CAP 23-Guilherme

822 55 12
                                    

Poder ver Carolina tão perto de mim como naquele momento fez com que o meu coração batesse mais rápido que o normal. Ela era linda, quer dizer, ela sempre foi linda, mas com o passar dos anos ela tornou-se numa mulher maravilhosa, as suas novas curvas deixavam-me ainda mais maluco por ela, mas saber que não lhe podia tocar era como se um buraco negro me engolisse de uma só vez.

Não deixei que ela me expulsasse de sua casa, era certo que eu não queria invadir assim a sua privacidade e o seu espaço, mas estava na hora de termos uma conversa como dois adultos que éramos e independentemente do que acontecesse com esta conversa eu teria de assumir toda a responsabilidade e sofrer com todas as minhas consequências.

Ela olhou para mim e eu tive de prender a respiração sob aquele seu olhar sério e azul penetrante. Ela indicou-me a sala de estar e por fim o sofá onde eu me sentei e ela sentou-se no outro sofá ao lado.

Deixava-me triste saber que ela nem se aproximava de mim, mas a culpa é minha. A culpa será sempre minha e eu responsabilizo-me por todo o mal que lhe causei. Somente eu tenho culpa.

-Antes de mais eu queria pedir-te desculpa pelos miúdos estarem chateados contigo, não era minha intenção causar tudo isto-olhei para as minhas mãos respirando fundo-eles apareceram lá em casa dos meus pais e eu estava lá, não tive como impedir o nosso encontro.

-A culpa não é tua-ela respirou fundo-a culpa é minha por nunca lhes ter contado a verdade sobre quem era o pai deles-ela olhou-me nos olhos.

Ficamos uns segundos em silêncio, cada um perdido nos seus próprios pensamentos sem saber o que dizer ou fazer a seguir.

Tudo tinha de ser feito e dito com cuidado, nao queria ter de magoar ainda mais a Carolina com coisas do passado, muito menos fazê-la ganhar ainda mais rancor e ódio por mim. Queria que tudo ficasse resolvido entre nós mesmo que não houvesse nada mais entre os dois, queria poder conhecer melhor os nossos filhos, fazer as pazes com a minha irmã e que ela se orgulhasse mais de mim e tudo estaria melhor, pelo menos eu queria acreditar que sim.

-Vieste até aqui só para me dizer isso?-ela falou.

-Queria falar contigo sobre outras coisas-ajeitei-me melhor no sofá por estar um pouco nervoso com o seguimento da próxima conversa.

-Sobre o quê?-perguntou curiosa.

-Sobre o que se passou há 16 anos atrás-olhei nos seus olhos azuis.

-Acho que já está tudo resolvido quanto a esse assunto, não achas?-ela falou chateada, mas não a censuro.

-Não Carolina, não está tudo resolvido-falei direto-só quero esclarecer algumas questões e prometo que vou logo embora e não te incomodo mais.

-Sendo assim sê direto e rápido-respondeu grossa.

Passei as mãos pelos meus cabelos e respirei fundo antes de começar.

-Eu sei que fui um completo estúpido quando te deixei para trás e te abandonei grávida e...

-Ora nisso concordamos os dois-ela encostou-se para trás no sofá e os meus olhos desceram para o seu decote. Abanei a cabeça e tirei aqueles pensamentos absurdos.

-Tens todo o direito de me odiares, eu percebo-te perfeitamente-concordei com ela-mas queria dizer-te outra coisa-respirei fundo-eu na verdade nunca te abandonei, não indiretamente.

-Como assim?!-ela olhou confusa para mim-o que estás a querer dizer?

-O que eu te estou a tentar dizer é que sempre segui os teus passos, desde a primeira vez que trouxeste os miúdos para casa depois de passares quase duas semanas no hospital, todas as noites que passaste acordada a cuidar dos nossos filhos, havia até noites que eu não deixava que eles chorassem só para tu descansares um pouco mais para teres forças para cuidares deles durante o dia, lembro-me perfeitamente do dia em que voltaste para a escola e quando entraste exatamente para a universidade que querias, tu conseguiste e eu fiquei muito orgulhoso de ti, de verdade-respirei fundo e olhei para o seu rosto lavado em lágrimas, odeio vê-la assim-acompanhei-te cada dia da universidade, não podia deixar que nenhum lobo se metesse contigo e tentasse te magoar, passei noites a fio acordado aqui mesmo à porta de tua casa para afastar todos aqueles que te queriam marcar, eu acompanhei o crescimento dos nossos filhos, as suas primeiras palavras, os seus primeiros passos, os seus próprios tombos, todas as vossas brincadeiras e até os choros dos três. Sei que choraste muitas noites por minha causa e eu não me orgulho disso, nunca. Chorei cada lágrima tua contigo. Nunca me irei perdoar pelo o que te fiz passar durante todo este tempo acredita.

