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Bae Joo-Hyun

    Isso era uma loucura! Uma completa loucura! Eu não deveria ter voltado. Que maldição! Como eu posso ter sido contraída por uma criança?

   Os gritos já não estavam presentes no ar. Meu corpo tremia e eu sentia a grama fazer cócegas em meus pés,não era algo que eu deva sentir no momento,mas eu sentia.
     Segurava o pedaço de madeira com firmeza próximo ao rosto. Eu acertaria Taehyung bem próximo a nuca,assim ele não teria chances de acordar. Que pelo amor de Deus,dessa vez,tudo dê certo.

   Taehyung e a moça loira não estavam mais ali,frente a casa,na verdade,eu não sei exatamente onde estavam. Não conseguia ver. Continuei na escuridão,caminhando lentamente rente a madeira da cabana. Meu coração estava firme,suas batidas,lentas,e minha respiração não estava diferente. Por céus,eu estava morrendo? Que meus pedidos sejam atendidos e que eu esteja sim,morrendo.

    Meus pés se fixaram no chão. Bem firmes. Não consegui me mover,me movimentar ou respirar novamente. Taehyung estava com o corpo da moça em mãos. Meus olhos se aterrizaram com a cena. Eu cheguei tarde demais. Muito tarde. Sangue escorria pela garganta cortada da bela moça,sua pele branca,um dia,fora bonita e corriam vidas por suas veias. Os olhos estavam arregalados,abertos,seus belos olhos azuis estavam me olhando,me punindo,me culpando por não ter voltado antes. Ela estava descalça,com o vestido vermelho florido rasgado em algumas partes. Seus joelhos estavam sujos de terra e ela estava mole,muito mole. Taehyung conseguia carregar seu corpo com extrema facilidade.

    Taehyung. Um monstro. Eu podia ver seu sorriso. Seu sorriso extremamente alegre. Ele estava feliz com aquilo. Satisfeito. Arrastou o corpo até uma pequena casa de madeira atrás da cabana,eu não tinha  percebido a presença dela ali,eu nunca havia a visto. Para mim,era um lugar que não existia. Que passou a existir agora. Depois disso,depois dele entrar com ela até lá,eu larguei a madeira no chão. E não consegui me mover.

    -Tem certeza que precisa ir mãe? -Jin segurava o rosto de nossa mãe em suas mãos,analisando suas feições. Ela estava confusa,desastrosa,de um tempo para cá,vivia fugindo durante a noite e sempre tinha ataques epiléticos. Sem contar,os pesadelos,ela tinha muitos pesadelos. -Podemos encontrar médicos bons por perto mãe,não precisa ir tão longe. Atravessar todo o estado para procurar um bom médico? Por favor mãe,podemos ajudar a senhora aqui!

   Meu coração doía. Era uma sensação estranha,uma sensação agonizante. Eu sabia que algo estava errado,mas não exatamente o que. Sabia que não era uma boa ideia minha mãe partir assim,mas não podemos fazer nada,não podemos ajudá-la por aqui. Não podemos fazer nada por ela.

     -Por favor meu filho,cuide da sua irmã. Eu vou voltar em algumas semanas,e tudo ficará bem,hum? -Ela tocou delicadamente o rosto do filho. Sorri vendo aquilo. Minha mãe sempre fora cuidadosa conosco. Sempre nos deu o máximo de amor que podia. -Irene meu amor,venha aqui.

   Me aproximei lentamente e me enrolei em seus braços. Era tão bom sentir o cheiro dela. Era sempre o mesmo perfume. O mesmo doce perfume,que minhas narinas amavam sentir. Minha mãe tocou meus cabelos gentilmente,acariciando-os,depois segurou meu rosto em suas delicadas mãos e me beijou na testa,não pude deixar de sorrir. Jin nós envolveu em seu abraço logo em seguida. Ele certamente estaria sofrendo por dentro,e se ninguém o mimar,ele entraria em prantos assim que minha mãe partir.

  -Voltarei em breve meus amores.

