58 - A QUEDA

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Rafael

Estava tão eufórico, queria ficar com ela. Te - la em meus braços, naquele momento não seria possível. Mas amanhã nada ficaria entre nós.
Assim que cheguei fui recebido por um papai que me faz derreter todas as vezes.
- O que faz acordado a essa hora?
- Desculpa senhor Rafael, mas o Caio está extremamente agitado e não consegui fazê-lo dormir de jeito algum.
- Sem problema Mila, pode ir embora. Assumo daqui obrigado.
A babá me acenou e saiu. Ficamos só nós dois. Dei um banho novamente nele para ver se acalmava e lhe dei uma mamadeira. Como estava muito cansado o deitei comigo em minha cama e adormecemos. Precisávamos disso, pois a partir de então ficaríamos longe e esse cuidado não poderia ter mais com ele.
Acordei com o celular tocando enlouquecidamente, olhei o visor e vi que era o Davi. Desliguei, só queria dormir e não ser incomodado.
Mais uma vez tocou e era ele. Desliguei novamente, esperando que desta vez não voltasse a tocar. Mas então o telefone de casa começou a tocar. Vi que não teria como evitar. Levantei e atendi com a maior má vontade do mundo.
- Fala o que é? Que droga não se pode dormir em paz...
- Cara liga a tv agora. Tô chegando aí.
- Mas pra que?
Não deu tempo de nada ele já tinha desligado.
Achei estranho, ele nunca fez nenhum alarme deste antes.
Assim que liguei a tv, vi o motivo do desespero.
Estava passando uma notícia de um avião que havia colidido está manhã, quando chegava em nossa cidade, mas não entendi o motivo dele ter se desesperado, pelo que sei Lilian estava em seu apartamento. Meu Deus, só se foi o pai dele. Fiquei aguardando os detalhes quando a campainha tocou e abri a porta pra ele que entrou afobado e pálido.
- Me diz que a coisa nojenta está aqui?
- Cara não viaja. Ela foi ver a nova casa. Está de mudança, não deu pra te contar ainda, mas me acertei com a Ana pois ela está indo embora com o Caio. O que tem essa queda de avião a ver contigo, nunca te vi assim. Foi algo como teu pai?
- Cara senta aí.
- Tá me deixando nervoso, é alguém que conhecemos que estava no vôo?
Foi quando o jornalista começou a falar o nome das vítimas do acidente. O vôo não estava com muita gente.
Então foi quando o choque me acometeu.
"Entre os tripulantes encontrava-se a ex-modelo Tayla Mesquita de Assis."
Ela estava voltando pra buscar nosso menino.
- Davi, o que? Como? O que eu faço agora? O que digo a ele?
- Calma cara, temos que saber mais detalhes.
- A Ana. Preciso da Ana. Chama ela. Por favor. Eu não... Não... O que eu faço?
- Papaiiii ...
- Ele acordou. O que digo? O que tenho que fazer.
- Cara te acalma. Não vai falar nada pra criança ainda. E respira que tu tá surtando, vou ligar pra Ana e você vai ver ele.
Sai da sala e fui no quarto pegar o meu menino. Troquei sua fralda e dei a mama. Mas não aguentava as lágrimas escorriam em minha face.
- Papai... Titi.
- Papai não tá triste meu amor.
- Colano?
- Papai tá chorando, mas não tá triste tá bem? Logo vai passar.
Estava atordoado. Logo vejo a porta abrir e a Ana vir me abraçar.
- O que faço?
- Te acalma, ele precisa de você calmo.
- Como digo isso pra ele.
Ele olhou pra ela e sorriu.
- Meu amorzinho, como vai? Sou a Titia Ana.
- Papai... Titi.
- Papai tá um pouquinho triste sim... É que...
Não quis que ela fizesse isto. Eu tinha que fazer.
Vi que ela ficou sem saber o que dizer.
- Amor do papai. Vou te contar uma história. - O peguei e coloquei em meu colo. Olhei aqueles olhinhos pequenos e criei coragem por ele.- ontem a mamãe foi fazer uma viajem, foi lá longe ver uma casinha. Daí o papai do céu chamou ela pra ir morar com ele e ela teve que ir cuidar dele. Daí pediu pro papai cuidar de você enquanto ela estiver viajando pra cuidar dele. Tá bem?
Ele acenou a cabecinha e foi em direção a Ana que estava sentada nos olhando
- Botou as mãozinhas no rosto dela fazendo carinho.
- Cudatilha?
- Não entendi o que ele disse.
- Meu amor lembra que papai disse pra falar devagar pra não atravessar as palavras? Fala devagarinho.
- Cuda titila?
- Há! É.... Eu ajudo o papai a cuidar sim. (É isso?) - ela me sussurrou.
Acenei em positivo pra ela.
- Rafa, vai ver o que precisa. Pode levar ele lá pra casa enquanto resolve tudo. Chamo meu irmão com meus sobrinhos pra brincar com ele.
- Obrigada Ana, vou ajeitar ele e as coisinhas. Daí o deixo lá daqui a pouco.
- Tá bem, estou indo então. Me ligue se precisar de algo mais.

Assim que deixei o Caio com a Ana e corri com tudo pra saber do procedimento nesses casos. A noite estava com ele na casa dela. Que me ajudou de mais. Comprou até algumas coisas pra ele se distrair enquanto resolvia as coisas. Foram dias difíceis.
Como o corpo foi carbonizado o caixão foi fechado e a cerimônia simples e curta.
Ana deixou Caio com a irmã. E esteve comigo neste momento difícil.
Por mais que não entendesse, ela respeitou a minha dor.
Foi um dia bem pesado. Poucas pessoas compareceram. Davi não gostava dela, mas esteve lá por mim, assim como alguns funcionários da empresa e a Lilian.

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