Vi o seu corpo se levantar e virar costas enquanto limpava a sua cara. Notei que ela respirou fundo e aos poucos foi ficando com a respiração mais calma, então, ela voltou a olhar para mim e eu levantei-me também ficando de frente para ela.

-Fiquei muito orgulhos quando conseguiste te formar em medicina e conseguiste a tua profissão de sonho-sorri um pouco ao me lembrar desses momentos-era o teu sonho seres médica e olha só, és uma médica cirurgiã fantástica, a mais cobiçada e melhor de toda a alcateia. As pessoas confiam em ti e no teu trabalho, tu conseguiste ser aquilo que eu sempre acreditei que fosses, sempre acreditei no teu potencial, na tua dedicação e amor pelo que fazes-sorri completamente orgulhoso na mulher que estava diante de mim.

Ficamos em silêncio mais uma vez e eu esperei que ela dissesse alguma coisa, mas os minutos a passar só me faziam ficar ainda mais nervoso e aquela espera era agonizante.

-Tu fizeste tudo isso de verdade?-ela olhou nos meus olhos.

-Sim-assenti.

-Porquê?-ela deu um passo na minha direção-para quê tudo isso se não estávamos juntos? Para quê tudo isso se não me irias ajudar a cuidar dos miúdos? Para quê tudo isso se terminaste com tudo o que nós tínhamos? Podíamos ter sido tudo Guilherme, podíamos ter tido uma vida feliz os quatro. Podíamos ter sido uma família de verdade.

-Tens razão-concordei com ela-eu sinto muito pelo que te fiz passar, nada do que eu disser ou fizer não vai apagar toda a dor que te causei e muito menos te fazer me perdoar, mas eu só queria ficar com a consciência um pouco mais tranquila e resolvi contar-te tudo o que fiz por ti e pelos nossos filhos durante todos estes anos e...

-Porque não participaste na vida deles diretamente?-ela limpou uma lágrima no seu rosto-podias tê-los conhecido Guilherme, podias cuidar, brincar, passear, rir com eles todos os dias, porque fizeste isso pelas sombras?-ela olhou intrigada para mim.

-Por tua causa-passei as mãos pelos cabelos.

-Por minha causa?-ficou confusa-nunca te proibi de teres contacto com eles Guilherme.

-Não queria chegar todos os dias à tua beira e ver mágoa, desilusão ou ressentimento nos teus olhos-suspirei cansado-não queria te magoar dia após dia, por isso afastei-me e fiz o que pensei ser melhor para ambos.

-O que era melhor para ambos?-ela quase sussurrou.

-Sei que não me vais perdoar por tudo o que te fiz passar, mas queria pedir-te uma única coisa e prometo não atrapalhar mais a tua vida-peguei nas suas mãos às quais ela olhou e depois levantou os seus olhos até aos meus.

Ela esperou que eu falasse e, então, eu falei.

-Queria que me permitisses participar a partir de agora na vida deles-sorri fraco olhando para as nossas mãos ali umas nas outras-só os quero conhecer melhor e talvez ganhar a confiança deles e quem sabe um dia estabelecermos uma relação de pai e filhos.

-Já o devias de ter feito há muitos anos atrás Guilherme-ela afastou as suas mãos das minhas-nunca te proibi de o fazeres e não vai ser agora que o vou fazer-ela encolheu os ombros-és pai deles e estás no teu direito.

-Obrigado, muito obrigado-por impulso abracei-a e pude respirar todo o seu perfume, mas logo me afastei não querendo invadir o seu espaço-desculpa-passei as mãos pelos cabelos sorrindo-prometo não atrapalhar a tua vida.

-Eles ainda estão um pouco magoados com tudo isto, vai ser um pouco difícil eles voltarem ao que eram, mas acredito que eles ficarão muito contentes por entrares nas suas vidas-ela sorriu um pouco-já demonstraste ser um pai maravilhoso ao os teres acompanhado mesmo pelas sombras-ela assentiu sorrindo-mas vai com calma, eles estão magoados.

-Obrigado-sorri mais-eu prometo.

Olhei nos seus olhos marejados e sorri despedindo-me dela e logo a seguir saí de sua casa indo até à casa dos meus pais. Lara devia de estar lá a esta hora e eu só queria poder ir ao seu encontro e contar-lhe tudo e quem sabe, talvez ela me podesse perdoar.

Embora ela diga que não, eu sei que ela está muito desiludida e desapontada pelo que fiz à melhor amiga, mas ela não o admite, mas também não a censuro, só quero que ela perceba que eu estou disposto a remendar os meus erros do passado mesmo não podendo ficar com a mãe dos meus filhos.

Ensina-meOnde histórias criam vida. Descubra agora