*

    Ela não voltou. Passaram-se duas semanas. E ela não voltou. Na verdade,ela nem sequer ligou o nos enviou alguma mensagem. Ela simplesmente,sumiu.

  Jin e eu já havíamos distribuídos cartões e cartazes a sua procura,amanhã,colocaríamos seu retrato na TV e nos jornais.

   -Você se lembra daquela noite? -Perguntei de repente,assim que Jin se levantou da mesa do café. -A noite em que pegamos a mãe na floresta?

  -Sim. O que tem? -Ele estava de costas para mim. Não parecia querer dar muita atenção. Eu sei que ele sabia,e eu sei que ele nunca quis acreditar, mas alguém precisa entender, exatamente o que aconteceu.

  -Lembra que na manhã seguinte,encontraram o corpo daquela criança enterrada onde ela estava? -Engoli em seco assim que terminei a frase. Jin parou,mas não me olhou,em vez disso,olhou em direção a floresta,que dava para ver claramente de nossa janela.. -Ela disse que fez algo ruim Jin...

    -Não sei o que você esta insinuando Bae. Mas está passando dos limites. Volte a comer.

   Meu irmão saiu da cozinha em passos largos,pegou seu casaco e as chaves do jipe. Não quis mais olhar para mim,muito menos em minha direção. Escutei o barulho do motor e ele me deixou ali.

  Eu sei que Jin nunca irá falar sobre isso. Ele sabe a verdade,só não quer acreditar.

   *

      -O que você está fazendo aqui fora?

   Sai totalmente do meu transe. Oh meu Deus! Oh meu DEUS ah não! Eu não acredito! Não acredito que tudo deu errado de novo! Por favor!

   Antes que eu pudesse perceber,já estava chorando. Chorando de desespero,de frustração,de medo,de arrependimento. De tudo! Eu estava chorando! Eu disse que não iria chorar,que seria forte,que não teria a coragem de desistir,mas cá estou eu. Desesperada demais para pensar em ser forte.

-Porque você está chorando? -Taehyung pegou meus ombros e me sacudiu. Ele estava furioso. Estava sujo de sangue,e agora,estava me sujando também. Tinha sangue em mim. Sangue daquela mulher! Sangue que eu não consegui salvar! Meu corpo estava em inércia. Não conseguia me mexer. -O que você estava fazendo aqui fora?

    Ele perguntou novamente. E eu não consegui responder.
   A criança não estava mais lá. Eu não estava livre. Eu voltei. Voltei para salvar a mulher,e agora ela estava morta. Se eu tivesse voltado pelo menos alguns minutos antes,eu teria conseguido,certo? Teria conseguido salva-la? Eu tenho certeza que sim.

   Taehyung me levou para dentro a força. Me jogou em seus ombros e me levou até o porão. Até aquele quarto em que fiquei no terceiro dia que cheguei. Lá estava fedendo. Poeira e talvez,carne podre. Mesmo assim,ele não teve piedade e me colocou lá. Eu não tenho certeza de onde ele tirou as algemas,mas,ele me prendeu na cama com elas,me colocou de lado e passou meus braços pela cabeceira,me prendendo ali. Eu não reagi momento algum. Os gritos,o sangue,o cabelo loiro,o ursinho,minha mãe, Jin...tudo estava em minha mente como um enorme buraco negro. Meus pensamentos estavam confusos.

    Eu queria reagir,queria manter minha esperança em fugir,mas eu não conseguia mais. Tinha desperdiçado novamente minha chance. Como sairei agora?

   -Eu vou matar você Kim Taehyung. -Sussurrei entre os dentes,não alto o suficiente para que escutassem completamente a frase,porém,nada baixo para que ele não ouvisse algo. Seu olhar era indecifrável. Ele sorriu enquanto amarrava meus pés.

    -Eu gosto disso Irene. Gosto da sua coragem. Você é uma mulher de sorte. -Ele dei dois tapinhas no meu calcanhar machucado,mas não doeu. Eu não estava mais sentindo dor. -Espero que você tente mesmo me matar,acredite, é o que eu mais desejo. Por favor querida,me liberte desse inferno.

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