22. Cicatrizes

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RAFAEL.

Lilian me deu notícia disse que ela não está bem, pediu que não aparecesse, mas não consegui manter distância. Precisava vê-la.
- Lilian, oi. Como ela está?
-Oi Rafael, Davi!- ele só fez acenar com a cabeça, tambem estava preocupado com Ana- ela ainda não saiu do quarto. A dois dias não come nada e não fala nada. Não tô sabendo o que fazer, só a família dela não tá sabendo do que está havendo. Resolvi não contar como ela está, mas tão me pressionando pra saber dela e falar com ela.
- Quero vê-la, derrepente posso ajudar de alguma jeito.
Subimos as escada,em um silêncio sepulcral. Só se ouvia uma música triste vindo de um dos quartos.
- Ana, tem visitas. Não consegui conter.
Ela olhou por tudo mas ela não estava. Havia um sanduíche pela metade e um copo de suco tomado. Tinha roupas na cadeira e nada mais fora do lugar fora a cama bagunçada.
- Lilian ela saiu?
- Nao é possível, eu estava lá embaixo perto da porta de saída, teria visto.
- O carro dela estava na garagem quando chegamos.
Foi quando uma música começou a tocar, mais alta da que estava no quarto.
Lilian olhou pela janela e seguiu para fora do quarto. Quando chegamos próximo a piscina a encherguei dentro da sala espelhada. Pedi a Lili que me deixasse tentar.
Fui sozinho até lá. Ela estava mais magra, com o cabelo em um rabo de cavalo e uma camiseta do Metallica. Para mim continuava linda mas seu rosto abatido estava ali. Ela escutava uma música que a traduzia muito bem. E dava socos no saco de areia. Apesar de traduzi-la tão bem aquela música me dava tristeza profunda.
Fiquei a olhando enquanto ela socava e chorava. Me cortou o coração a ver assim, mas não quis interromper pois era seu sofrimento e eu não fazia parte daquilo.
Foi quando olhei bem e vi que sua pele estava machucada. Tinha feridas por seus braços e suas pernas. Lilian não havia me dito que ela estava assim se não já teria vindo antes.
Ela parou respirou fundo deu um grito de dor e um soco que tive dó daquele saco de areia, pois o coitado se furou tamanha foi a força que ela empregou. Depois se ajoelhou e respirou pesadamente. Não aguentei mais.
- Ana?
Foi os olhos mais tristes que já vi, ela se levantou veio até mim e me abraçou como se precisasse de conforto. A abracei como se ela fosse meu bem mais precioso. E não queria sair dali por nada.
- Calma, vai passar. Você é forte. Me mostrou isso várias vezes. Estou aqui para o que precisar.
Ela me olhou nos olhos com aquele mar que ela tem no rosto. E por muito tempo me perdi ali, fascinado.
- Ana, meu bebê.
Vi a mãe da Ana vir correndo. Ela largou meus braços, instantaneamente senti um vazio.
- Mãe, me dá colo.
Vi uma Alice muito chique arrancar seus sapatos se jogar no chão e chamar aquela baita mulher para seu colo.
Ela afagou seus cabelos e dizia baixinho que a mamãe estava ali.
Vi Ana chorar ainda mais.
Sai dali para dar privacidade a elas, sei que era um intruso no lugar.

ANALUA

- Meu bebê, me conta o que aconteceu direito.
Contei tudo a minha mãe ela chorou junto comigo por cada dor que passei. Cada palavra que ele me disse e guardei trancada até hoje. Cada detalhe que fez um pedaço do meu coração desmoronar.
- Meu amor, só tenho a dizer que chore tudo que tiver que chorar, faça um velório desta sua dor e enterrei. Acabe com isso. Não sofra mais. Comemore o que se tornou e não o que ele disse que era. Pois tenha consciência que não é nada do que ele disse. Não tenha medo do futuro. Não se prive de ser feliz.
Juro que cada palavra da minha mãe me fez refletir. Hoje sou o que quis ser. Hoje sou mais forte do que era. Ou me ergo ou me deixo no chão e desisto de tudo que construí.
E já havia prometido que ninguém mais me pisaria, ninguém mais iria me machucar. E vou cumprir minha promessa. Sou e tenho que ser forte.
Me levantei a abracei e estava me sentindo melhor. Colo de mãe faz milagres.
- Bebê, só uma coisinha, esse rapaz que tava aqui.
- Rafael? Que tem?
- Ele gosta de você. Você não tá iludindo ele né?
- Aí mãe não viaja, Rafael não é de se apegar a ninguém. Não tô iludindo ninguém.
- Ana, ainda tem muito a aprender, ainda mais a identificar o jeito e olhar de um homem apaixonado. E pelo jeito que te vi abraçando ele, senti que não é tão indiferente assim.
Fiquei quieta. Será que o Rafa tava mesmo... Ai que viagem capaz. E eu gosto dele por perto, agora mais do que antes, mas daí estar apaixonadinha por ele é loucura de mãe.
Fomos em silêncio até a cozinha onde todos estavam a nossa espera. Lilian correu e se agarrou em mim.
- Ana o que é isso na sua pele??
- Filha! Fiquei tão nervosa em te ver que nem reparei, o que aconteceu?
- Calma, só esfreguei minha pele com muita força, só isso.
- Força? Ana tu olhou sua pele? Tu tá com ela toda machucada.
Foi quando dei atenção e olhei meus braços, todos ralados, machucados.
- Nossa, não tinha visto que estava assim.
- Vou cuidar disto pra você. - Lilian correu pra pegar um antisséptico.
E foi aí que olhei para Rafael e lhe dei um sorriso, ele estava me olhando, fiquei pensando no que minha mãe disse. E ficamos nos encarando por um tempo. Até que me liguei que o encarava e virei.
-Estou com fome, vamos pedir pizza já que está todo mundo aqui?
Todos comemoraram. Mas Rafael não.
- Desculpa, preciso ir. Tenho algumas coisas pra arrumar.
Se despediu de todos e foi. Senti um certo desconforto com sua partida. Mas o que mais me intrigou foi que Davi não foi junto.
Pedi licença e fui atrás de Lilian que não havia voltado mais.
- Amor cadê você?
- Aqui no banheiro. Tô procurando o remédio, mas não tô achando.
- Li, o que o Davi ta fazendo aqui? O Rafael foi embora e ele não.
- Aí Ana, não sei ele pediu pra falar comigo a sós, mas sua mãe chegou bem na hora. Creio q por isso ficou.
- Ta, então faz o seguinte, convidei todos para pizza. Comemos, digo que estou cansada e dispenso todos, daí depois venho pro meu quarto pra vocês conversarem.
- Ta bem, obrigada.- ela sorriu e fiquei pensando o rumo que nossa vida está tomando. Tenho boas intuições em relação ao futuro.
Depois que todos foram, fui para o quarto e pensei bastante, no fundo sabia que esse momento iria chegar. O confronto seria inevitável. Mas, diferente do que aconteceu no passado. Hoje chorei o que tinha que chorar, estava interrado e o velório seria ala Analua, seria o ponto final de tudo e depois só eu sei, porque Deus não tem nada a ver com minhas loucuras.

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