Acabei fazendo como Regina mandou, quando Grahan voltou, dizendo que a ambulância tinha levado aquela mulher maldita, eu pedi uma carona até em casa. Fui chorando todo caminho, pois queria estar com ela, queria que ela tivesse me deixado ficar, que se abrisse comigo. Minha esperança era de que ela se acalmasse e me deixasse voltar. Foi uma noite horrível. Não consegui dormir, preocupada com ela, com ódio daquela mulher, sem entender como as pessoas eram capazes de covardias assim com crianças. E ela ainda tinha a coragem de voltar, pedindo perdão, como se tudo que fez fosse algo banal, desfeito com palavras de desculpas.
Deus que me livrasse, mas a raiva que eu sentia era tanta, que lamentei Grahan não ter passado com o carro em cima dela. Fui trabalhar na sexta me arrastando, pálida e com olheiras, Lily e meus colegas ficaram preocupados, perguntaram se estava doente, mas desconversei. Trabalhei como robô, calada, sem poder parar de pensar em Regina. Na hora do almoço, depois de não conseguir comer nada, não suportei e liguei para o celular dela. Depois de alguns toques, atendeu fria:
- Oi, Emma.
- Oi. – Murmurei nervosa.
- Estou em uma reunião, não posso falar agora.
- Desculpe, eu só... Só queria ouvir a sua voz.
Ela ficou quieta. Respirei fundo e falei baixo:
- Posso ir à sua casa hoje?
- Convidei umas pessoas. – Seu tom continuava seca, gelada. – Darei uma pequena reunião.
Senti um baque por dentro, entendendo ao que Regina se referia. Uma orgia. Foi como um balde de água fria, pois ela recorria àquilo após mais de um mês só comigo. Era como se tudo que passamos e desfrutamos, a intimidade que conseguimos, não tivessem significado nada. Eu sabia que não podia fazer cobranças, afinal ela sempre me alertou de que em algum momento esse seu lado viria à tona. Mas agora, sabendo que Regina estava com raiva após o acidente de Malévola, por eu saber parte de sua história, parecia que fazia de propósito.
- Era só isso? – Indagou impaciente com meu silêncio.
- Posso ir assim mesmo, Regina?
- É melhor pensar bem, a festa é particular, para quem desfruta prazeres como o meu, não é para garotas românticas, que querem fugir quando a coisa esquenta.
Tentei não ligar para sua agressividade, seu tom cínico.
- Grahan pode vir me buscar?
- Você é quem sabe, Emma, depois não diga que não avisei.
- Tá. Ele pode?
- Vai te buscar no final da tarde.
- Certo. Eu... Obrigada.
- Acho que não vai me agradecer, no final de tudo.
E tão friamente quanto falara comigo, desligou o telefone.
Voltei ao trabalho com lágrimas nos olhos e um aperto horrível no peito. Cheguei a sua casa e não vi Regina, segui para a suíte dela e sobre a cama havia um traje para mim. Era um dos que comprara e que eu ainda não usara. Olhei a peça indecente, erótica e respirei fundo, imaginando tudo que me aguardaria naquela noite. Tive certeza de que pegaria pesado comigo. Ela queria me botar para correr, não sei se por raiva, por eu ter noção do que acontecera a ela, ou para provar a si mesmo que eu não servia como sua amante. Tentaria me assustar, mas eu estava decidida a ficar. Não importa o que acontecesse, eu não desistiria. E depois que tudo acabasse que Regina não tivesse motivos para me expulsar, eu tentaria conversar com ela.
Tomei banho, pus aquela roupa, se é que aquilo poderia ser chamado de roupa, e fitei-me no espelho. Era uma espécie de biquíni de cetim preto, o peito do sutiã com renda transparente, a calcinha com um laço atrás sobre a bunda, luvas pretas até acima do cotovelo, scarpins pretos de salto alto. Deixei os cabelos soltos, passei um batom vermelho que sei que ela adorava e me perfumei. Se fosse só para Regina, eu estaria excitada, como muitas vezes fiquei ao me preparar para ela. Mas sabendo o que me esperaria naquela noite, os estranhos que tocariam em mim e nela, que estariam entre nós, eu só consegui sentir um medo estranho, uma agonia de que estivesse caindo em uma armadilha. Mas mesmo assim, estava resolvida a enfrentar.
Como ainda estava cedo e eu não queria andar pela casa assim, pus um robe de seda preto e curto e saí do quarto. Fui até a cozinha e Liza estava lá, vindo do terraço. Era uma senhora alta, meio rechonchuda e simpática, nos cumprimentamos e perguntei por Regina.
-Ela ainda não chegou. Mas segui suas recomendações e o lado exterior está todo preparado para a reunião mais tarde. Está com fome, Emma? Lá fora tem petiscos e bebidas, mas se quiser algo mais consistente...
- Não, Liza, obrigada. Vou lá fora um pouco
- Então, está bem. Já está na minha hora. – Sorriu e acenou para mim. Eu me despedi dela e fiquei sozinha. Saí ao exterior, onde sofás, divãs, cadeiras reclináveis de madeira e mesinhas com cadeiras em volta se espalhavam. Tocava uma música baixa no som ambiente e havia coolers com bebidas gelando em cada canto. Uma mesa grande e farta possuía todo tipo de petisco. Ali perto se estendia a piscina, refletindo as luzes acesas da casa lá fora. Uma brisa suave refrescava a noite e vi cortinas brancas voando. Somente então notei o espaço que tinha sido preparado entre a parede da cozinha e a da sala. Caminhei até lá e puxei a cortina transparente. No chão se estendia uma enorme cama sem pés, coberta com lençol de seda branca, era baixa, o colchão imenso dava para umas seis pessoas e em cada canto dele havia uma coluna armada, rodeadas de cortinas de correr esvoaçante, várias almofadas coloridas espalhavam-se sobre a cama e o tapete em cima da grama, fazendo um verdadeiro ninho de amor, muito convidativo. Nas duas colunas superiores havia algemas penduradas, o que fez minha barriga se apertar.
Fiquei imóvel, fitando tudo aquilo, Regina tinha tido a preocupação de mandar preparar o ambiente para sexo. Mais uma vez meu coração se apertou e senti uma repentina vontade de fugir. No fundo sentia que alguém sairia machucada naquela noite e pressentia que seria eu. Mas como deixá-la, se ela não saía da minha mente? Se eu me roeria de desespero imaginando-a ali com outras pessoas? Pelo menos eu teria como ter algum controle, quem sabe até ela aliviasse tudo, como já fez de outras vezes. Larguei a cortina e caminhei até uma das cadeiras, onde sentei desanimada fitando a piscina. A música que tocava ao fundo era uma lenta do Guns N’ Roses, November Rain. O que me deixou mais sensível, mais tocada com tudo aquilo, pensei em Regina e meu coração se apertou de saudade, amor, preocupação. Tive uma vontade imensa de abraçá-la forte, dizer o quanto o amava, que passado nenhum importava. Queria que voltássemos ao convívio e à extrema felicidade daquele último mês, o mais feliz da minha vida. Antes que ela me mandasse embora dali e voltasse a ser fria, distante.
Lembrei-me da primeira vez que a vi naquele restaurante, de como ela mexeu comigo. Eu me apaixonei por ela ali. Tentei fugir, tentei lutar, mas então já estava completamente perdida. Como agora. Minha vida sem ela era impensável. Eu faria as maiores loucuras do mundo para não perdê-la. Fiquei ali sozinha não sei por quanto tempo. Outras músicas começaram, terminaram, e eu sem coragem de fazer mais nada além de pensar. Foi quando ouvi um barulho atrás de mim. Levantei rápido e me virei. Era ela. Estava parada vinda da porta de correr da sala, aberta. Usava uma saia minúscula preta, que marcava bem o formato de seu membro e um croped curto da mesma cor, nos pés usava uma bota de cano alto, com salto relativamente alto também preta, estava deslumbrante como sempre, seus cabelos negros despenteados, seus olhos parecendo mais escuros e usava uma maquiagem pesada. Fitou-me séria, calada. Por um momento não dissemos nada, só nos olhamos. Meu coração batia descompassado no peito, minha respiração acelerou. Senti uma saudade absurda, como se não a tivesse visto ainda no dia anterior. O problema é que eu me acostumara a dormir com ela e a noite passada longe tinha sido um inferno. Dei um passo à frente, ansiosa por tocá-la, mas sua voz fria me deteve:
- Temos que deixar umas coisas bem claras antes dos convidados chegarem, Emma.
- O quê? – Perguntei baixinho.
- Se vai ficar, saiba que em sua primeira recusa a alguma coisa, deve ir embora. Não quero ter que me preocupar com você hoje. Entendeu?
- Sim, Regina.
- Outra coisa, nada de ciúme nem de olhares desesperados.
- Regina escute...
- Não, Emma escute você.
Aproximou-se de mim com os olhos ardendo. A fúria do dia anterior não tinha se apaziguado. Era como se algo a roesse por dentro, precisasse ser extravasada. Parou bem à minha frente:
- Lembra-se dos nossos jogos, onde você fazia todas as minhas vontades? Quero isso hoje, sua submissão completa ou nada. Não está sendo enganada nem seduzida. Mais cru que isso é impossível. Dê-me uma resposta agora.
- Vou ficar. – Murmurei. – Faço o que quiser.
- Já disse isso outras vezes e recuou. Hoje é o meu limite, Emms.
- Eu entendi. – Desci meu olhar até seus lábios carnudos. Então não aguentei e fui até ela, para beijá-la, Regina me surpreendeu ao segurar meus ombros e sacudir friamente a cabeça.
- Não.
- Por que está me tratando assim? – Lágrimas descontroladas vieram aos meus olhos. – Eu não fiz nada! Não tive culpa por...
- Não acusei você. Só me dei conta que não estava feliz. Essa mulher que verá hoje sou eu, não a que passou um mês brincando de casinha com você.
Suas palavras frias doeram fundas em mim. Pisquei para evitar o choro, mas retruquei:
- Você estava feliz comigo.
- Estava? – Largou-me, seca, como se não se importasse. – Como eu disse Emma, você foi uma novidade. Mas essa novidade passou. É apenas mais uma mulher.
Empalideci, arrasada. Sabia que ela estava querendo me afastar, mas não pensei que doeria tanto. Mas não fugi. Fiquei quieta, apenas olhando-a, Regina me fitou de cima a baixo e ordenou:
- Tire esse robe.
Obedeci, largando o robe sobre uma cadeira. Seus olhos escureceram mais ainda ao passar por meu corpo. Mas não disse nada. Deu-me as costas, foi até um cooler, pegou uma garrafa de vinho e destampou-a. Tomou um gole, desprezando-me. Caminhei até uma das cadeiras para sentar, pois me sentia muito cansada. Mas Regina virou um pouco o rosto para trás e ordenou de novo, fria:
- Fique ali, em uma pose de submissa. Não faça nada até que eu mande.
Apontou para uma almofada no chão ao lado de um sofá perto da cama cortinada. Por um momento enchi-me de raiva. Tive vontade de xingá-la, socar suas costas, gritar com ela. Mas então percebi que tudo era um jogo. Ela me faria desistir e aquilo era só o começo.
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Minha Tentação (CONCLUIDA)
RomansaEmma é uma garota inocente, perdeu os pais e irmã muito nova, trabalha em uma firma de advocacia, não costumava sair pra se divertir, sua vida era faculdade e trabalho, até seu aniversário de 21 anos onde ela resolve sair da rotina com suas amigas e...