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Bae Joo-Hyun

           Haviam diversos documentos na caixa. Fotos,extratos de bancos,ficha clínica e passagem na polícia. Uma pasta para cada vítima de Taehyung. Em alguns casos,possuíam até o número da conta bancária e do cartão de crédito. As fotos foram tiradas em vários momentos e de extrema qualidade. Momentos em que as vítimas estavam distraídas,fazendo coisas de seu dia a sua. Como por exemplo,ir ao mercado,pegar a roupa na lavanderia,ou até dentro de casa,assistindo televisão. Taehyung captou cada momento,cada passo da vítima. Ele a analisava,buscava seus pontos fracos e traçava o perfil físico,psicológico e emocional de cada um. Entre tantos,encontrei o de Maria.

Nome: Maria Djakab
Idade: 27 anos
País de origem: Rússia.

Perfil psicológico: Psicopatia

      Meu estômago revirou. Um aperto em meu peito me fez sentir um pouco de falta de ar. Se eu tivesse salvo Maria aquela noite,se tivesse voltado a tempo,e por algum acaso ou ajuda do destino,eu a tivesse salvo,eu estaria fazendo o certo? Estaria salvando uma vida que deveria ser salva? Salvando a vida da mulher que estava envenenando a própria mãe? Eu teria feito o certo?

       Eu acho que sim. Eu não sabia nada disso aquele dia. Contudo,não importa. Ela já está morta,e agora,a mãe irá viver por mais alguns anos.
   De qualquer forma,eu não posso voltar no tempo para saber oque teria acontecido.

     -Você é um monstro Taehyung. -Minhas palavras atingiram-no com força. Taehyung me olhou completamente confuso e magoado,e balançou a cabeça lentamente de um lado para o outro,negando o que eu estava dizendo. Só não sei,se ele estava negando pra mim,ou pra si mesmo. -Você conhecia a vítima,sabia cada detalhe dela,e no final,em vez de entregar tudo na mão do Jin...digo,na mão do delegado,você decidiu virar um justiceiro maluco que mata pessoas. Isso não é justiça Taehyung. É assassinato. Matar pessoas pelos erros delas,só te torna um monstro.

    Ele parecia perplexo. Não acreditava no que eu acabara de dizer. Taehyung se levantou irritado e andou de um lado para o outro. As mãos fechadas em punho,tentando descontar sua evidente raiva. Me encolhi no sofá quando Taehyung começou a mexer na caixa desesperadamente procurando por algo. Não importa as intenções dele. O que faz é errado. Me manter presa é errado. E se ele só mata criminosos. Por que está me mantendo aqui? Já entendi que tenho ligação com alguém do seu passado. Já entendi que ele não consegue me matar. Porém,e quando ele conseguir? E quando ele simplesmente olhar para o meu rosto e não ver mais a pessoa que ele vê? Vai me matar? Me soltar é claro que não. Assim que eu sair,eu vou contar tudo para o Jin, simplesmente tudo. Sem esquecer de nenhum detalhe e até acrescentar. Posso dizer que ele me jogou no chão diversas vezes com tanta força que eu tive vários hematomas. O que não é totalmente mentira,já que eu me machuquei como nunca tinha machucado durante essas semanas aqui. Semanas. Já se fazem semanas. É estranho pensar nisso.

-Olha só! Você se lembra do Sung Jae? Veja! Ele era um monstro! Ele era! Não eu! Sabe quantas meninas ele estuprou? Quantas garotinhas,ele molestou? O histórico dele chega a ser mais de 100! 100 mulheres sofreram nas mãos dele! E você quer me chamar de monstro? Não, Bae. Eu não sou o monstro,eu sou um anjo. Eu tiro a maldade do mundo e o torno um lugar melhor. Sung Jae merecia morrer. Assim como Maria,como a Joy e como o Jae Lee. Todos eles mereciam morrer. Todos fizeram coisas horríveis e todos eram monstros! Eu não sou o monstro aqui! Não eu. -Ele foi colocando pasta por pasta em minha frente. Contando cada pecado de suas vítimas. Era tudo tão...pesado pra mim. Aquelas pessoas fizeram coisas horríveis antes de Taehyung acabar com elas. Joy era uma mulher que estudou comigo na creche. Ela estava sempre sorrindo e trazendo alegria na cidade. Ela foi umas das primeiras vítimas. Eu me senti indiferente no seu velório,mas não cheguei a chorar ou ficar triste. Na verdade,eu estive em todos os velórios das vítimas de Tae-menos o de Maria, obviamente,mas eu a vi morrer,então isso deve contar de alguma forma -e em todos eles,eu me sentia confusa,sem sentimentos fixos. Joy roubava dinheiro e se prostituía. O pecado dela,foi a prostituição. Como Taehyung pode a matar por precisar de dinheiro para sobreviver? Na ficha dela,estava bem grande e em negrito. Leucemia. Ela precisava do dinheiro pro tratamento,como Taehyung conseguiu matar alguém assim? Alguém que estava doente e que só precisava de ajuda? -Eu conheci ela uma semana antes de mata-la. Transamos algumas vezes. Ela era espetacular no que fazia. Mas na última vez,eu acabei dormindo e quando acordei,ela tinha roubado todo o meu dinheiro.

