57 - CONFIDENCIAS

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Rafael

Chegamos em casa e ela foi pegar as malas que já havia deixado prontas.
Falei com a babá que por um valor a mais ficaria com Caio para que pudesse resolver de uma vez minha situação.
- Pronto. Já estou pronta para ir. Não precisa me levar, vou pegar um táxi. Já dei um beijinho em Caio que está dormindo, como disse no máximo amanhã de noite estou retornando pra buscá-lo. Cuida bem dele tá. Não deixa ele só com a babá. Sei que tem que resolver sua vida. Mas é só eu ir e voltar e você vai ser inteiro dela. Aqui pega e abre só depois. - Me entregou um envelope de papel pardo, lacrado.
- O que é isso?
- Algo importante pra mim e acho que será pra você também. Agora tenho que ir. A babá já disse que vai ficar com o Caio. Vai atrás da tua felicidade, estou indo atrás da minha.
Ela me abraçou e me deu um beijo no rosto olhou para trás e deu um sorriso. Saiu porta a fora sem dizer mais nada. 
Guardei o envelope em uma gaveta, avisei a babá que estava saindo e corri para a casa da Ana, pois liguei para Davi que disse que ela havia saído de lá a uns 20 minutos.
Chegando vi tudo apagado e só o seu carro na frente da porta, então sabia que estava em casa. Não bati, mas conversei com o segurança que me conhecia, expliquei o que precisava e dei a volta até a área da piscina. Fui até a sala de treino e lá comecei a armar o meu circo. Tinha conseguido comprar umas flores em uma floricultura, trouxe um pen drive com músicas e comprei algumas velas num supermercado que tinha no caminho. E lógico se tudo desse certo tinha o champanhe que estava gelando no frigobar e duas taças também lá dentro.
O nervoso estava me consumindo...
Sabia que ela podia ouvir o som dali e ver as luzes.
Quando coloquei a música para tocar comecei a cantar junto. Não sou bom nisso, mas já que é uma tentativa vai saber não funciona.
Estava de olhos fechados e senti que alguém estava lá. Estava de costas para a entrada pois não teria coragem de cantar olhando-a.
Fora que a música é um clássico do sertanejo (tocar música) e sabia que ia cair no riso se a olhasse.
Mas no refrão não aguentei virei, queria saber se ela estava ali e qual reação teria.

Analua

Estava tão imersa em meus pensamentos olhando pela janela do quarto que nem me dei conta de que alguém havia entrado no estúdio e que tudo estava aceso até ouvir barulhos. Desci de hobby mesmo e atravessei a área da piscina já com meu bastão em mãos caso precisasse usá-lo. Os empregados tinham permissão de usar o espaço para treinar desde que me avisassem antes. Mas nunca o fizeram então poderia ser que fizessem isto sempre e eu não soubesse ou fosse algum intruso pra roubar algo. Mas como tinham passado pela segurança? Jairo o meu porteiro teria que responder depois.
Quando cheguei na porta vi flores e velas acesas pelo ambiente. E uma música começando a tocar.
Não sou fã de romantismo e nem curto breguices. E aquela música era os dois juntos. Mas a situação que vi foi de derreter o coração. Rafael estava de costas e cantava a música, me emocionei juro, mas a vontade de rir foi enorme e tive que me conter pra não estragar o clima que ele estava fazendo. E como cantava mal.
E quando veio o refrão ele virou e continuou cantando. Veio se aproximando e começou a fazer caras e bocas. Lógico que não terminou a música pois tivemos um ataque de riso.
Logo a música terminou e nos recompusemos.
- Ana, desculpa tudo o que fiz... Tudo o que não estava certo. Tenho ainda 2 minutos pra te dizer que tudo o que quero é você. Ela foi embora, conversamos e ela sabia que estava tudo errado, já tinha feito as malas e viajou, vai se mudar para outra cidade com Caio. Me perdoa por tudo. Volta pra mim. Não quero e não preciso de mais ninguém.
- Rafael, sabe tudo o que passei por ter me apaixonado por você? Ver você com ela e com um filho me matou por dentro. Me quebrou. Precisar de você do meu lado e não ter. Tudo que eu quis era uma decisão. Você esperou o último minuto pra isto.
- Por favor Ana, não diz que não me quer de volta.
- Mas nunca te tive antes. Nunca chegamos a ter algo concreto.
- Eu sei, mas estou aqui - e se ajoelhou na minha frente - pedindo perdão. Prometendo que vai ser tudo como você quiser. Por favor, me aceita?
- Rafael... - juro não contive massacrar um pouco - não sei se daria certo...
- Não faz isso Ana eu...
- Fica quieto, não terminei ainda. Como dizia, não sei se vai dar certo. Se continuar cantando mal assim. - cai na risada de novo, não aguentei.
- Juro que se depender disso pra dar certo nunca mais canto nada. - Se levantou do chão.
Rindo me tomou em seus braços e me beijou. Como senti falta daquele beijo. Daquele cheiro. Do toque da sua pele.
- Trouxe champagne..., mas tenho um pequeno problema.
- Aí meu Deus, o que foi?
- Como eu disse, ela foi embora. Só me pediu um favor nesta noite.
- O que é? - me afastei dele. Já tinha ficado nervosa.
- Calma, é que ela foi pegar os documentos da nova casa que irá morar e deixou Caio comigo essa noite. Ele está em casa com a babá, e não posso deixá-la a noite toda. Ela virá buscá-lo amanhã. Então queria que pudesse entender isto.
- Que susto me deu. O menino não tem culpa de nada. Então faz assim. Hoje bebi demais, então comemoramos amanhã à noite.
- Por isso te amo Ana.
Corei como uma menina quando recebe o primeiro elogio de um menino na escola.
- É... Então... Ela vai se mudar e com certeza vai querer ter contato com o menino.
- Me desculpe por isso, mas o sinto como meu. Tem meu nome. É do meu coração, então é meu. Não posso abrir mão dele.
- Nunca te pediria isto, não sou desumana. Entendo o laço que construiu com ele. Só não quero que vá sozinho visitá-lo. Até por ter dito que é em outra cidade.
- Irá sempre comigo. Se quiser claro.
- Quero participar da sua vida e ele é parte dela. Mas vá que está tarde e ele precisa de você.
- Amanhã as 20h venho te pegar para jantar.
- Está bem. Te aguardo.
E saiu porta a fora, mas não sem antes voltar e me dar uns três beijos.
Estava tão feliz que nem sei se conseguiria dormir esta noite.

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