escolhi aquele curso simplesmente para seguir a profissão de meus pais, quase como uma maneira de estar mais perto deles. Mas não era realmente o que eu queria fazer. Na verdade, eu não sabia o que queria.
Meu trabalho era também apenas um meio de me sustentar, nada que eu amasse realmente fazer. Sentia como se tivesse chegado a uma encruzilhada, precisando tomar decisões que até então eu adiara, mas sem saber ao certo para onde seguir a partir daí. Às vezes sentia como se fosse sufocar, presa em armadilhas que eu mesma tecera para mim, mas sem saber para onde correr. Assim, decidi tomar decisões aos poucos e nada drástico, pois se eu me arrependesse poderia voltar atrás. A primeira que tomei foi a de trancar a faculdade. Geralmente eu era uma pessoa paciente, temerosa, mas quando decidia algo aquilo me perturbava até me fazer mal. Como tomei consciência de que empurrava o curso com a barriga, que não queria ser professora, ir para a faculdade se tornou uma tortura. Depois que a tranquei e pude sair do trabalho e voltar para casa, fiquei mais aliviada e menos tensa. E muito menos cansada.
Tinha mais tempo para mim, mesmo que isso significasse ficar em casa com meus livros, minhas músicas, meus filmes. E minhas lembranças, que me faziam rolar na cama quente e suada, cheia de desejo não satisfeito, relembrando a boca de Regina na minha, suas mãos no meu corpo, aquele momento único em que ela estava dentro de mim e de seus olhos. Ah, os seus olhos, que me deixavam de pernas bambas, que me dominavam como se deles dependessem minha alegria. Regina vivia comigo, quase uma presença viva, lembrando-me dos dias mais intensos e maravilhosos da minha vida, em que fui completamente feliz. Sabia que era errado ficar assim tão dependente de uma pessoa, mas não conseguia lutar contra. Regina tinha se tornado meu mundo, desde que pus os olhos nela pela primeira vez.
Eu estava irremediavelmente apaixonada, sem chão, sem saber o que fazer da minha vida depois que o conheci. Ela foi um furacão que me deixou arrasada, sem nada, sozinha. E agora eu devia catar o pouco que sobrou e me reestruturar. Depois de um mês que voltei da Ilha, segui minha rotina. Lily, quando saímos da firma para almoçar naquele dia, tentou me convencer a reagir, aproveitar a vida. Estávamos em uma mesa do canto, terminando de comer. Era sexta-feira. E ela dizia:
- E aí vamos na boate nova, lá em Manhattan. É demais, Emms, só tem gente gata! Por que não vem com a gente?
- Não, estou exausta. Quero ir para casa e descansar.
- Mas nem está fazendo mais faculdade! Menina, você tem vinte e um anos, não sessenta e um, pelo amor de Deus! – Balançou a cabeça, exasperada. Sorri, tomando um gole do meu suco, depois dizendo:
- Sabe que sou chata mesmo. Esse negócio de balada não é comigo. Aquele dia que fui com você foi terrível! Morri de dor de cabeça.
- Desculpas! Você precisa viver. Pensei que depois da Ilha ia mudar, aproveitar mais! E no entanto está até pior do que antes! Pus o copo vazio na mesa, um pouco incomodada. Ela insistiu no assunto: - Meu bem, precisa esquecer a Regina, isso acabou. Ela não vai aparecer de uma hora para outra! Aposto que nem lembra mais de você! Vai ficar quanto tempo aí, desse jeito, sofrendo por ela?
- Não estou sofrendo. – Olhei-a com calma. – Mas esse é meu jeito. Daqui a pouco passa, Lily. Mas não se preocupe, estou bem.
Lily suspirou, calando-se. Eu até me admirei, pois se fosse outra já estaria cansada de mim. Voltamos ao trabalho e ao final do dia ela saiu antes de mim, correndo para se cuidar e se preparar para a tal boate. Peguei minha bolsa, saí do prédio e parei no ponto de ônibus lotado, paciente para esperar meu ônibus. Tinha certeza de que iria em pé até em casa, mas rezei em vão para não pegar um engarrafamento. Remexi dentro da bolsa confirmando que meu celular e fones de ouvido estavam ali. Só uma musiquinha para amenizar até chegar em casa. No meio do trânsito caótico naquele horário, um belíssimo e luxuoso carro Mercedes Classic, todo negro com vidro fumê, veio lento, jogando em direção ao ponto de ônibus. As pessoas cochicharam e olharam, pois o carro era excepcionalmente bonito e caro, fora da realidade de todo mundo que estava ali. Olhei para ele e dei um passo para trás quando parou exatamente à minha frente. Calculei que fosse de algum executivo, que desceria ali. Evitando a curiosidade, desviei o olhar e abri a bolsa, concentrando-me em pegar meus fones e ficar logo à mão. A porta da Mercedes abriu. As garotas ao meu lado, em cuja direção eu olhava, suspiraram e comentaram algo, excitadas. Segui o olhar delas vendo uma mulher morena e de terno preto. Seus cabelos negros estavam livres ao vento, usava seu inseparável batom vermelho e o terno com camisa branca e gravata preta caía maravilhosamente em seu corpo de outro mundo. Foi como tomar um soco no estômago. O ar me faltou, o coração pareceu sair pela boca. Fiquei paralisada, minha mão dentro da bolsa, meus olhos arregalados, sem poder acreditar no que eu via. E então ela se aproximou e parou à minha frente. Seus olhos castanhos estavam mais escuros e lindos do que eu me lembrava. Fitou-me daquele jeito penetrante e sensual e então sorriu devagar para mim. Pensei que eu fosse morrer. Fui atacada por uma miríade de sensações e sentimentos, golpeada pelo amor e pela paixão desenfreada que ela despertava em mim, tornando-me uma massa trêmula e emocionada. A plateia a nossa volta, que não tirava os olhos de nós, foi esquecida. Tudo que eu via, sentia e respirava era Regina.
- Oi, Emms.

Minha Tentação (CONCLUIDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora