CAP 25-Guilherme

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Fiquei contente quando Carolina aceitou almoçar connosco, não vou mentir, eu por momentos pensei que ela não fosse aceitar por minha causa, mas ela mais uma vez surpreendeu-me.

Entramos os quatro no meu carro e eu dei partida até um restaurante que ficava a alguns quilómetros do hospital e os miúdos pareciam estar entretidos e empolgados em fazerem travessuras lá atrás fazendo-me rir, mas logo tirei os olhos dos rapazes e olhei para uma Carolina muito pensativa no banco ao meu lado com o braço apoiado no vidro e com a cabeça pousada na mão.

-Está tudo bem?-parei num semáforo vermelho.

Os miúdos lá atrás fizeram silêncio e ficaram atentos à nossa conversa.

-Acho que sim-ela assentiu-só estou um pouco cansada da operação desta manhã.

-Nós ouvimos os gritos-Lourenço falou.

É, enquanto esperávamos Carolina no seu gabinete nós ouvimos os gritos de uma mulher vindos exatamente da sala de operações onde Carolina se encontrava. Confesso que por momentos pensei que eram os da Carolina, mas logo fiquei mais descansado quando reconheci não serem os dela, mas ao mesmo tempo aquilo deixou-me preocupado porque eu pensei que em operações fossem necessárias as anestesias.

-Ouviram?-Carolina falou séria.

Dei partida assim que o sinal passou a verde e poucos minutos depois chegamos ao restaurante.
Entramos e logo um garçom indicou-nos uma mesa para os quatro ao lado de uma grande janela que dava vista para um grande jardim bem cuidado.

-O que se passou dentro daquela sala?-Salvador perguntou.

-Ficamos preocupados contigo-foi a vez de Lourenço.

Carolina olhou para os filhos e depois para mim. Eu sabia que ela queria dizer alguma coisa, mas não sabia como o dizer.

Ela respirou fundo e olhou nos meus olhos.

-Descobrimos a cura para ferimentos da prata-o seu azul fundiu-se com o meu castanho e o meu coração acelarou ainda mais.

-Como isso é possível?-olhei incrédulo para ela-nós tentamos encontrar uma cura para a prata durante milhares de anos e nunca ninguém conseguiu chegar tão perto.

-O hospital é um dos melhores da alcateia é normal que tenha aprofundado as pesquisas-Lourenço falou.

-Então isso quer dizer que é o único hospital com uma cura?-foi a vez de Salvador.

-Não-Carolina olhou para os três-não foi o hospital que descobriu a cura nem muito menos ele possui a cura-ela negou.

-Então como...

-Fui eu e o Matt-olhei para aquela mulher ao meu lado.

Eu queria falar, mas nada me saía da boca. Como isso era possível? Durante séculos nós lobos tentamos encontrar e fazer uma cura e nunca o conseguimos e chega uma humana e descobre isso, assim fácil? Como era possível?

-Tu?-os miúdos olharam para a mãe.

-E o Matt-ela sorriu fraca.

-Como?-olhei para ela.

-Eu e o Matt cinco anos depois da universidade juntamo-nos para tentar fazer uma cura, mas sempre falhavamos e nada resultava até que este nosso último experimento que fizemos não o quisemos pôr em prática, mas aí apareceu aquela mulher no hospital que fora apanhada numa das armadilhas e descobrimos que estava contaminada de prata e aí arriscamos e testamos nela e...-ela olhou para mim-resultou finalmente.

O garçom veio com a nossa comida e depois dele se ir embora Carolina continuou.

-Só que ainda não é muito precisa-ela negou-ela não pode ser administrada com anestesia e provoca muita dor nos lobos deixando-os muito alterados e fora de si, mas tirando isso é cem por cento rápida e eficaz-sorri orgulhoso daquela mulher ao meu lado-consegue curar e fechar o ferimento em apenas dez segundos. É mais rápido que um lobo ao se curar que demora cerca de cinco a dez minutos a curar-se.

-Descobriste tudo isso?-Salvador perguntou olhando orgulhoso da mãe.

-Acho que estávamos a precisar de uma verdadeira humana na alcateia-Lourenço riu fazendo-nos rir e Carolina baixou a cabeça.

Carolina serviu-se do almoço e todos nós seguimos e fizemos os seus passos e servimo-nos também começando assim a comer.

-Como te surgiu essa ideia da cura?-olhei para ela curioso.

Os seus olhos direcionaram-se para os nossos filhos entretidos a comer à sua frente.

-Por causa dos miúdos-ela sorriu com carinho.

-Por nossa causa?-olharam para a mãe.

-Vocês tal como todos aqui são lobos e eu não podia correr o risco de me distrair por um segundo e que vos magoassem e eu não podesse fazer nada para vos ajudar-ela sorriu com os olhos marejados-não consigo nem pensar na ideia de vos perder.

Todos ouvimos as suas doces palavras e sorrimos orgulhosos.

Os miúdos levantaram-se e abraçaram a mãe que deixara escapar duas pequenas lágrimas, mas que rapidamente as limpou sorrindo para os filhos que se voltaram a sentar à mesa à sua frente.

-Sabes do impacto que vais ter quando mostrares a tua descoberta?-ela olhou para mim.

-Calculo-ela sorriu encolhendo os ombros.

-Tenho de marcar uma reunião com o conselho para tu apresentares a cura e para assim podermos produzir mais e em grandes quantidades-falei já imaginando esse momento-teremos de encher os hospitais com a cura e assim podermos curar todos os lobos feridos com a prata Carolina.

-O Matt também participou nisto, se não fosse com a sua ajuda eu nunca teria encontrado a cura-Carolina sorriu falando nesse Matt.

Eu não estou com ciúmes, só não gosto muito desse Matt e que ele ande sempre a rondar a minha companheira mesmo eu não a tendo marcado. Eu sempre a protegi durante todos estes anos e não vai ser um rafeiro qualquer que se vai atirar para cima da minha Carolina.

-Que seja-encolhi os ombros-ele também pode vir se quiser.

Olhei para Carolina que me olhava muito atenta e com uma cara de quem estava a desconfiar de alguma coisa.

Mulheres.

Assim que terminamos de almoçar, levei Carolina de volta para o hospital e de seguida os miúdos para a escola. Já eu fui até à empresa onde passei a maior parte do caminho a pensar na Carolina e na sua nova descoberta e eu não poderia estar mais orgulhoso da minha menina, bem ela já não é tão menina assim, pois ela já cresceu em tantos aspetos.

Sorri ao relembrar de todo o seu corpo e de todas as suas novas curvas que não vou mentir, cada vez me deixam mais louco, mas não vou pensar agora nisso. Eu não a posso ter de volta, ela não me deixa aproximar dela sequer, é como se ela tivesse criado uma barreira anti-Guilherme e eu não podesse nem conseguisse atravessar a sua barreira.

Não a culpo, eu compreendo-a perfeitamente e se ela quiser que nós sejamos apenas amigos eu irei aceitar prontamente.

Mas prometo que ninguém lhe irá tocar ou magoar ou eu não responsabilizar-me-ei pelos danos causados.

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