— Foi numa noite de sexta-feira onde eu e os meus garotos recebemos a pior notícia das nossas vidas. — Ele suspirou — Estávamos juntos, na sala, exatamente como Peter e a Via, assistindo pela décima vez o filme favorito do meu pequeno: Capitão América Guerra Civil. Emilly havia ligado para avisar que já estava retornando para casa - ela trabalhava como enfermeira. Chovia bastante naquela noite e eu me ofereci para ir buscá-la, mas ela não quis deixar os meninos sozinhos e me falou para aproveitar o momento com eles. Do seu trabalho para a nossa casa, geralmente, são vinte e cinco minutos. Já haviam se passado quarenta e cinco e nada da Emilly aparecer. Liguei uma. Duas. Três. Quatro vezes. Mas ela não atendia. Foi a partir daí que eu comecei a ficar preocupado. Quinze minutos depois o telefone residencial tocou. Meu corpo estremeceu, uma sensação ruim percorreu-o por inteiro. Levantei casualmente e fui atender. Perguntaram se era da casa do William Reed Parker e eu respondi que sim, afirmando ser o próprio. Houve um silêncio do outro lado da linha durante dois longos minutos até que a voz de uma jovem moça o quebrou. Com calmaria e mansidão, ela me entregou a pior notícia que o ser humano pode receber em sua vida: a morte de um ente querido. Ainda mais quando ele é o seu cônjuge, mãe dos seus filhos. Comecei a chorar freneticamente com o telefone na mão, lamentando aquele terrível ocorrido. Benjamin logo veio ao meu encontro, me abraçando e acariciando as minhas costas como uma forma de consolo. — Sorriu sem emoção — Peter, em seguida, se aproximou de nós. E mesmo sem entender nada, ele permaneceu ali, segurando a minha outra mão que estava livre. Busquei algum fôlego e tentei me recompor. Precisava ser forte por eles e para eles. Para mim também. Afastei-me um pouco do Benjamin e olhei fixamente em seus olhos que já estavam marejados, compartilhando a péssima notícia que eu havia acabado de receber: um homem bêbado, em alta velocidade, perdeu o controle do carro e colidiu bruscamente com o carro da Emilly, jogando-o para dentro de um estabelecimento 24 horas que havia ali próximo ao sinal de onde estavam. Benjamin piscou os olhos várias vezes, tentando acreditar no que eu acabara de falar. Os seus olhos enfraqueceram e ele caiu no chão, chorando amargamente. Lamentando por todas as vezes em que discutiu coma mãe e não ouviu os seus conselhos. Depois que a Emilly faleceu, Benjamin tornou-se outra pessoa. Ele não era mais aquele garoto doce, amigável, carinhoso e atencioso que costumava ser; agora ele era ríspido, duro, afastava todas as pessoas que queriam o seu bem, machucava os sentimentos alheios sem um pingo de receio, incluindo os próprios. — Havia pesar em suas palavras — Passou a tirar notas baixas na escola, começou a se relacionar com pessoas que são péssima influência para ele — com exceção de Caleb Wilson — e até chegou a namorar uma garota completamente conturbada, que o arrastava para um tipo de abismo emocional. Depois que a Emilly faleceu, Benjamin já não era mais o Benjamin Reed Parker. Ele era apenas um personagem escrito numa história muito ruim.
Quando Will relatou rapidamente sobre o acidente que, infelizmente, acarretou na morte da sua esposa, e mãe dos garotos, e o impacto significativo que essa perda teve na vida do Benjamin, eu pude começar a compreendê-lo melhor, afinal de contas, inevitavelmente, lembrei-me bastante do papai — impossível era não lembrar —, pois entendo perfeitamente o quão doloroso é perder alguém que tanto amamos e não poder fazer nada a respeito para que esse possa retornar às nossas vidas. Ao contrário de Emilly Reed, Gregory Lee Rose continua vivo em algum lugar desse país, provavelmente com uma nova família, uma nova rotina, uma nova realidade, novos amigos, novos sorrisos, novos abraços, novo aconchego, escondido daquelas pessoas que um dia o tanto amaram da forma mais genuína e pura que se possa imaginar e amar um ser humano. Mas é como costumam dizer por aí: o amor não cura tudo! Ele pode aliviar e servir como remédio para aquela ferida, mas ele não cura. E sabe por quê? Porque somos seres humanos, falhos, imperfeitos e insatisfeitos com os míseros e mínimos detalhes! Ninguém nunca será capaz de nos amar na medida que venhamos a desejar, pois no fundo sempre estaremos com uma sensação de que algo está em falta dentro de nós. Por isso, às vezes, ele não é suficiente para que alguém permaneça com as suas raízes presas em um determinado lugar. O amor, ele... Ele deve ser espontâneo e sincero, independente da relação. Deve haver uma palavrinha, a qual demorei um tempinho para aprender a pronunciar, chamada RECIPROCIDADE! Não adiantar forçar. Se forçar, não é amor. E se não é amor... O que será?
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FINE LINE: Entre Uma Linha Tênue | LIVRO #1
Lãng mạnAlgumas pessoas dizem que os melhores relacionamentos, sejam eles amorosos ou amigáveis, nascem a partir de momentos difíceis. Com Ben e Elena não foi diferente: eles se encontraram exatamente no meio da linha tênue entre o amor e a saudade. ♡