    -Você matou a mulher que você fodeu por várias noites? -Eu estava incrédula. Ele era um monstro. Eu sei que já disse isso diversas vezes,mas eu não consigo parar de repetir. Ele era um monstro da pior espécie possível. Meu DEUS! -E ainda ficou estressado porque ela roubou o seu dinheiro? Pelo amor de Deus ela devia ter te matado!

    -Sua sinceridade me comove Irene. -Ele sorriu cínico e voltou a mexer na pasta de outra pessoa. Reconheci no mesmo instante o rosto de Jimin. Eu nem consegui pronunciar nada. Apenas tomei sua ficha em minhas mãos. -Ele está muito bem vivo. Não foi tão difícil forjar a morte dele. Seu irmão não é tão inteligente sabia? Nem ao menos quiseram comprovar que o corpo era mesmo do Jimin só por conta do nível de decomposição avançado e porque os pertences estavam no corpo. Aquele era um maldito qualquer que eu achei em Seul.

    -Eu acho melhor você parar de ficar falando dessa forma em relação ao meu irmão. Ele ainda vai te pegar. Não tenho dúvidas disso.

   -Eu também não tenho. Uma hora ele vai me encontrar Irene. Seu irmão só é um imbecil,e lerdo,mas ele sabe que precisa de mim,e algum dia vai se esforçar um pouquinho mais para entrar em contato comigo.

     Entrar em contato com ele? O que esperava? Uma parceria? O delegado e o psicopata? Isso nunca iria acontecer. Jin tem honra,caráter e ética. Ele nunca se envolveria com alguém como Taehyung. Ele quer fazer o certo,pelos caminhos e meios corretos,não da forma que Tae faz.

    -Fico impressionada com a sua capacidade de se auto iludir. É realmente impressionante.

     Taehyung retirou a caixa de minha mãe guardando tudo novamente em ordem alfabética. Ordem. Alfabética. Até com papéis,ele é extremamente maníaco por organização.

   -Eu quero ir dormir agora. -Me levantei rapidamente tentando sair o mais rápido possível daquele lugar e voltar para o sossego do porão. Por mais que seja insuportável quando Taehyung fica andando no andar de cima,ainda assim, é o lugar onde eu prefiro passar meus dias. Qualquer lugar longe dele é melhor.

      -Vou descer com você. Não confio mais na senhorita. Quem sabe o que pode dar na sua cabeça e eu acordo durante a noite com a casa pegando fogo? Você quebrou minha confiança tantas vezes Bae. Será difícil reconquista-la. -Eu escutava seus passos atrás de mim. Me seguindo. Mesmo de costas,seu olhar estava em meu corpo e isso me incomodava. Me incomodava bastante. A cabana estava escura. Outra coisa que Taehyung gosta. Escuridão. Precisava tomar cuidado em cada passo que dava para não acabar tropeçando. A escada que levava até o porão,era ingrime e me causava medo. Para ser sincera,tudo me causava medo,até o som dos passarinhos. Nunca sei quando é a última vez que vou escuta-los. Posso não acordar um dia. -Vou deixar a grade trancada,e a porta lá de cima.

    Concordei entrando no cômodo o mais rápido possível. A coberta havia sido trocada. Não era mais aquela grossa que esquentava todo o corpo. Agora era uma mais fina. Passarei frio durante a noite.

   Os cadeados começaram a ser trançados e o barulho do ferro da grade entrava em minha cabeça com um som desconfortável. Fechei os olhos me enrolando no tecido fino e virei as costas para a entrada. Não queria que seu rosto fosse a última coisa que eu visse antes de dormir.

    -Voltarei amanhã de tarde. Tenho que resolver algumas coisas e ver as notícias na cidade. Mas antes eu deixo o seu café. Boa noite Irene.

   Eu não respondi. Não fiz nem um mísero gesto. Eu não queria e não achava necessário. Ele sabia o quanto o desprezo e isso não é segredo algum.

    -Quero ter apenas notícias do meu irmão. -Disse por fim quando percebi que ele ainda estava parado do outro lado me analisando.
  

    -Vou ver o que consigo.

   
   Depois disso,eu fiz o máximo de esforço para tentar dormir. Mas não adiantou muito. Meus olhos se fecharam quando o sol começou a nascer e quando eu vi que Taehyung já tinha saído de casa.

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